Esta cena merece um romance ou um poema. Se eu tivesse o talento do Manuel Alegre, em vez de "Cão como nós", começava aqui o primeiro parágrafo de "Gato como nós". Parabens ao fotógrafo e à senhora cujo nome já não lembro.
Está aberta a candidatura ao primeiro parágrafo de "Gato como nós", em Sobral de S. Miguel, mesmo para as gentes afectas à candidatura do Prof. Cavaco Silva.
Passara a manhã a espreitar os pequenos peixes sob a ponte, incapaz de apanhar algum, mas era apenas diversão, não lhe faltava comida em casa e quando desejava escolhia entre um rato e um pardal, que não faltavam ali, bem junto. Quanto a comida e dormida, era um gato feliz.
"Cão como nós" de Manuel Alegre começa assim: «Não era um cão como os outros...». O primeiro parágrafo do imperial gato sobralense também podia começar assim: Não era um gato como os outros...
Caro anónimo anterior, erraste. Esse é o primeiro parágrafo do 2. capítulo. O primeiro começa assim: (Sei que andas por aí, oiço os teus passos em certas noites...)
Força, ferruki. Venha daí uma história,mesmo na condição de anónimo. O gato merece. E a Dona Maria e as plantas e as flores e até a rua e aquele imenso pote, muito mais.
Que bonita foto, Parabéns ao fotógrafo. Não vou dizer um poema apenas vou recordar a minha 1ª redação de 50 anos atrás. O gato é um animal doméstico, porque vive junto do homem. É quadrúpede porque tem quatro patas. É mamífero porque se alimenta de leite e é peludo porque tem o corpo coberto de pêlos. Eu gosto muito do meu gato!!!!! Não me lembro do nome da Srª, mas sei que é mãe da Maria e Teresa do Aníbal. A toda a família desejo as maiores felicidades.
Há cinquenta anos, no Sobral, os gatos eram proletários, não valiam mais do que definições de Dicionário e tinham de fazer pela vida. Agora, aquele gato, que ali está, é um burguês, de comida certa. Tornou-se um intelectual pensador, um vaidoso que fita a câmara imperial com o orgulho do Ronaldo depois de marcar um golo. É a Dona que o observa. Ele fica assim sobranceiro pois sabe que é a companhia possível em soalheiro solitário. Há cinquenta anos, no ímpeto das crianças, rua abaixo e acima, não havia gato que parasse sossegado.
Nem gatas no mês de Janeiro. Gostei da prosa do último anónimo...se tivesse mais tempo,muito teria eu que contar sobre os gatos que conheci na minha infância e juventude. Até tive que atirar alguns filhotes à cheia da ribeira para desbastar a ninhadas que a minha gata(viveu 15 anos)paria e ninguém queria para criar.
Caro Virgílio, a realidade é sempre demasiado dura e há que fugir dela pelos caminhos da fantasia. Aos teus netos, quando te pedirem uma história, diz que esses gatos voaram sobre as cheias, pousaram sobre os álamos e nas noites de luar de Janeiro ainda dançam nos telhados de lousa da nossa aldeia. Se contares assim, a redacção deles na escola não repetirá a da Mina e se te mostrarem um desenho: verás um gato com asas e um artista.
...Era mais um daqueles invernos em que a neve aparecia damiúdo no Cabeço d'Ánave e a chuva que a derretia fazia galgar a ribeira que ao sair do seu leito apertado,lambia nos chães vizinhos (desde a Cabrieira até à Lage)tudo o que ali houvesse,desde de montes de botelhas a molhos de canões. Num desses anos a minha gata teve a maior ninhada de sempre - dez gatitos todos amarelos,filhos do camões segundo a cor do pêlo - e logo todos fêmeas! Como a bichana só tinha 6 tetas não tive outro remédio senão ensacar 4 crias e ir aventá-las pá ribeira.Só que a bichana seguiu-me os passos pelo miar dos filhotes e quando me viu lançar o saco para a rápida e ludra corrente-sinal de algum chão esborralhado-não exitou um segundo e atirou-se em vôo para a água. Dez metros mais abaixo, mãe e filhos mergulharam no poço do Ti Abrantes e momentos depois emergiram dos gorgulhões do mar de espuma e boiavam nos remoinhos em cima de um tronco carcomido,qual mini arca de Noé. O resto da estória fica para o serão...já falta pouco.
Caro Virgílio, vais ter muita resposta a dar à pequenada: botelhas, canões! Tu sabes e eu, apesar de anónimo, também sei. Demasiado realismo, prejudica,
pois é os autores das telenovelas costumam escolher vários finais para as suas estórias e eu podia dar várias também para os leitores escolherem,mas este final foi feliz.a Gata e os filhos salvaram-se mesmo. Quanto aos canões,botelhas, agua ludra,gurgolhões e esborralhar,fiz de propósito. Se não fosse assim os livros do Miguel Torga estavam ainda por vender.
O Virgílio tomou um bom exemplo, Miguel Torga. Porém, em Adolfo Rocha, até o nome literário, Miguel Torga, é Símbólico. Caro Virgílio, neste âmbito, a "Cheia e a Gata", curiosamente sem nome, que te marcaram em miúdo, valem, de facto, um romance. Eu escrevê-lo-ia na perspectiva da gata, mas com nome. O pai dos gatinhos tinha nome, por que não a gata? Chama-lhe Violante ou dá-lhe o nome de uma qualquer apaixonada de Camões. Obviamente, o talento precisa de trabalho. Só com aquele e este se sobe ao domínio do artístico.
Decididamente, odiava a água. A sua ansiedade aumentava quando aquela caía do céu a rodos e fazia engrossar a ribeira onde parara parte do verão à espreita de um qualquer divertimento embora sempre evitando molhar o lustroso pelo branco. O Camões andava por ali, mas não lhe era fiel. Conhecia metade das gatas da freguesia e à outra metade arrastava a cauda. Violante...
O Camões,apesar de só ter uma vista,via e seduzia mais gatas que todos os rivais das ruas e quelhas da vizinhança. assediava especialmente as gatinhas mais novas,por isso era frequentemente ameaçado com juras de castração e escorraçado à vassourada de algumas casas.Porêm,quase sempre escapava ileso.Mas num dia de verão-como não havia gatas em cio-resolveu assaltar uma queijeira,de quato prateleiras recheada de queijos frescos e curados.Chegaram das escola os filhos da pastora e apanhando o Camões com a boca na botija...surpreendido, deu um grande pinote e que quase escapava ileso.Só que nesse momento, foi fechada a porta de repente e o Camões ficou entalado,pelas patas trazeiras com duas grandes "nózes" entre elas.Foi-lhe dada uma torcidela e o Camões deu uma miadela que se ouviu na casa do lado. Virgílio
Naquele tempo, não havia festas e carícias como há hoje para os gatos. Só nas redacções eram animais domésticos. Quase sempre, as portas das habitações se lhes fechavam e nem a rua lhes era agradável, constantemente assolados por cães e crianças. A vida de gato só tinha sossego noite adentro. Então eram reis, músicos e malandros. Brincavam mesmo às eleições e houve uma noite em que o zarolho do Camões foi rei e a lustrosa Violante rainha.
...Era uma gata mimada por todos e para apanhar ratos não havia igual. Mesmo que estivesse enroscada ao borralho da lareira, bastava ouvir no sótão o mais pequeno ruído e lá ia ela dar caça aos ratos que de divertiam em correrias por entre montes de batatas e réstias de cebolas. Num daqueles Invernos,pariu dentro do velho safaite da costura a maior ninhada de que havia memória. Com tanta bocas para alimentar e a caça a rarear, não tinha outro remédio senão passar horas emboscada nos telhados vizinhos à espera que os pardais por ali passassem. No Sábado de Aleluia, desencaminhada por más companhias e junto com elas a Bichana deu sumisso a uma alcofa cheiinha de filhózes.O castigo demorou um pouco a chegar mas no pino do Verão já estava desterrada no Carvalhal.Dava pena ver aquele felino(a três km de casa)no meio das moitas dando saltos atrás dos gafanhotos. De vez enquando descobria num tojo ou moiteira um ninho de cartaxo ou migengra,e tivesse ele ovos ou filhotes o banquete era certo.
Naquele tempo, a Violante caçava tantos ratos como o Eusébio marcava golos. Mas ela tinha os seus segredos: perto de curral de porco havia sempre ninhos de ratos, mas também os encontrava em toda a parte em chão cultivado. Agradava-lhe particularmente seguir as cavas para as batatas de sequeiro e depois as lavras dos meses primaveris e não precisava ir muito longe. Um espírito mais generoso, lnçava-lhe um côdea ou um coirato, queijo, só o que furtava. Depois, divertia-se por entre troços de couves com aqueles seres vivos que não podiam apreciar a luz. Não percebia que raio de vida podia ser a de uma toupeira. Levar um pontapé à porta de casa suportava-se, quando a seguir podia olhar o céu e as estrelas e aquele grande queijo que ora crescia ora minguava,mesmo que nada lhe coubesse, enchia-lhe de saliva a boca. Porventura, o malvado Camões quando não a procurava para dar vazão ao cio, enchia a pança de Lua.
Em versão futura, do conto ao desafio, há que melhorar a pontuação, caro anónimo. Faltam aí umas vírgulas, por exemplo: «o malvado Camões, quando não a procurava para dar vazão ao cio, enchia a pança de Lua.
Quando chegou derreado, os bigodes a cheirarem a queijo, decerto, o Camões tinha comido a Lua e caíra mal em salto jamais conseguido por ela, Violante. Pudera, não havia ano que o malvado a não engrossasse de futuras vítimas das mãos reguladoras das Neves e das águas das cheias. Não era fácil ter sentimentos neste miserável mundo.
Vale de lágrimas, ouvira ela, lustrosa Violante, a tia Benta a rezar a Salvé-Rainha. Termino aqui, este conto pela minha parte, triste anónimo, caro Virgílio, até a uma próxima ideia.
31 comentários:
Ternura na dona e no gatinho, bonito!
Esta cena merece um romance ou um poema. Se eu tivesse o talento do Manuel Alegre, em vez de "Cão como nós", começava aqui o primeiro parágrafo de "Gato como nós".
Parabens ao fotógrafo e à senhora cujo nome já não lembro.
Está aberta a candidatura ao primeiro parágrafo de "Gato como nós", em Sobral de S. Miguel, mesmo para as gentes afectas à candidatura do Prof. Cavaco Silva.
O mundo sobralense na perspectiva daquele gato. Alguém sabe o nome do gato ou inventamos um nome qualquer?
Passara a manhã a espreitar os pequenos peixes sob a ponte, incapaz de apanhar algum, mas era apenas diversão, não lhe faltava comida em casa e quando desejava escolhia entre um rato e um pardal, que não faltavam ali, bem junto. Quanto a comida e dormida, era um gato feliz.
(serve assim, vale como primeiro parágrafo?)
"Cão como nós" de Manuel Alegre começa assim:
«Não era um cão como os outros...».
O primeiro parágrafo do imperial gato sobralense também podia começar assim:
Não era um gato como os outros...
Caro anónimo anterior, erraste.
Esse é o primeiro parágrafo do 2. capítulo. O primeiro começa assim:
(Sei que andas por aí, oiço os teus passos em certas noites...)
Serve para o gato, o poema com que termina Manuel Alegra, mas aqui no presente:
«Como nós és altivo
fiel mas como nós
desobediente.
Gostas de estar connosco a sós
mas não cativo
e sempre presente-ausente
como nós.
...
Último anónimo.
Não quis escrever Manuel Alegra, Mas Manuel Alegre. O teu perdão, Poeta.
Além da Mariita, os anónimos. Uma tristeza!
Adoro a Foto ... e o resto são histórias....
Tens razão, ferruki. Honra-nos com uma dessas histórias.
Força, ferruki. Venha daí uma história,mesmo na condição de anónimo. O gato merece. E a Dona Maria e as plantas e as flores e até a rua e aquele imenso pote, muito mais.
Que bonita foto,
Parabéns ao fotógrafo. Não vou dizer um poema apenas vou recordar a minha 1ª redação de 50 anos atrás. O gato é um animal doméstico, porque vive junto do homem. É quadrúpede porque tem quatro patas. É mamífero porque se alimenta de leite e é peludo porque tem o corpo coberto de pêlos. Eu gosto muito do meu gato!!!!! Não me lembro do nome da Srª, mas sei que é mãe da Maria e Teresa do Aníbal. A toda a família desejo as maiores felicidades.
Há cinquenta anos, no Sobral, os gatos eram proletários, não valiam mais do que definições de Dicionário e tinham de fazer pela vida. Agora, aquele gato, que ali está, é um burguês, de comida certa. Tornou-se um intelectual pensador, um vaidoso que fita a câmara imperial com o orgulho do Ronaldo depois de marcar um golo. É a Dona que o observa. Ele fica assim sobranceiro pois sabe que é a companhia possível em soalheiro solitário. Há cinquenta anos, no ímpeto das crianças, rua abaixo e acima, não havia gato que parasse sossegado.
Nem gatas no mês de Janeiro.
Gostei da prosa do último anónimo...se tivesse mais tempo,muito teria eu que contar sobre os gatos que conheci na minha infância e juventude. Até tive que atirar alguns filhotes à cheia da ribeira para desbastar a ninhadas que a minha gata(viveu 15 anos)paria e ninguém queria para criar.
Caro Virgílio, a realidade é sempre demasiado dura e há que fugir dela pelos caminhos da fantasia. Aos teus netos, quando te pedirem uma história, diz que esses gatos voaram sobre as cheias, pousaram sobre os álamos e nas noites de luar de Janeiro ainda dançam nos telhados de lousa da nossa aldeia. Se contares assim, a redacção deles na escola não repetirá a da Mina e se te mostrarem um desenho: verás um gato com asas e um artista.
...Era mais um daqueles invernos em que a neve aparecia damiúdo no Cabeço d'Ánave e a chuva que a derretia fazia galgar a ribeira que ao sair do seu leito apertado,lambia nos chães vizinhos (desde a Cabrieira até à Lage)tudo o que ali houvesse,desde de montes de botelhas a molhos de canões.
Num desses anos a minha gata teve a maior ninhada de sempre - dez gatitos todos amarelos,filhos do camões segundo a cor do pêlo - e logo todos fêmeas!
Como a bichana só tinha 6 tetas não tive outro remédio senão ensacar 4 crias e ir aventá-las pá ribeira.Só que a bichana seguiu-me os passos pelo miar dos filhotes e quando me viu lançar o saco para a rápida e ludra corrente-sinal de algum chão esborralhado-não exitou um segundo e atirou-se em vôo para a água.
Dez metros mais abaixo, mãe e filhos mergulharam no poço do Ti Abrantes e momentos depois emergiram dos gorgulhões do mar de espuma e boiavam nos remoinhos em cima de um tronco carcomido,qual mini arca de Noé.
O resto da estória fica para o serão...já falta pouco.
...as tetas eram oito,mas 2 não tinham leite.
Caro Virgílio, vais ter muita resposta a dar à pequenada: botelhas, canões! Tu sabes e eu, apesar de anónimo, também sei. Demasiado realismo, prejudica,
pois é os autores das telenovelas costumam escolher vários finais para as suas estórias e eu podia dar várias também para os leitores escolherem,mas este final foi feliz.a Gata e os filhos salvaram-se mesmo.
Quanto aos canões,botelhas, agua ludra,gurgolhões e esborralhar,fiz de propósito.
Se não fosse assim os livros do Miguel Torga estavam ainda por vender.
Haha, contos para contar tem muitos o Ti Virgílio... agora os netos é que vão demorar a chegar loool
O Virgílio tomou um bom exemplo, Miguel Torga. Porém, em Adolfo Rocha, até o nome literário, Miguel Torga, é Símbólico. Caro Virgílio, neste âmbito, a "Cheia e a Gata", curiosamente sem nome, que te marcaram em miúdo, valem, de facto, um romance. Eu escrevê-lo-ia na perspectiva da gata, mas com nome. O pai dos gatinhos tinha nome, por que não a gata? Chama-lhe Violante ou dá-lhe o nome de uma qualquer apaixonada de Camões.
Obviamente, o talento precisa de trabalho. Só com aquele e este se sobe ao domínio do artístico.
Decididamente, odiava a água. A sua ansiedade aumentava quando aquela caía do céu a rodos e fazia engrossar a ribeira onde parara parte do verão à espreita de um qualquer divertimento embora sempre evitando molhar o lustroso pelo branco. O Camões andava por ali, mas não lhe era fiel. Conhecia metade das gatas da freguesia e à outra metade arrastava a cauda. Violante...
O Camões,apesar de só ter uma vista,via e seduzia mais gatas que todos os rivais das ruas e quelhas da vizinhança.
assediava especialmente as gatinhas mais novas,por isso era frequentemente ameaçado com juras de castração e escorraçado à vassourada de algumas casas.Porêm,quase sempre escapava ileso.Mas num dia de verão-como não havia gatas em cio-resolveu assaltar uma queijeira,de quato prateleiras recheada de queijos frescos e curados.Chegaram das escola os filhos da pastora e apanhando o Camões com a boca na botija...surpreendido, deu um grande pinote e que quase escapava ileso.Só que nesse momento, foi fechada a porta de repente e o Camões ficou entalado,pelas patas trazeiras com duas grandes "nózes" entre elas.Foi-lhe dada uma torcidela e o Camões deu uma miadela que se ouviu na casa do lado.
Virgílio
Naquele tempo, não havia festas e carícias como há hoje para os gatos. Só nas redacções eram animais domésticos. Quase sempre, as portas das habitações se lhes fechavam e nem a rua lhes era agradável, constantemente assolados por cães e crianças. A vida de gato só tinha sossego noite adentro. Então eram reis, músicos e malandros. Brincavam mesmo às eleições e houve uma noite em que o zarolho do Camões foi rei e a lustrosa Violante rainha.
...Era uma gata mimada por todos e para apanhar ratos não havia igual. Mesmo que estivesse enroscada ao borralho da lareira, bastava ouvir no sótão o mais pequeno ruído e lá ia ela dar caça aos ratos que de divertiam em correrias por entre montes de batatas e réstias de cebolas.
Num daqueles Invernos,pariu dentro do velho safaite da costura a maior ninhada de que havia memória. Com tanta bocas para alimentar e a caça a rarear, não tinha outro remédio senão passar horas emboscada nos telhados vizinhos à espera que os pardais por ali passassem.
No Sábado de Aleluia, desencaminhada por más companhias e junto com elas a Bichana deu sumisso a uma alcofa cheiinha de filhózes.O castigo demorou um pouco a chegar mas no pino do Verão já estava desterrada no Carvalhal.Dava pena ver aquele felino(a três km de casa)no meio das moitas dando saltos atrás dos gafanhotos.
De vez enquando descobria num tojo ou moiteira um ninho de cartaxo ou migengra,e tivesse ele ovos ou filhotes o banquete era certo.
Naquele tempo, a Violante caçava tantos ratos como o Eusébio marcava golos. Mas ela tinha os seus segredos: perto de curral de porco havia sempre ninhos de ratos, mas também os encontrava em toda a parte em chão cultivado. Agradava-lhe particularmente seguir as cavas para as batatas de sequeiro e depois as lavras dos meses primaveris e não precisava ir muito longe. Um espírito mais generoso, lnçava-lhe um côdea ou um coirato, queijo, só o que furtava. Depois, divertia-se por entre troços de couves com aqueles seres vivos que não podiam apreciar a luz. Não percebia que raio de vida podia ser a de uma toupeira. Levar um pontapé à porta de casa suportava-se, quando a seguir podia olhar o céu e as estrelas e aquele grande queijo que ora crescia ora minguava,mesmo que nada lhe coubesse, enchia-lhe de saliva a boca. Porventura, o malvado Camões quando não a procurava para dar vazão ao cio, enchia a pança de Lua.
Em versão futura, do conto ao desafio, há que melhorar a pontuação, caro anónimo. Faltam aí umas vírgulas, por exemplo: «o malvado Camões, quando não a procurava para dar vazão ao cio, enchia a pança de Lua.
Quando chegou derreado, os bigodes a cheirarem a queijo, decerto, o Camões tinha comido a Lua e caíra mal em salto jamais conseguido por ela, Violante. Pudera, não havia ano que o malvado a não engrossasse de futuras vítimas das mãos reguladoras das Neves e das águas das cheias. Não era fácil ter sentimentos neste miserável mundo.
Vale de lágrimas, ouvira ela, lustrosa Violante, a tia Benta a rezar a Salvé-Rainha. Termino aqui, este conto pela minha parte, triste anónimo, caro Virgílio, até a uma próxima ideia.
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