segunda-feira, dezembro 12, 2011

Ecce Homo/ Eis o Homem – João Victor da Silva Brandão

Por Sobralfilho



"A documentação que se segue aguardava no arquivo do “Nasci Aqui” uma oportunidade para ver a luz do dia. Sabendo-me, no entanto, um leigo na matéria e em face da necessidade de ter de consultar outras fontes ia continuadamente adiando a publicação dum artigo alusivo a João Brandão. Desde sempre ouvi as “histórias” das façanhas do homem a quem o povo anónimo lhe dedicou várias canções (cantadas no Sobral com a “música” da canção “Meninas vamos ao vira, ai que o via é coisa boa, eu já vi dançar o vira, ai às meninas de Lisboa…” que terão contribuído para branquear a sua acção guerrilheira ou bandoleira. Histórias essas que ouvia embevecido desde que me contaram que um meu tio-avô, João Pinto, pai do Ti-João Reinaldo, lhe tinha dado uma valente sova na Romaria das Senhora das Preces. E que em vez de ficar a odiá-lo, a sova terá sido motivo para uma longa amizade, que Brandão aproveitou para se esconder, sempre que se justificava, nas propriedades de João Pinto, no Sobral, Corga-da-ursa e Feiras. Sendo certo que o Ti-Reinaldo tinha o livro que narrava todo o processo relativo ao julgamento de Brandão (que o próprio me emprestou) e terá tido também uma espingarda cujo cano finalizava em boca-de-sino. Nestas circunstâncias, para homenagear a chegada a este Blogue do Sobral, de homens como GS, ASP, AAB e outros Anónimos, de cujos saberes muito poderão beneficiar os conteúdos futuros do Blogue, cedo a documentação seguinte que mais não é que uma publicação inserida na Edição de Sexta-Feira, 21de Março de 1941, no Jornal “A Comarca de Arganil” que alude a uma outra publicação no Jornal “O Século” de 9 de Março de 1941, onde se pode ler uma carta do próprio João Brandão."




29 comentários:

sobralfilho disse...

Dúvidas: Considerando o ano de nascimento de João Brandão (1825) e pressupondo que João Pinto teria mais ou menos a mesma idade, não poderia ser pai, mas avô do Ti-João Reinaldo, será assim?

Anónimo disse...

Foi da boca do Ti Reinaldo, meu primo, que, nos serões que habitualmente passava em minha casa, ouvia as histórias (porventura fantasiosas) do famoso João Brandão, contadas, além do mais, a partir de um livro que ele tinha e que se chamava, se não me engano, "Erros Judiciários".
Mudando de azimute, era esse mesmo Ti Reinaldo que nos ia informando sobre o que ouvia na BBC (em português) ou na Rádio Liberdade (da Argélia), sobre a Guerra Colonial e outros temas que a Censura proibia.

Anónimo disse...

Do blog travancacomhistoria.blogspot.com tirei o seguinte trecho relativo ao "famoso João Brandão":
"O Padre Portugal era procurador do Visconde de Almeidinha. Tinha vindo a negócios com o fim de vender as propriedades de que o Visconde era possuidor na zona de Várzea de Candosa. Ficou hospedado numa casa do Visconde onde residia também uma “amiga “ dele – Dona Rosa Cândida de Nazareth e Oliveira. Segundo relatos da época, terá sido pelo mau comportamento da dita D. Rosa que o Visconde se apressou em vender todas as suas propriedades na região.

João Brandão terá sido um dos principais compradores, tendo sido mais tarde acusado do roubo e assassinato do dito procurador. Desta condenação, que depois se veio a provar injusta, perpetuada pelos seus inimigos políticos, dado que os verdadeiros assassinos foram a própria Dona Rosa e um cúmplice seu amante, que fazia parte do grupo do João Brandão, “O Faca do Mato” – José de Matos, resultou a extradição do João Brandão para a África Oriental com a pena de trabalhos públicos para toda a vida.

Todavia gozou durante certo tempo dum estatuto especial, tendo unicamente de se apresentar regularmente às autoridades não podendo apenas ter bens em seu nome. Conseguiu também rodear essa questão, pois viveu o resto da sua vida em Benguela, dono de uma grande propriedade açucareira, onde produzia aguardente, até ser assassinado pelos seus inimigos da metrópole.
Efectivamente, a 17 de Maio de 1880 chega à província um novo governador, o conselheiro João das Neves Ferreira Júnior, que traria ordens para o eliminar de vez, o que de facto aconteceu nesse ano, a 17 de Novembro.

Após a sua morte ficaram, as canções, as amantes, os esconderijos, as histórias exageradas, a lenda…

Curiosidade

A prisão de João Brandão no dia 7 de Maio de 1866, na casa do pároco de Lourosa , foi levada a cabo pelo Administrador de Oliveira do Hospital, Luís Pereira de Abranches, junto com cabos de polícia e regedores das freguesias da Bobadela e de Travanca de Lagos.

Amantes

Entre outras terras, também Travanca reclama uma amante de João Brandão. Segundo a lenda era por trás da casita das campas, no largo da igreja, que João se escondia muitas noites.

Mitos (contestado por Historiadores)

I Aos doze anos comete o seu primeiro homicídio, na pessoa de um pastor de Gouveia, que mataria como mero exercício de pontaria.

II Repartidor público da riqueza, dizendo que roubava aos ricos para dar aos pobres.

Canção 1

Lá vai o João Brandão
A tocar o violão
Casaca da moda na mão
E atão! E atão! E atão!
Trai trai, olaré, trai trai
Era a moda do meu pai
Oh pastor, lavrador, enganador
rinhinhi, rinhinhó, á-á-á, ó-ó-ó

Canção 2

Já lá vais para o degredo
Adeus ó João Brandão
A morte d’aquele padre
Foi a tua perdição."

Anónimo disse...

De João Alves das Neves, extraído de www.portalentretextos.com.br

"Disse Fernando Pessoa que “o mito é o nada que é tudo” e esta definição pode aplicar-se à lenda que surgiu em torno da vida de João Victor da Silva Brandão (1825-1880).
Na verdade, o mito surge e alastra a partir de uma “história de fundo lendário” que se desenvolve desde criança e por vezes vai até à idade adulta, conforme sustenta Fernando Ilharco: “a tendência constitucional para a mentira, para forjar acontecimentos imaginários (fabulação) e para simular estados orgânicos anormais simulados. É uma disposição muitas vezes hereditária e mais frequente na mulher”
Entretanto, deixemos o mito e recordemos que João Victor nasceu e cresceu num ambiente que vai desde a participação do seu pai nas lutas liberais que assinalaram o cerco do Porto até à actividade guerrilheira travada pelos beirões (que na maioria dos casos terão sido contrários ao autoritarismo do Rei D. Miguel). E se ultrapassarmos o tempo, teremos de convir que havia guerrilheiros de ambos os lados – e não de um só! Não obstante, a lenda formou-se preferencialmente em torno de João Brandão, como se os tiros não fossem também disparados pelos miguelistas, apesar de serem conhecidas às violências desferidas contra inúmeros liberais, de acordo com os testemunhos daqueles que sobreviveram à tragédia que abalou quase toda a região, com destaque para a Beira-Serra. E da profusa documentação em jornais e revistas destacamos agora o volume “Apontamentos da vida de João Brandão por ele escritos nas prisões do Limoeiro envolvendo a História da Beira desde 1834”
Para lá das informações do autor, que descreve os acontecimentos que viveu de perto, salientamos a “Relação dos ferimentos e mortes praticados na Província da Beira, desde 1834”: foram 235 mortos, incluindo 21 abatidos pelas forças da ordem (militares e guardas civis), além de 13 sacerdotes e seus familiares, bem como 6 assassinatos atribuídos à guerrilha de Agostinho Vaz Pato e de muitos outros pequenos grupos e pessoas, nalguns casos identificados. De um lado, aponta-se a cooperação das “forças da ordem” absolutistas e, paralelamente, a violência contra os padres, vários dos quais estiveram presos em virtude das suas ideias liberais.
Deduz-se de todos estes esclarecimentos que as intervenções de João Brandão não foram as de um bandido vulgar, mas, sim, as de um político militante, que seguiu o liberalismo de seu Pai, combatendo sempre o autoritarismo absolutista; Se cometeu os excessos dos guerrilheiros, os dos miguelistas não foram menores, embora “o mito que é tudo” haja resvalado para o defensor da Rainha (que nunca deixou de apoiar os beirões liberais).
Segundo revela o professor José Manuel Sobral, que prefaciou a 2ª.edição dos Apontamentos da vida de João Brandão”, o “mito” que beneficiou os adversários de João Victor da Silva Brandão era romântico, porém falso, mas vingou ao ponto de se transformar numa espécie de “hino” dos cantores cegos e provincianos de Lisboa e de aldeias, anunciando os “crimes” de J. B. e a sentença injusta do tribunal de Tábua que o condenou ao degredo em Angola (o júri era formado por um Vaz Pato e por diversos inimigos políticos). E o mito virou lenda, que também nós escutámos em criança, sem entender as origens da tragédia da guerra civil da Beira-Serra).

Anónimo disse...

Continuação:
Muito mais é preciso contar e documentar acerca do liberal indomado de Midões. Insisto neste ponto para honrar a memória do meu avô paterno (que era “midoense” e nada teve com a ideologia de João Brandão), mas insurjo-me contra o julgamento inadmissível de quem o condenou ao degredo, sabendo que até em Angola foi ilegalmente perseguido e roubado, à sombra de um absolutismo ditatorial. Assassinado covardemente por um militar criminoso, depois de morto degolaram-no e mandaram a cabeça ao governador ignóbil...
Acusado pelos miguelistas retardados, os povos de Catumbela (entre o Lobito e Benguela) ergueram-lhe um rústico monumento do jardim público, agradecendo não só a fundação da importante Companhia Agrícola Cassequel, mas também as condições de trabalho dos seus colaboradores. Há cerca de trinta anos visitei esse jardim público – com o Padre e jornalista José Vicente - e fui agradavelmente surpreendido com a existência do monumento em memória de João Brandão: havia um resguardo de vidro com dezenas de cartas de admiradores anónimos exaltando as qualidades de trabalho e de apoio recebidas do benfeitor de Midões".

Anónimo disse...

A História é sobretudo reflexão sobre as fontes e síntese, a ciência da mudança e da identificação das grandes permanências. Planando, sobre estes textos acima, honra aos seus autores, alguns estão mesmo bem escritos, vamos a algumas ideias, que de acordo a Heguel, também se revelam na História, afinal como Deus:
Durante os períodos revolucionários, de um lado e de outro, há os que se portam bem e os que se portam mal. Sobre os que se portam bem, lembremos Alexandre Herculano, que se portou particularmente bem e sobre o qual escrevi, há trinta anos, está on-line a minha "Perspectiva Liberal de Alexandre Herculano" e também Almeida Garrett. Decerto, mesmo entre os brandões, houve quem se portasse bem, citei alguns no meu "O Parlamento e a Imprensa Periódica Beirã", todavia estes outros, à volta do justiceiro João Brandão, representam, de forma mítica, os oportunistas, que aproveitam os pertíodos de transição para enriquecimento fácil e evidência pública com a mudança de regime, um pouco os barões, que se formaram por toda a Beira e foram os primeiros candidadatos, por exemplo, aos bens dos conventos e da igreja em geral. Quanto à condenação do João Brandão, o degredo para África, representa uma grande permanência da História Portuguesa e que facilitou por exemplo, mais cedo do que em outros países, a abolição da pena de morte em Portugal, e auxiliou na colonização. Desde muito cedo, o degredo para África se transformou em expediente da Justiça Portuguesa: Os mais fortes resistiam, os menos fortes lá morriam com o mal da terra "a malária". O degredo para S. Tomé significava frequentemente condenação à morte e percebemos porquê. Para a Costa de África, Angola ou Moçambique, nem tanto. Esta grande permanência chegou aos nossos dias. Um dos últimos a cumprir degredo em África foi Mário Soares. Dos primeiros foram os filhos dos judeus que a Coroa Portuguesa para lá enviou com o tio de Pero Vaz de Caminha e lá morriam nos finais do século V. De facto, a História é composta de muitas violências e nós, que amamos a paz, ao fazê-la com a frieza que é necessária, não deixamos de nos comover e detestar os violentos por mais auras de glória que tenham deixado e não citamos nomes para não nos chamarem iconoclastas.
Obrigado, pelo teu testemunho, caro Sobral Filho e pelas "boas vindas em que me incluis". Eu venho aqui com frequência, pois, como sabes, amo, como ninguém, a nossa TERRA.
asp

Anónimo disse...

A História é sobretudo reflexão sobre as fontes e síntese, a ciência da mudança e da identificação das grandes permanências. Planando, sobre estes textos acima, honra aos seus autores, alguns estão mesmo bem escritos, vamos a algumas ideias, que de acordo a Heguel, também se revelam na História, afinal como Deus:
Durante os períodos revolucionários, de um lado e de outro, há os que se portam bem e os que se portam mal. Sobre os que se portam bem, lembremos Alexandre Herculano, que se portou particularmente bem e sobre o qual escrevi, há trinta anos, está on-line a minha "Perspectiva Liberal de Alexandre Herculano" e também Almeida Garrett. Decerto, mesmo entre os brandões, houve quem se portasse bem, citei alguns no meu "O Parlamento e a Imprensa Periódica Beirã", todavia estes outros, à volta do justiceiro João Brandão, representam, de forma mítica, os oportunistas, que aproveitam os pertíodos de transição para enriquecimento fácil e evidência pública com a mudança de regime, um pouco os barões, que se formaram por toda a Beira e foram os primeiros candidadatos, por exemplo, aos bens dos conventos e da igreja em geral. Quanto à condenação do João Brandão, o degredo para África, representa uma grande permanência da História Portuguesa e que facilitou por exemplo, mais cedo do que em outros países, a abolição da pena de morte em Portugal, e auxiliou na colonização. Desde muito cedo, o degredo para África se transformou em expediente da Justiça Portuguesa: Os mais fortes resistiam, os menos fortes lá morriam com o mal da terra "a malária". O degredo para S. Tomé significava frequentemente condenação à morte e percebemos porquê. Para a Costa de África, Angola ou Moçambique, nem tanto. Esta grande permanência chegou aos nossos dias. Um dos últimos a cumprir degredo em África foi Mário Soares. Dos primeiros foram os filhos dos judeus que a Coroa Portuguesa para lá enviou com o tio de Pero Vaz de Caminha e lá morriam nos finais do século V. De facto, a História é composta de muitas violências e nós, que amamos a paz, ao fazê-la com a frieza que é necessária, não deixamos de nos comover e detestar os violentos por mais auras de glória que tenham deixado e não citamos nomes para não nos chamarem iconoclastas.
Obrigado, pelo teu testemunho, caro Sobral Filho e pelas "boas vindas em que me incluis". Eu venho aqui com frequência, pois, como sabes, amo, como ninguém, a nossa TERRA.
asp

Anónimo disse...

João Brandão, se o partido em que investiu não perdesse as eleições, logo aproveitado pelos inimigos político para o destruir (ver Grandes Dramas Judiciários de Sousa Costa onde descreve seu julgamento) seria com certeza mais um dos inúmeros barões da época.
O mesmo autor, em Páginas de Sangue faz um relato muito aprofundado dos crimes cometidos na Beira Serra nesse período.
Como curiosidade o único filho que deixou, que se conheça, João Augusto Brandão, Barbeiro de Baloquinhas, era tido como muito competente e uma pessoa muito estimada.
GS

Anónimo disse...

Para os mais jovens, digo que barbeiro competente significa um pouco mais do que saber fazer barbas ou cortar cabelos. Em terras do fim do mundo, como as nossas, cumpriam a missão médica, cirúrgica, farmacêutica e de enfermagem etc., que chegou aos nossos dias. Nós tivemos alguns grandes nomes que não é preciso citar.
asp

Anónimo disse...

Claro que muita gente desconhece a acção dos barbeiros de antigamente. Muitos tinham competência reconhecida por médicos encartados. Primitivamente eram cirurgiões. Aliás, como sucedeu com Cosme Pinto de Abranches/Abrantes - assinava das duas maneiras-, nascido no Sobral, barbeiro em Aldeia Nova do Cabo, teve carta de Barbeiro/cirurgião passada pelo cirurgião-mor do Reino, após 4 anos de estudo com prestações de provas, isto no tempo de D. João V.
GS

famel disse...

E usavam anestesia??? É que neste momento só me vem à cabeça uma imagem: cabeças partidas suturadas se "picas"!!!!
Devia ser duro ser médico sem os recursos e meios dos dias de hoje.

Anónimo disse...

Já tinham seus instrumentos. Em 1988, nas festas do centenário, foram expostos alguns na exposição feita nas escolas. Para suturar as feridas usava-se um pequeno ferro de passar a roupa mas cujo interior era preenchido com uma cunha de ferro em brasa. Anestesia, nada, talvez um murro na cabeça. Também foram expostos livros de medicina, alguns de autores extrangeiros. Dentro do possível informavam-se.
Nada agradável ser médico ... ou doente
GS

Anónimo disse...

Caro GS,
Matérias bem complexas e de muita sabedoria em que se envolve com persistência que louvo. Tal como em outras matérias, na Medicina, na Cirurgia, sempre houve um sem número de intervenientes, não habilitados, interesseiros ou curiosos a adivinhar e a cometer erros enormes pois muitos, no caso da Medicina, são de morte. Desde sempre o Poder, também em Portugal, quis regular a situação. D. Sancho I criou bolsas de estudo para estudantes no estrangeiro, D. Dinis criou a Universidade, com a Faculdade de Física/Medicina logo na estrutura inicial, D. João I sujeitou o exercício médico à aprovação do físico-mor do Reino, D. Afonso V regulamentou as actividades médica, cirúrgica e farmacêutica dos boticários etc. até à situação actual em que estes profissionais estão enquadrados na sua Ordem, afinal como outros para qualificar os saberes e os actos que praticam. Também, desde sempre, houve preocupação em limitar a dor e sempre foi conhecido um sem número de mezinhas para o efeito, obviamente, desde o copo de aguardente até ao ópio. É fastidioso e sem propósito desenvolver a História da doença e da saúde aqui. Quem quiser pode seguir a história da Medicina em textos de fácil acesso do Prof.Luís Graça
http://www.ensp.unl.pt/lgraca/textos179.html
Médico Aposentado

Anónimo disse...

Caro Médico aposentado

Noto um ironia despropositada nas suas palavras. Ignoro quais os assuntos complexos em que me envolvo.
Não sou espaciaista em nada, nem quiz falar em desprimor dos médicos. Não tendo aqui comigo o livro que trata da biografia do barbeiro de Baloquinhas sirvo-me de uma página da Net que justifica alguma das minhas palavras.

A medicina é um assunto sério e sofro no corpo os efeitos do modo como ela é aplicada, e não por curiosos. Felizmente também há muitos bons profissionais na medicina.
Pena é que fiquem/ficassem pela cidade deixando os pobres aldeões ao cuidado desses barbeiros, bruxas e companhia que,curiosos e interesseiros, faziam o que os desinterassados seguidores de Galeno não faziam.
Quanto ao modo como os "barbeiros" eram nomeados no tempo de D. João V, de que falei atrás, a carta de nomeação de Cosme Pinto de Abranches é clara.
Lógico que havia modos de atenuar a dor. O murro na cabeça não passou de humor.
"O Barbeiro de Baloquinhas (João Augusto Brandão) substituía o médico e o enfermeiro, que não existiam nos arredores, com tal mestria que era solicitado por todas as aldeias da freguesia e a provar os seus méritos está a afirmação do Dr. Martins de Santa Ovaia – “Se adoecer, não chamarei qualquer colega, pois apenas quero o João Brandão à cabeceira”. (http://gondufo.com.sapo.pt/capitulos/capitulo4.html)
GS

Anónimo disse...

Caro GS
As suas informações genealógicas são extraordináriamente importantes para encontrarmos as nossas raízes e noto que Santa Ovaia, que cita na resposta ao Médico Aposentado, é um lugar de referência para algumas famílias da nossa terra, designadamente a minha. Era natural de lá Maria Micaella, (princípios do século XIX) avó de minha bisavó, Rosália Pires, mais conhecida por Rosália Abrantes, mulher de um certo dinamismo, como me contou minha mãe. O que mais me impressiona, e para o efeito os seus trabalhos contribuem decisivamente, é a importância que Trás-de-Serra teve no desenvolvimento do Sobral e que prova que a corrente humana antiga era de Noroeste para Leste. Continue com os seus preciosos trabalhos e não deixe que vozes de burros cheguem ao céu.
asp

Anónimo disse...

Suponho que o António se refere à Maria Micaela de Abrantes que casou no Sobral com o José Francisco da Cruz.
Interessante é notar que as origens dos sobralenses estão viradas para o leste, talvez devido à antiga estrada, frequentar as feiras de Lourosa, Vide, etc e romarias de Senhora das Preces. Económicamente o Sobral tinha mais a ver com o distrito de Coimbra do que com a Cova da Beira.
Poucas ligações há com o concelho da Covilhã, excepto Unhais, Erada Casegas ou S. Jorge. Muitas há de Tás-de-Serra e até aparece Braga. É de admirar uma ligação a tal distância. O percurso dos nossos Pintos: Vila Real?/Coimbra?/Tavarede-Lagares da Beira-Gondufo-Sobral-Fundão identifica esse movimento. Duas famílias fizeram o percurso contrário, Covilhã-Sobral: os Paivas e os Dias. mas estes últimos eram oiginários de Secarias, Arganil.
Seria interessante um estudo sobre estes movimentos migratórios.

Anónimo disse...

Caro Gabriel
É essa mesma Maria Micaella. Se de facto a família Dias veio da Covilhã, não tenho dúvidas que entroncam numa família de mercadores cristãos-novos importantes do século XVI que importavam panos estrangeiros pelos portos do Minho, Viana e Caminha, que traziam para a Beira em 1532. Todavia, como normalmente, estas famílias de mercadores, tinham casas em todas as localidades importantes da região. Fernão Dias estava estabelecido na Guarda, Francisco, Diogo e Gomes Dias viviam na Covilhã etc.. Os Paivas importantes mais antigos que conheço são, obviamente, de Castelo Branco. Da Covilhã, está referenciado na Inquisição de Lisboa, Francisco Nunes Paiva e cito, no meu Portugal adentro, o teólogo Francisco Mendes de Paiva (1842-1918 também covilhanense e da família Alçada. Quem tiver tempo para fazer uma monografia do Sobral pode cartografar os laços de sangue sobralense por todo o planeta desde Vancouver à Austrália com linhas mais densas para a Europa, muitas para África e algumas para a Argentina e o Brasil. Obviamente, o trabalho é mais especializado para os laços do passado e concordo consigo quanto a esses elos que se cruzam na nossa terra com uma origem predominante em Trás-de-Serra. A questão a leste não é, todavia, de desconsiderar, dado o Sobral estar dependente da Comenda da Ordem do Templo/Cristo de Nossa Senhora da Silva do Castelejo desde os primórdios da nação.
asp

Serranita disse...

Fico deliciada a ler estes comentários:)
ASP, Tem dados de ascendentes de Rosália Pires/Abrantes, que possa ceder? A "brincar" e de memória, só consegui chegar a ela...

Anónimo disse...

Cara Serranita, creio, prima.
Tenho essas poucas informações em arquivo em outro computador. E dar-lhas-ei assim que tiver oportunidade para confrontar com as suas, pois as memórias são traiçoeiras. Agora, tenho mesmo de preparar uma aula.
asp

Serranita disse...

Ok, não há pressa! Obrigada!

sobralfilho disse...

asp,

Em face da qualidade dos comentários em volta do assunto “João Brandão” , mais razões tenho para me congratular com a “chegada” ao blogue de todos aqueles que comentaram com conhecimento de causa.

E esta minha referência, neste post, deve-se ao facto do Post anterior ter proporcionado um “diálogo” entre os comentadores muito interessante e do qual fazia parte, pela primeira vez e ao mesmo tempo, um conjunto de pessoas que valorizo pelo seu conhecimento e saber.

Gostaria que este assunto –“João Brandão” – fosse um trampolim para o lançamento duma monografia do Sobral, trabalho árduo, certamente, mas que, a meu ver, se encontra facilitado pela obra, “SOBRAL DE S. MIGUEL - Subsídios Histórico- Demográficos ”, que Gabriel dos Santos publicou há mais de 20 anos.

Anónimo disse...

Caro Sobral Filho,
uma monografia sobre uma aldeia é um trabalho que exige tanta ciência e esforço como um outro de Física Nuclear, obviamente, infinitamente menos dinheiro, mas poventura mais talento. Já há alguns trabalhos, mais gerais, com toda a área do Sudoeste da Covilhã, um deles orientado por mim. Porém, ainda não encontrei quem quisesse reduzir o espaço à dimensão difícil da aldeia a não ser para Trás-os-Montes. Entretanto, de facto, temos os subsídios excelentes do Prof. Gabriel e da Maria Pinto e algumas notas do Prof. Daniel e minhas, mas dispersas. Falta-me tempo, mas não vontade. Se alguém tiver tempo, vontade e talento, eu não lhe faltarei com umas dicas.
asp

Mariita disse...

Obrigada sobralenses, pela partilha que tem sido feita de factos tão importantes da nossa terra e me deixam mais rica de conhecimento.
Continuem a dar-me(nos) o privilégio da vossa companhia e do vosso saber.
Tenham um Feliz Natal e Bom Ano de 2012.

sobralfilho disse...

Caro Asp,

Pensava que era mais fácil. E sendo assim, rendo-me à evidência.

Tenho as obras do Prof. Gabriel, Daniel e Maria Pinto. Em que Livraria se vende o seu Portugal Adentro?

Anónimo disse...

Caro Sobral Filho,
Eu oferecer-lhe-ia o meu Portugal Adentro. Porém, dos trinta exemplares que me couberam, tenho apenas dois exemplares: um na UBI e outro em casa. Na Reprografia da UBI ou no MUseu de Lanifícios poderá adquiri-lo, confesso que não sei por quanto. Porventura, um dia destes eu próprio terei de comprar algum. Obviamente, o dito livro de 622 páginas inclui informações sobre o Sobral, mas o espaço de referência é constituído pelos distritos de Castelo Branco e da Guarda. De facto, uma monografia de aldeia não é um trabalho fácil e a maioria delas não tem qualidade, levando ao desperdício de dinheiros públicos quando objecto de subsídios camarários e outros. Todavia, se quiser ajuda, prestar-lha-ei.
asp

sobralfilho disse...

Caro asp,

Na minha próxima visita ao Museu tratarei disso.

Quanto à monografia... paciência. Não tenho sabedoria para desbravar esses caminhos. De qualquer modo, bem-haja pela disponobilidade.

Anónimo disse...

Caro Sobral Filho,
Eu não disse que não tinha sabedoria para elaborar uma monografia. Disse que uma monografia era uma tarefa extremamente difícil de levar a cabo. Dispus-me a ajudá-lo por ter muitos anos de experiência no assunto, poder confrontar consigo algumas ideias e apontar algumas metodologias e exigências do texto científico. Todavia, se tiver tempo, que não seja pelo que eu disse que não faz a sua monografia sobre o Sobral ou sobre a figura do João Brandão. Mantenho a afirmação que a maioria das monografia não têm qualidade: ou porque não conseguem reunir informações sustentadas em fontes fidedignas ou porque a qualidade da síntese, ou do texto, é fraca. Não quero ser o seu juíz na matéria, mais ainda porque desconheço a sua formação e eu quero viver tranquilo com a minha consciência.
asp

Anónimo disse...

Digo "a maioria das monografias não tem qualidade"
asp

Jacinta Santos disse...

Caros conterrâneos, agradeço a partilha de tão valiosa informação sobre a nossa aldeia e as suas gentes. Sempre tive grande curiosidade em conhecer a sua história. Fiquei mais rica em conhecimento,obrigada.