sábado, dezembro 10, 2011

Sobral de São Miguel - Das Minas dos Mouros às Lutas Liberais.

Sexta-feira, Dezembro 09, 2011


A propósito do passeio fotográfico que amanhã tem lugar em Sobral de São Miguel, recordei-me de uma reportagem que, em conjunto com o Xamane, realizei no ano 2 000 na povoação, tendo como cicerone o Sr. António Marques, escritor local que assina com o pseudónimo de Emanuel João. Das "minas dos Mouros" às peripécias durante as Guerras Liberais, esta visita teve de tudo um pouco.

Sobral de S. Miguel (Covilhã)Uma Serra com histórias para contar


Atiçada a nossa curiosidade por um pequeno artigo no Jornal do Fundão que alertava para o abandono a que nessa localidade estava votado o local das "Minas dos Mouros", deslocámo-nos a Sobral de São Miguel.


Guiados por António Marques, embarcámos numa viagem até aos tempos em que os salteadores assolavam a região e onde ainda ecoam as detonações das lutas liberais.
Em Sobral de São Miguel, existe alguém para quem a história e a cultura da localidade merecem a dedicação de uma vida. António Marques, um habitante desta localidade que diariamente cuida das suas cabeças de gado e das suas terras, escreve livros onde conta as histórias que recolheu ou que lhe foram transmitidas pelos seus pais e avós. Ocasionalmente, escreve artigos para o Jornal do Fundão onde relata o que vai acontecendo na sua localidade. Foi precisamente um desses artigos que nos levou ao seu encontro. Nele relatava a sua preocupação e mágoa por nenhuma entidade ou personalidade se interessar pelo sítio das "Minas dos Mouros" estando este local em vias de desaparecer.


Após o nosso encontro num café da localidade, tendo tido conhecimento do que nos tinha levado até ali, António Marques não consegue conter um sorriso próprio de quem sente a satisfação de saber que alguém ouviu o seu apelo. Prontamente acedeu a levar-nos até ao local, não sem antes nos ter contado um pouco da história de Sobral de S.Miguel, um pouco de si e do livro que está a escrever.


A Rota do Sal


Sobral de S.Miguel foi em tempos uma terra de grande importância económica. Por aqui passava a Rota do Sal que, do litoral, levava o tão precioso "ouro branco" para as terras do Interior. Aqui, onde existiam algumas Catraias, a rota dividia-se seguindo um ramo para Este e Sudeste passando por Covilhã e indo até Monsanto e outro para Nordeste. Esta rota só terminou quando o caminho de ferro adquiriu protagonismo como meio principal de comunicação com os centros de produção.-"Ali em cima ainda se notam os sulcos das rodas dos carros (de bois) que transportavam o sal" - Diz-nos António Marques.


As Minas dos Mouros


Partindo então em direcção às "Minas dos Mouros", somos surpreendidos por uma paisagem impressionante que tem como pano de fundo a majestosa Serra do Açor. À medida que o vale se vai estreitando enquanto a estrada vai subindo na direcção de um monte sobranceiro a Sobral de S.Miguel, vemos aqui e ali umas manchas onde nem sequer vegetação rasteira existe. Os incêndios devastaram a floresta, e a vegetação restante foi impotente para travar a erosão. "A serra tem estas feridas. Já pensei em escrever para o jornal a falar nisto também" - lamenta-se António Marques.


Finalmente, entramos por um caminho de terra batida, onde somos obrigados a abandonar o veículo para fazer o resto do trajecto a pé. Poucos minutos depois, António Marques aponta para uma abertura na rocha camuflada pelos arbustos "É aqui a primeira. Ali mais à frente está a maior." - Diz-nos. Diante de nós, rasga-se uma comprida vala que na sua profundidade máxima deverá ter cerca de 4 a 5 metros. Inconfundivelmente escavado por mãos humanas, a época em que foi feita escapa-nos. "Toda a vida ouvi chamar-lhe Minas dos Mouros. Já os meus avós assim lhe chamavam e toda a vida lhe tinham ouvido chamar isso." - confessa-nos António Marques.
Descendo pela abertura, somos confrontados com um triste espectáculo: o único interesse que este local despertou foi em infelizes oportunistas que aqui viram uma oportunidade para se livrarem de trastes e lixo diverso. Para lá deste atentado, a galeria estende-se um pouco mais e afunda-se no solo, estando no entanto entulhada. O propósito das "Minas dos Mouros", tal como a sua idade, jaz sob a terra à espera que alguém a queira descobrir.


Salteadores e lutas liberais


Imersos na paisagem que nos envolve, contemplamos a Oeste a Serra do Açor, a Este o maciço central da Estrela e a Sul as marcas que as Minas da Panasqueira deixaram na paisagem envolvente. Apontando para a Serra do Açor, António Marques conta-nos histórias em que a Serra era um santuário para os que fugiam dos bandos de salteadores que atormentavam a população: os Cacarras e os Brandões.
"Quando alguém se apercebia da vinda dos salteadores, dava o alarme e toda a população escondia o que não podia levar e fugia para a Serra com o que podia levar, até animais. Uma vez, estando os salteadores em Sobral de S.Miguel, um dos galos que alguém tinha levado consigo para o esconderijo na Serra cantou. O dono, sem pensar, com as próprias mãos lhe torceu o pescoço." - conta-nos António Marques, continuando: "Isto era no tempo em que os que eram por D.Miguel lutavam contra os de D.Pedro. Ora chegando certa vez os salteadores a Sobral de S.Miguel, apenas encontraram uma velha que por não poder, não tinha fugido com o resto. Os salteadores querendo saber por que partido estava ela perguntaram-lhe "Viva quem?" ao que ela respondeu "Viva os que cá estão e El-Rei de Bragança. Vão todos para o raio que vos parta então, que não entendo nada dessa dança"".

Abordando as lutas liberais, conta-nos sobre um combate que aconteceu no alto da Serra do Açor. As forças realistas carregaram sobre os liberais que se tinham entricheirado no cume da Serra. Sobre estes fizeram tal descarga de artilharia que estes para não serem exterminados, tiveram de fugir


A Casa de Bragança em Sobral de S.Miguel


Sobral de S.Miguel era um local ao qual os reis da Casa de Bragança se deslocavam muitas vezes para fazer caçadas. Segundo António Marques "Os reis vinham cá e por aí deixaram semente. Andava aí muita gente parecida com os reis.". A uma familiar sua, recorda com um sorriso trocista, chamavam-lhe Maria Pia por ser parecida com a Rainha D. Maria I.

Emanuel João


Convidando-nos para entrar em sua casa, António Marques revela-nos outra faceta sua: a de escritor. Com o pseudónimo de Emanuel João, está actualmente a escrever um livro onde aprofunda os episódios que nos contou. O mais interessante desse livro, do qual tivémos o privilégio de ler já algumas passagens, reside no facto de contar o dia-a-dia dos habitantes de Sobral de S.Miguel do antigamente, tudo isto escrito em português de sotaque saloio. Um pormenor que nos faz sentir imersos no quotidiano de então.
No entanto, a edição deste livro ainda sem título, poderá não acontecer. António Marques lamenta o facto de se encontrar sozinho nesta luta "É difícil arranjar apoios. Eu sozinho não consigo pagar a impressão do livro e também não consigo arranjar quem me apoie. Nem os meus filhos me querem ajudar, não se interessam pelo que faço" - diz-nos não escondendo a sua mágoa.
Já o seu livro anterior intitulado "Deus, a verdade e a vida ou libertação da humanidade", conheceu sérios problemas para ser editado. "Consegui obter do Sr Carlos Pinto (presidente da Câmara Municipal da Covilhã) um apoio de 100 contos. Mas tive de insistir muito para o obter depois de prometido.". Neste livro, o autor reúne alguns pensamentos e reflecte sobre Deus, a relação dos homens com Deus e analisa o Mundo moderno à luz destes temas com a clareza de uma pessoa simples e franca.
Paradigmático da sua personalidade é o último parágrafo do seu livro:
"Escrevo este livro, sem qualquer intenção monetária ou comercial.Se sou feliz com o pouco que tenho, para quê quero eu mais?Olhai leitores amigos:O que é preciso, é aproveitar o dom da vida tão lindo, que a natureza nos ofereceu.Não quero ficar na história, como herói, profeta ou arrastar multidões, que isso de nada me aproveita, nesta ligeira passagem.O que eu mais desejo era ver a libertação da humanidade!O que é possível com o auxílio de todos os homens de boa vontade!Que Deus me oiça!..."07/01/2000


54 comentários:

Anónimo disse...

Afinal quem é o dito António Marques, escritor, pastor, arqueólogo, historiador, que escreve em sotaque saloio, e já conseguiu enganar o Sr. Presidente da Câmara, conseguindo 100 contos para um livro. O que me parece é que o Blogue do Catano anda a querer brincar com as gentes do Sobral e a Serranita foi no engodo. Os verdadeiros sobralenses merecem respeito e ao Blogue do Catano eu responderia com o Blogue do Carvalho, que é onde as minas estão e ele podia ter ficado

H. Sobreiro disse...

Primeiro de tudo escreviaé...... porque infelizmente jà faleceu à mais de 2 anos . Segundo chamava-se José e não Antonio mais conhecido pelo Ti Zé Peseta.

Respeitinho.

H. Sobreiro disse...

Queria dizer escrevia

Anónimo disse...

Que Deus guarde em paz o ti Zé "Peseta". Quando se escreve sobre o que se conhece mal e não se está pouco documentado, acontece o que se viu acima. Repito com o H. Sobreiro. Respeitinho.
O respeitinho fica bem toda a parte. A opinião é livre, mas o saber tem regras, sobretudo, quando nos referimos a pessoas e, mais ainda falecidas, que já não têm como se defender. O dono do Blogue do KATANO perceba que no Sobral de S. Miguel, há serranos orgulhosos. Os saloios também serão orgulhosos de o serem, mas na região entre Lisboa e Torres Vedras.

Anónimo disse...

Digo: e não se está documentado

Serranita disse...

Amigo anónimo 1 , não sei responder às suas interrogações. Mas parece que há quem saiba.
Já há tempos que conheço este artigo, doutra fonte, (http://arqueobeira.net/noticias/reportagens/reportagem5.htm)- que afinal até parece ser a mesma. Na altura também me questionei. Como por estes dias o artigo apareceu de novo, partilhei aqui, com o objectivo de com a participação de todos saber e sabermos todos, algo mais, seja de identidades ou das estórias. Se o autor pretende brincar com as gentes do Sobral, sinceramente não vi por esse lado. Simplesmente aproveitei o artigo para usar como fio condutor, para com umas estórias puxar outras que aqui alguns dos nossos conterrâneos bem sabem contar!:)

Anónimo disse...

Estimada Serranita,
Há uma tendência geral de fazer das comunidades, como a nossa, uma espécie de reserva, realidade, que não é nova, mas remonta aos tempos feudais. Eles, os senhores, chegam e, quando não cobram o feudo, fazem de nós parolos. Se aquele fosse sério, não elaborava um texto irónico, sarcástico e pejurativo, como o fez. Mas fique tranquila a Serranita, se ele aqui vier, levará que contar.

Anónimo disse...

Onde está pejurativo deve ler-se pejorativo

Anónimo disse...

Do livro "João Brandão", de Dias Ferrão (1928), extraí o seguinte trecho com referências ao Sobral:
...
"Esta guerrilha foi batida pela guarda nacional do outro lado da Serra da Estrela, no lugar de Sobral de Cazegas, nos dias 24 e 25 do mesmo mês, ficando 15 guerrilheiros mortos" (pág. 76).
...
"Por seu turno os adversários levantaram o colo, e treparam, armados e equipados, para ir ao encontro dos miguelistas ...
Os que mais rapidamente subiram a serra, no alcance dos vencidos de Sobral de Cazegas, foram os de Midões, a guerrilha dos Brandões, que levava a fina flor das campanhas do constitucionalismo" (pág. 81).
Noutro lado:
"E entre os crimes que são atribuídos ao famoso Fra-Diabolo contam-se os que se seguem:
Os assassinatos de Manuel gatilho, da Póvoa de Midões ... do barbeiro do Sobral de Cazegas, com uma descarga de 30 tiros, forçando a mulher e uma filha a assentarem-se sobre o seu cadáver" (pág. 98).
Enfim, episódios de um período conturbado, de guerra civil.
A. Abrantes Geraldes

Anónimo disse...

Agora, numa perspectiva ficcional, um trecho do livro de Fernando Namora, Minas de São Francisco, que retrata a vida nas Mina da Panasqueira:
...
"Os de Proença o que queriam era armar desordem e espantar a outra malta de vez. E vai daí, um deles joga-se contra um rapaz do Sobral e ainda por cima põe-se aos berros a gritar que era o outro que queria atirá-lo a terra. O grito foi o sinal para os de Proença malharem nos homens. «Fujam, gente!. Fujam que o mundo não se acaba agora!» - disse um camarada do Sobral"
...
"Mas ninguém pensava que a desordem iria ser tão brava. Está um capataz morto e mais homens a morrer. Foi o que eu disse ao Sr, Engenheiro. Um do Sobral também está estendido num mar de sangue. Eles trouxera o que veio às mãos: foices, ancinhos, paus, armas de caça ..."
A. Abrantes Geraldes

Serranita disse...

Amigo anónimo: Disso não tenho dúvidas (que se houvessem "ataques externos" que levariam que contar!)
Amigo A. Abrantes Geraldes: 2 referências que gostei, apontei e irei procurar.

Anónimo disse...

Caro António
Há mesmo um livro, acessível, intitulado "Apontamentos da Vida de João Brandão por ele escritos nas prisões do Limoeiro, em 1870 envolvendo a História da Beira desde 1834", editado pela Vega. com introdução de José Manuel Sobral, de autojustificação da sua actividade como prócere liberal. Esta família dos Brandões deu figuras ilustres para a causa do liberalismo e chegou aos nossos dias envolta em mito. Quando não se estabelecem os factos do passado a partir de documentos, constroem-se mitos como os do texto acima. A ser verdade o que aquele diz e era necessário conferir outras fontes:
a quadrilha do Caca que ele combateu cometeu um crime horrendo no Sobral assassinou o Barbeiro do Sobral com quinze tiros e obrigou a mulher e a filha a sentarem-se sobre o corpo do mesmo (p. 213).

Sobre o assunto eu escrevi assim no meu Portugal Adentro:
"Um eco extraordinário das façanhas míticas de João Brandão (1825-1880) persiste nas aldeias serranas. Membro de uma família distinta, com vocação para as Letras, viu de tal forma a honra enxovalhada que achou premente redigir alguns apontamentos para corrigir a imagem, entretanto, dele construída , arrogar-se o bom-nome e nomear os responsáveis das quadrilhas que, depois de 1834, espalharam o terror na Beira . Em 1840, toda a área da serra do Açor, parecia dominada por três dezenas de bandidos. Então, impunham-se medidas para evitar violências possíveis nos limites ocidentais do concelho da Covilhã que não foram tomadas. Como consequência, foi assassinado com extrema violência e laivos de malvadez o barbeiro de Sobral de Casegas, actual Sobral de S. Miguel, Bernardino Machado. João Brandão atribui o acto à quadrilha do Caca que, em requintes de malvadez, obrigou a mulher e a filha daquele a profanarem o cadáver do seu ente querido. ASP

Anónimo disse...

Caro António
Há mesmo um livro, acessível, intitulado "Apontamentos da Vida de João Brandão por ele escritos nas prisões do Limoeiro, em 1870 envolvendo a História da Beira desde 1834", editado pela Vega. com introdução de José Manuel Sobral, de autojustificação da sua actividade como prócere liberal. Esta família dos Brandões deu figuras ilustres para a causa do liberalismo e chegou aos nossos dias envolta em mito. Quando não se estabelecem os factos do passado a partir de documentos, constroem-se mitos como os do texto acima. A ser verdade o que aquele diz e era necessário conferir outras fontes:
a quadrilha do Caca que ele combateu cometeu um crime horrendo no Sobral assassinou o Barbeiro do Sobral com quinze tiros e obrigou a mulher e a filha a sentarem-se sobre o corpo do mesmo (p. 213).

Sobre o assunto eu escrevi assim no meu Portugal Adentro:
"Um eco extraordinário das façanhas míticas de João Brandão (1825-1880) persiste nas aldeias serranas. Membro de uma família distinta, com vocação para as Letras, viu de tal forma a honra enxovalhada que achou premente redigir alguns apontamentos para corrigir a imagem, entretanto, dele construída , arrogar-se o bom-nome e nomear os responsáveis das quadrilhas que, depois de 1834, espalharam o terror na Beira . Em 1840, toda a área da serra do Açor, parecia dominada por três dezenas de bandidos. Então, impunham-se medidas para evitar violências possíveis nos limites ocidentais do concelho da Covilhã que não foram tomadas. Como consequência, foi assassinado com extrema violência e laivos de malvadez o barbeiro de Sobral de Casegas, actual Sobral de S. Miguel, Bernardino Machado. João Brandão atribui o acto à quadrilha do Caca que, em requintes de malvadez, obrigou a mulher e a filha daquele a profanarem o cadáver do seu ente querido. ASP

Anónimo disse...

Caro amigo (e historiador) António Santos Pereira:
Como é bom de ver, não pretendi intrometer-me em assuntos de que nem sequer sou leigo. Já me bastam outros que me são mais próximos.
Limitei-me, a propósito do texto que foi inserido no blog, a transcrever - digo, transcrever - uns pequenos extractos de um livro que adquiri num alfarrabista em que surgia o nome do Sobral.
Como é óbvio, não ponho em causa a tua apreciação, assente em fontes documentais mais consistentes.
Um abraço
AAG

Anónimo disse...

Bom dia, ASP.
Pelo que dizes, faltou poder policial estabelecido, da parte do Estado, para controlar o banditismo que se desenvolveu nas beiras depois da Revolução Liberal e que o João Brandão quis dominar como Justiceiro. Ora aí está a realidade, mais certa, a nossa distância em relação aos centros de poder e assim ficaremos, agora que falta a massa. Na Madeira, o Alberto João rompeu as distâncias, fez furar as serras lixou Lisboa e o Orçamento e agora todos nós, que continuamos aqui perdidos, nas curvas e contracurvas, do Sobral à Covilhã ou a Seia,cada vez menos, à espera de aprender a voar. Eu tento todos os dias com imaginação de pastor.
Sou o vosso
Bartolomeu de Gusmão

Anónimo disse...

Caro AAG,
Eu apenas quis dizer que os mitos criados, durante aquele período, e que nos chegaram pelas histórias que ouvimos à lareira nos longos serões de Inverno nos devem a todos estimular a procurar a Verdade. Como historidor profissional, sei que para chegar aos factos é preciso muito trabalho de leitura da documentação dispersa e de vária origem. Estudei particularmente outros espaços e outros tempos. Mas, de facto, todo aquele nosso espaço serrano merece um estudo e uma representação. Aquela cena do assassinato do barbeiro Bernardino Machado devia constar nos anais do Liberalismo Português. Como os museus estão na Moda, a haver um museu no Sobral, porque a nossa terra foi marcada violentamente durante as Invasões Francesas e a Revolução Liberal, este tema devia aí ter algumas peças de fixação de memória. A propósito, agradeço, ao "Bartolomeu de Gusmão" a boa interpretação que fez das minhas palavras.
ASP

Anónimo disse...

A história do banditismo à vojta da serra do Açor é como a nau Catrineta que tem muito que contar. Muito do que fez foi a mando do Governo e com a intenção de pacificar as Beiras (leia-se acabar com os adversários políticos). Não foi um santo mas também não foi um monstro. Era um período de muitos ódios e rivalidades. A sua história foi muito montada pelos adversários vencedores. Mas foi tão marcante na região que foi objecto de canções por toda a Beira e não só, cantadas palas feiras,e editadaem folhetos. E perdura nas lembranças das do povo beirão. E nas histórias qu o povo conta parece que vinha co frequência ao Sobral visitar amigos.
GS

Anónimo disse...

Caro GS
Decerto, o barbeiro Bernardino Machado, era amigo do João Brandão. O João Brandão actuou em nome do Liberalismo que foi vencedor. Todavia, não há regime vencedor que justifique qualquer acto que fira a Justiça, que é uma realidade perene acima de qualquer regime e da vontade de qualquer um. Mesmo a guerra tem leis que não permitem aos vencedores qualquer acto. Infelizmente, nós sabemos que entre o ideal e a realidade há uma distância muito grande. João Brandão é o exemplo de que não nos podemos arrogar o Direito de fazer justiça por mãos próprias. Daí, a ideia que eu deixo e foi bem compreendida pelo "Bartolomeu de Gusmão". A culpa daqueles actos de Cacas ou de Brandões também cabe ao Poder, mesmo ao concelhio, que não foi capaz de estar presente naqueles espaços quando era necessário estar.

Anónimo disse...

Caro anónimo anterior, creio ASP,
Isto quer dizer que o espaço das nossas serranias era, ao tempo da Revolução Liberal, uma espécie de Farwest, onde vingava a lei da bala ou do chumbo ou do mais forte ou do mais bandido.
Bartolomeu de Gusmão

Anónimo disse...

Concordo em absoluto que nada justifica os barbarismos cometidos seja porque ideal for, nada os justifica e menos se caucionados directamente, ou por omissão, pelas entidades que têm por obrigação manter a paz e a justiça. Certo é que naquela época o Sobral foi muito massacrado. Como afirmava um jornalista coimbrão no seu jornal, passados 20 anos o Sobral contiuava meio queimado. Fruto do combate que aí houve e doe desmandos posteriores de Cacas, Brandões e outros. Infelizmente, quando o poder é fraco há sempre quem se aproveite da situação pensando ficar impune.
GS

Anónimo disse...

Caros "Bartolomeu de Gusmão" e GS,
Chegamos afinal ao cerne da questão, que é sobretudo de Ordem Moral: os fins nunca justificam os meios. Apenas os princípios justificam os actos individuais e estes, há muito, foram codificados no caso da Civilização Odidental, nos 10 mandamentos e no respeito sagrado pela vida humana. Erradamente, alguns interpretam a inteligência superior de um dos fundadores da Modernidade, Maquiavel, cujo o princípio foi que o Poder não pode cair na rua, pois caindo qualquer um pode aproveitar-se dele em benefício próprio. Cabe ao Príncipe manter o poder e tudo deve fazer para que assim seja, pois a ausência de poder é o pior dos males. Durante a transição dos modelos de Antigo regime para o Regime Liberal,o poder andou na rua e muitos se aproveitaram dele, para constituir fortunas etc.. Faltou a presença de poder e, nos nossos espaços, nem sequer a marginalidade foi controlada. Acontece um pouco agora o mesmo com este afã neo-liberal em que o poder infinito das agências de rating sujeita Estados, blocos de Estados e leva mesmo Estados à ilegalidade de extorção de direitos e bens aos seus cidadãos. A caminhar assim, não tarda uma Revolução que pode ser violenta. Não foi por acaso que o Direito Canónico sempre se preocupou muito como os usurários.

Anónimo disse...

e como correu o passeio fotografico? tve pena de n ir,

Anónimo disse...

Afinal, o texto que foi publicado no blog valeu a pena!
Foi o pretexto para algumas lições/informações sobre a história do interior beirão.
Já agora, António Pereira, em que livraria de Lisboa posso encontrar o teu livro "Portugal Adentro"?
A.A.G.

Anónimo disse...

Caro António,
Eu terei todo o gosto em oferecer-te um exemplar que farei chegar-te por correio a partir da UBI, Departamento de Letras ou Museu de Lanifícios. Diz-me por e-mail para onde.
asp

virgilio neves disse...

Quem diria que a Mina dos mouros (de entrada desimpedida)que eu visitei a primeira vez ainda no tempo do fascismo,assim como as regueiras dos carros de bois no meu Carvalhal a poucos passos das trincheira dos Ataques ainda viriam a ser tema de debate a tão ilustres historiadores conterrâneos!
Folgo muito em ver como visitantes do blog os Antónios-Pereira e Geraldes-assim como o primeiro aviador(Bartolomeu de Gusmão)que por pouco escapou da fogueira da inquisição.Terá a Passarola pousado na Cabeço d'Anave e não na serra do Montejunto,como escreveu o J.Saramago?

Anónimo disse...

Virgílio:
Fomos de facto colegas de escola durante 4 anos, numa altura em que (se bem se lembram) não havia sequer turmas mistas e, em substituição, emparelhavam os da 1ª classe com os da 3ª classe e os da 2ª com os da 4ª.
De entre as coisas que me lembro contava-se a de, por pura preguiça, matar a sede com a água da ribeira que, antes disso, era sujeita ao devido "batismo" que lhe tiraria os micróbios: fazia-se uma cruz e bebia-se a água.
É caso para dizer que "o que não mata engorda".
AAG

Anónimo disse...

Caros Virgílio e e AAG,
Eu creio que vocês ficavam da banda da Janela e nós, eu, o Francisco, o Zé Vicente, o Hélder, O Tó Machado, o Tó Branco, o Tó Silva, o Zé Carlos, o Américo, o Lino, o Zé Sócio, do lado da Parede, na turma do falecido Prof. Daniel, que Deus tenha. Caro AAG, ao tempo, só na galhofa se fazia assim, pois não havia nenhum de nós que não soubesse onde ficavam as nascentes de boa água, tanto ribeira abaixo como ribeira acima, que era assim que se dizia a jusante e a montante do povoado.
asp

virgilio neves disse...

Caro ASP,ainda bem que voltaste pois estava na dúvida se tu és de 1953 ou 54. Agora dissipou-se a dúvida e fomos então colegas na minha 1ª e 2ª classe e tua 3ªe 4ª.
Lembro bem dos colegas que mencionaste e ainda de outros como Pedro da Ponte e Tó Fernandes (irmão do Fernando Pinto)e mais. 2 Peixinhas da ponte? Parece que o Zé Sócio era grande vítima da régua e da vara de marmeleiro.O Pedro era dos maiores no jogo do pião e(na rilha)a saltar em velocidade e altura o muro para o lado das garotas.Eram todos uns craques da bola c/ Lino a Guarda-redes.
Eu adorava a escola.Nos dias de falta(raros)do professor tinha que poisar a mala ir directinho para as cabras,enquanto os meus 5/6 vizinhos(por não as terem) ficavam na brincadeira naquela rua do Vale.
como é bom recordar!!!
Um abraço para ti

Anónimo disse...

O Zé Sócio e o Lino fizeram a quarta classe, com lições suplementares depois da saída da escola, debaixo das sobreiras da eira, ali, a fazer os deveres que o Prof. Daniel mandava em cooperativa. Bons amigos, cheios de classe na bola. Dos do lado, das Janelas, lembro-me pouco e não posso confirmar os nomes que dizes, eram mais novos e naquelas idades olhamos para os mais velhos e para os da mesma idade.
asp

Anónimo disse...

Tenho poucas recordações da escola primária. Mas ainda agora sinto o frio que se rapava numa sala de aulas sem aquecimento e que as mãos chegavam a ficar adormecidas por causa do frio. Era necessário aquecê-las para se conseguir escrever ...
Outra coisa que ainda agora me arrepia, por outros motivos, eram as contas de multiplicar e mais ainda as de dividir em que, por exemplo, era necessário dividir (é claro sem máquina calculadora) 98765,65, por 567,98.
Pode parecer estranho, mas eram assim que se massacravam miúdos da 3ª ou da 4ª classe que não saíam da sala enquanto a conta não fosse feita.
Nunca fui de apanhar muitas reguadas (apanhei muito poucas), mas ainda recordo o sofrimento daqueles que, por erros de aritmética ou de gramática, ficavam com as mãos quentes.
E quem não guarda na memória (dos sabores ou dos cheiros), o óleo de fígado de bacalhau (vitamina B 12 contra o raquitismo). Ou as vacinas em fileira no recreio da escola, com uns tipos vindos da "civilização" (quer dizer, de uns quilómetros mais adiante), que, com um aparo, no braço, aplicavam uma vacina?
AAG

famel disse...

Os meus tempos de escola no Sobral já foram "aquecidos", primeiro por estufa e posteriormente pela caldeira, que fazia chegar por pressão, a água quentinha aos módulos colocados nas paredes das salas. Essa mesma caldeira serviu para arriscadamente nos escondermos quando jogavamos às escondidas. Por vezes antes do colega nos encontrar eramos "ferrados" pela D. Olinda ou a D. Teresa e lá vinha o ralhete! Posteriormente já depois do encerramento da Telescola, passou a ser sede "emprestada" dos Galitos e foi essa mesma caldeira que serviu para assar boas chouriças e outras iguarias!!! Ou seja a escola fria do vosso tempo, deu lugar a uma escola que aqueceu muitas crianças, mas também muitos estômagos!

Anónimo disse...

Boa tarde amigos.
Lembro-me de carregarmos a "salamandra" com sacos de cerradura que o senhor Brás nos dava e que transportávamos às costas do Cabecinho para a Eira.
Era uma técnica inovadora desde que bem elaborada/compactada e que superava em calorias o ambiente na sala comparativamente com as pinhas ou lenha verde dos Torgais.
E era ver a competição com a sala dos rapazes do andar de baixo.
Um abraço amigo,FS.

Anónimo disse...

Corrijo: "serradura".
FS

Anónimo disse...

Tens razão, caro FS, estimado amigo, e colega de carteira.
Além da serradura, ainda me lembro dos pinheiros que cortei e carreguei para aquela miserável estufa,que funcionava quando lhe apetecia, mas que fazia sempre fumo. O Aquilino Ribeiro, diria de mim que eu já era o que viria a ser, um "benfeitor".

Anónimo disse...

Há por ali umas vírgulas a mais e é bom que o texto anterior fique anónimo, caro FS.

Anónimo disse...

Há por ali umas vírgulas a mais e é bom que o texto anterior fique anónimo, caro FS.

António Lopes disse...

Faz um tempo que não vinha, aqui, dar uma vista de olhos e foi logo nesta altura que se meteram a discutir história, da pesada, assunto que me é caro.Já aqui disse, várias vezes, que temos um QI acima da média.Por ser assim, temos que ter algum rigor.
Vamos lá então.A Maria Pia, foi mulher de D.Luís 1º e único.Casou à volta de 1860.D.Maria 1ª,morreu em 1816.Portanto a Maria Pia não podia ser parecida com D.Maria 1ª.Antes, penso eu, com a dita Maria Pia,italiana e mulher do dito D.Luís.
No Livro: Apontamentos da vida de João Brandão,que tenho à minha frente, diz se que o barbeiro do Sobral, de que já aqui falei,foi morto com 30 tiros,(página 213,quadrilha do Caca,de Sameice e dos Crespos de Lagares da Beira que no Sobral, chamam Cacarras) não com 15.O resto descrito é verdade.Obrigar a mulher e a filha a sentar-se em cima do cadáver.João Brandão era filho de um ferreiro, de Pombeiro da Beira.Casou com uma senhora de alguma nobreza.Foi preso, fruto de uma cabala, por se ter recusado a cumprir um pedido de Rodrigo da Fonseca Magalhães,1º ministro, que lhe pediu para prender, ou matar, o major Cristiano Augusto da Fonseca, de Ervedal da Beira, que fugira da prisão, no Castelo de S.Jorge.Foi um escândalo e dizia-se que fugiu por favor político.Como era liberal e, em tempos, amigo de João Brandão,este recusou-se a fazer o favor.Isto, mais o desalinhamento político, valeu-lhe a condenação(forçada.Para mim, era inocente) e o desterro para Angola, onde morreu,Ontem como hoje,convém estar com o poder.
Diz-se que João Brandão era primo de ascendentes de Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite.Já li mas não tenho informação fidedigna.Que eram todos de Pombeiro da Beira, tenho a certeza.

Anónimo disse...

Seja bem vindo, António Lopes, creio filho de uma prima em primeiro grau de meu pai, António Pereira Lopes dos Santos.
Não sei quem tratou das nossas rainhas Marias, mas acredite que eu prefiro a História com outras personagens que já aqui vieram à colação e a si lhe devem dizer mais. Por exemplo, a história das Minas da Pasnasqueira, com uma dimensão global,Geografia e Geologia, recursos e produtos, empreendedores e operários, sociedade envolvente, eligiosidade, cultura operária e outra,está por fazer e, neste caso, não é por faltarem fontes. Aqui, até é possível usar estatística. Não estivesse eu envolvido em outros projectos, ou se tivesse começado a minha carreira pela Covilhã, havia de ter feito uma tese de doutoramento sobre as Minas da Panasqueira.
Escrevo a partir do trémulo comboio da Beira Baixa e as condições são difíceis
asp.

Anónimo disse...

António Pereira
Seguramente que conheces uma tese de doutoramento com o título O Volfrâmio e o Estado Novo, que contém muitos elementos sobre as Minas da Panasqueira. Elementos estatísticos, mas também de natureza social e política.
Como cidadão nascido no Sobral, terra que tanta força de trabalho deu para as Minas, sempre me fez espécie o total abandono a que foram votadas as aldeias que "forneciam" os mineiros (o meu pai e o meu irmão, felizmente por poucos anos, foram alguns deles.
Efectivamente, nem uma reles estrada foi construída que permitisse o acesso fácil. Nem uma escola foi construída fora do Couto Mineiro, para melhorar a vida dos filhos daqueles que lá trabalhavam. Nem um centro médico ou social, etc., etc.
Tendo sido a região um dos principais fornecedores de volfrâmio numa época em que era chamado o "ouro negro", toda a riqueza se esvaiu, para o centro (Lisboa) ou para o estrangeiro, sem que tivessem sido feitas melhorias nas condições de vida dos milhares de homens que passaram a vida "enterrados" nas Minas.
AAG

Anónimo disse...

O meu texto de ontem foi escrito entre a Covilhã e o Fundão no comboio que me dá mais conta dos rins do que as oliveiras do quintal da casa de meus falecidos pais, daí as falhas de um r e a existência de um s a mais. Já protestei contra a forma com a CP nos trata, mas não há poder regional pelo qual lutei, que eleve a dignidade dos cidadão da Beira a cidadãos nacionais. Quanto à dita tese, caro Gabriel, foi feita por um conceituado docente de Coimbra, mas, decerto, não seria igual àquela que eu faria sobre as Minas, sem qualquer presunção da minha parte, não quero dizer que a minha seria melhor ou pior, quero apenas dizer que encararia a realidade de outra forma. Eu faria entrar nela as gerações de homens que entraram quase crianças nas minas, deram o seu suor e sangue e tiveram como prémio uma morte prematura e muitos teriam nome. Nem só os que mandam têm direito a ficar com o nome na História. Seria uma tese e uma epopeia. Obviamente, a História deve ser objectiva, mas as opções têm que ver com as vivências. Eu nunca mais esquecerei a representação da Morte e Vida Severina em 31 de Dezembro de 1973 em que tivemos como público os mineiros em S. Jorge da Beira. Aqui, lembro o Virgílio Ferreira que comandava as nossas tropas e também se formaria em História e que eu cheguei a convidar para fazer o doutoramento, mas ele era sobretudo poeta e artista e não quis entrar nesta vida severina que é passar horas e horas a compilar informação, meses e meses a organizá-la e sempre a escrever, que é a minha sina.
asp

famel disse...

Conheço bem essa tese, tive que folheá-la com afinco várias vezes para realizar trabalhos para a minha cadeira de Arqueologia Industrial, por acaso leccionada pelo autor da mesma tese... o Prof. Avelãs Nunes. Como neta de mineiro que sou, aconteceu muitas vezes contrapor alguns elementos dessa tese e mostrar o outro lado das minas. Talvez por isso tenha sido uma das minhas cadeiras preferidas e uma das minhas melhores notas do curso. Mas tal como diz o ASP, talvez por ter crescido com a realidade das minas, faria uma tese totalmente diferente.

Já agora aproveito para vos recomendar a peça de teatro "Volfrâmio", fui assistir à peça encenada pela ESTE na Moagem no final de Novembro e parece que estava a ouvir todas a histórias que o meu avô me contava. A peça está muito bem encenada e retrata a dureza vivida nas minas e sua influencia no dia a dia de familias de mineiros.

Serranita disse...

Depois da leitura destes comentários, depois de recordar estas e outras histórias de mineiros que ouvia contar e pela referência do AAG, por estes dias o livro que leio é o "Minas de San Francisco" De Fernando Namora.

Anónimo disse...

De cor):
Esta cova em ques estás
Com palmos medida
É a conta menor
Que terás em vida

É de bom tamanho
Nem largo nem fundo
É a parte que te cabe
Deste latifúndio.

(Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto)
Foi representada no Sobral e também em São Jorge, tendo como actor principal - é necessário que se relembre - o António Pereira.
O encenador e animador do grupo era de facto o Virgílio Ferreira, meu primo, e um dos que mais fez pelo Sobral nos idos de 70, tendo falecido há dois anos.
A maior parte dos restantes elementos (nos quais me incluo) integrava o coro que acompanhava a viagem do "desgraçado" Severino.
Retratava a vida no Nordeste brasileiro, numa viagem feita desde o sertão até Pernambuco, mas bem podia retratar igualmente a vida inclemente dos que na altura viviam na Beira (ultra) Interior, que é precisamente onde fica o Sobral
AAG

virgilio neves disse...

Pois é meus caros conterrâneos,dia 15/12 saí de Lisboa/Madrid/S.Paulo e viagei mais uma noite de autocarro até chegar ao destino onde me encontro,onde já tinha chegado de malas e bagagem há 30 anos atrás e onde morei 6 anos completos.Nada como estes 10.000 Km de terra e mar para nos fazer sentir saudades e gostar tanto dessa nossa terrinha.Estive 4 dias sem internet e já lhe sentia a falta. Ao entrar no blog,vejo que continua bem "frequentado" e apreciei os coments dos 3 Antónios e outros mais.
Teremos que pensar seriamente numa homenagem aos nossos mineiros-até os Farrapeiros do Dominguiso já têm uma estátua- talvez uma pequena estátua,ou outro monumento.Estou agora debaixo d'um calor de 36 graus-talvez chova p/ o Natal-que me recorda bem o Nordeste Brasileiro seco e árido, terra de outras Severinas,que conheci nas excelente mini-série da TV Globo.
Era preciso investigar se algumas das toneladas de ouro que estão no Banco de Portugal não são fruto da venda de muito Volfrâmio da Panasqueira.

virgilio neves disse...

Pois é meus caros conterrâneos,dia 15/12 saí de Lisboa/Madrid/S.Paulo e viagei mais uma noite de autocarro até chegar ao destino onde me encontro,onde já tinha chegado de malas e bagagem há 30 anos atrás e onde morei 6 anos completos.Nada como estes 10.000 Km de terra e mar para nos fazer sentir saudades e gostar tanto dessa nossa terrinha.Estive 4 dias sem internet e já lhe sentia a falta. Ao entrar no blog,vejo que continua bem "frequentado" e apreciei os coments dos 3 Antónios e outros mais.
Teremos que pensar seriamente numa homenagem aos nossos mineiros-até os Farrapeiros do Dominguiso já têm uma estátua- talvez uma pequena estátua,ou outro monumento.Estou agora debaixo d'um calor de 36 graus-talvez chova p/ o Natal-que me recorda bem o Nordeste Brasileiro seco e árido, terra de outras Severinas,que conheci nas excelente mini-série da TV Globo.
Era preciso investigar se algumas das toneladas de ouro que estão no Banco de Portugal não são fruto da venda de muito Volfrâmio da Panasqueira.

António Lopes disse...

António Lopes: Volto a insistir que não compreendo o porquê de tanto anonimato.É um favor que peço.Vamos ultrapassar essa modéstia.
Quanto ao amigo que pede para se falar das Minas da Panasqueira, também aqui, sou das pessoas mais informadas, por vivência própria das mais importantes páginas da vivência das Minas.Modéstia à parte, obviamente.Já várias pessoas me instaram para escrever as memórias ou dar dicas.De vez em quando falam-me em se escrever algo.Nunca se concretizou.Para a luta politico sindical, não só eu mas o José Lopes e o Abel, ajudámos a escrever das mais gloriosas páginas da luta sindical do nosso Pais.Na Greve de 1981-28 de Abri a 2 de Agosto, ininterruptamente, 93 dias seguidos, diz-se a maior greve a sério,que este País já conheceu. Numa das últimas reuniões de negociação, no dia 1 de Agosto de 81, dos três ou 4 dirigentes que lá estavam, dois eram do Sobral.Eu e o José Lopes.Diz-se que foi a greve com mais dias de paralisação de que há memória em Portugal.Que teve muitos e bonitos episódios teve.Que devem ficar para a história, devem.Até para escola.Que praticamente só eu os posso contar,todos, também é verdade.Por mim, não quero levar certos segredos para a cova.Desde a influência decisiva do PCP, até à ajuda do eng.Álvaro Leal,(chefe da informática) que me passava todas as informações de que precisava até ao Alfredo Pereira, (Peixoto), que fazia o que podia, passando pelo Eng.Faria e o DR.Cabral, mais os funcionários da Caixa de Previdência , na Covilhã, todos não fomos demais para escrever uma das páginas mais bonitas da luta laboral e do movimento sindical em Portugal.Penso que foi a única vez, ao longo da minha vida, que fiz algo de que me orgulho, muito.
Quando quiser, estou nessa..!

Anónimo disse...

Caro António Lopes
Antes de partir para um trabalho com tal dimensão é precisos« definir a metodologia. Geralmente o trabalho histórico parte de documentos cuja autenticidade é reconhecida e já repousam em arquivo podendo ser referenciados. Obviamente sempre é possível referenciar também os documentos de que dispõe. O trabalho de sociologia fabrica o seu próprio documento geralmente na forma de entrevista. O históriador também pode produzir o chamado documento oral, para ser utilizado de imediato ou ficar selado e ser apenas utilizado no futuro. Também é possível fazer a história de uma geração através do cruzamento de biografias no género da dita prosopografia: António Lopes, José Lopes, Abel etc.. Um dia destes continuaremos, porque hoje é Noite de Natal
asp

virgilio neves disse...

Amigo A.LOPES,nesse livro eu gostaria de ter uma palavrinha a dar sobre os 9 meses que passei(voluntariamente)de Agosto/75 a Maio/76 entre 30 e tal Caboverdeanos.
Das 7 às 15h dentro da MINA E DEPOIS ATÉ ÀS 10 DA NOITE A VENDER-LHE COPOS DE TINTO E CERVEJA.nA TABERNA DO CIMO DO BAIRRO.

Anónimo disse...

Das histórias de vida, que vou conhecendo, no Sobral, a mais interessante parece-me a do Virgílio Neves. O Homem é um autêntico Fernão Mendes Pinto, de sete ofícios, pelas sete partes do Mundo, sempre a conseguir sobreviver em mil dificuldades quotidianas e com boa disposição. No entanto, o que diz aqui é muito pouco para fazer da sua biografia um bestseller. Falta-lhe sal e pimenta e deve ser mediada por autor com talento. No entanto, eu louvo as suas reservas. Em espaços, como este, devemos ser contidos ou comedidos. Corremos o risco de ser mal interpretados e o mundo da intimidade é algo que deve ser apenas de cada um.
asp

António Lopes disse...

António Lopes:É como eu digo..! Pelos vistos,temos tudo.Até vontade.Naturalmente que sim, caro asp.Há muito já escrito acerca das minas.Este período a que me refiro e de que fui um dos protagonistas, do ponto de vista do movimento operário e sindical,foi, em minha opinião,dos mais significativos na vida das minas, não desconhecendo eu, um movimento importante creio, que em 1927, e a chamada greve do carboreto,de consequências,mais violentas para alguns dos trabalhadores de que lhes resultou a morte.
Seria interessante um trabalho que fizesse a história das minas do ponto de vista da luta dos trabalhadores.A "Guerra da Mina" de Fernando Paulouro e Daniel Reis, tratou o período a que eu me refiro,mas precisa de muito aprofundamento. Quanto às despesas de publicação sempre se pode arranjar uns patrocinadores...
Virgílio;Antes do 25 de Abril os Cabo Verdianos, chegaram a ser 600.Tudo gente de bem,muitas vezes maltratados com tiradas de racismo primário.Era um tempo em que havia muitos ex-militares regressados do Ultramar que tinham dificuldade de convivência,especialmente nos 1ºs tempos.Moderei e defendi em muitas situações.Depois do 25 de Abril, com liberdade para tudo, até para fazer asneiras,as coisas acabaram por explodir.9 meses é muito pouco para o que quer que seja.Dá para nascer uma criança que é, do que é do meu conhecimento, a coisa mais notável que acontece nesse período de tempo.Para os marinheiros que agora andam na marinha, um ano, eu costumo dizer que não dá para aprender a pôr o alcache.Estou a brincar.Todos os contributos são importantes.Bom Ano para todos.Este blog começa a entrar pelos caminhos que devem nortear estas ferramentas da comunicação.Parabéns a todos.

António Lopes

virgilio neves disse...

Pois é amigo António Lopes eu sei que os meus 9 meses comparados com os 24 anos de mineiro dos nossos pais,não foram nada,mas do ponto de vista pessoal,sempre darão para o II capítulo das minhas memórias.Escrevi 9 meses como podia ter dito quase um ano, mas assim sempre tem aquele sentido figurado de entrar todos os dias no ventre da mãe Terra(mina) que nos "dava" o sustento,ainda que o ordenado não chegasse aos 5 euros semanais.
Também naqueles dias as cartas da manorada que o Fernando"coronel" me entregava demoravam um mês a chegar e agora o computador faz isso num abrir e fechar de olhos.
Quanto aos CABOVERDEANOS (que tinham ganho a independência um mês antes de eu entrar na Mina) ainda eram umas centenas,mas no meu Desmonte,brancos eramos só o Vigilante,o Fachina e eu. O que significa que cheguei a ser ajudante de alguns antes de me tornar marteleiro.Então, independentes e vaidosos, preferiam conversar em crioulo e lá tinha eu que me adaptar ao linguajar.
Ahh,ainda havia outra coisa branca lá na escuridão da Mina:-O sorriso deles e o arroz cozido que eles comiam sem garfo do interior dos cartuchos de papel.(haja humor)racismo jamais.

Anónimo disse...

Caro António Lopes,
Neste momento, tenho três livros em fase de acabamento e, depois deles, conto dedicar-me a fundo à História dos Panos, sobre a qual também já escrevi, para ser um Director do Museu de Lanifícios mais competente. Além disso tenho duas revistas on-line a UBIMUSEUM, n. 1 e a UBILETRAS n.3 para fazer sair: uma em Maio e outra em Novembro, que também me ocupam, além das aulas, orientações etc.. Curiosamente, já escrevi sobre a «A Metalurgia Portuguesa em Finais de Quatrocentos e Primórdios de Quinhentos: Alguns Subsídios» e tanto poderia levar a cabo uma História das Minas da Panasqueira na perspectiva humana ou dos homens que lá trabalharam e das envolvências, como dos imensos recursos que já saíram de lá e para os quais fui sensibilizado, ainda muito novo, tinha 12 anos, na separação que deles faziam no Rio. Veremos um dia, a minha disponibilidade. Todavia, se o António quer propor um patrocínio, para tal edição à UBI, eu não posso recusar elaborar um projecto para o efeito. Contacte-me em asp@ubi.pt. se for essa a sua vontade.

Anónimo disse...

Caro Virgílio
A esse capítulo que pode ser o segundo, ou outro, o título, que em meu entender fica bem, é o de Marteleiro, depois podes remeter a todos os marteleiros de que tiveres memória e aos outros ofícios mineiros. Com um pouco de imaginação podes ainda remeter ao Malleus Malleficarum, que traduzido em português significa martelo de feiticeiros ou malho de bruxas e entras noutra esfera.
asp

Anónimo disse...

Já lá vão mais de 40 anos que,em noite de serão de aldeia,me foi contada a travessia de São Jorge da Beira em direcção ao Fundão- a cavalo de um burro nos anos de 1903 a 1906- para se tornar um cidadão ilustre e que nos abriu o caminho das letras: falo do saudoso prof.José Pereira.
Desde a narrativa do panasco(erva gramínea com alguma abundância no local que daria o nome à Panasqueira),os carvoeiros locais até às peripécias ambientais daquela época.O tempo também se faz de memórias e as estórias de ontem também se repetem hoje,infelizmente.As insuficiências de uma interioridade mal estudada ,desprezada porque os seus "melhores" se afastam ou a desprezam.A UNIVERSIDADE portuguesa tem aqui um papel insubstituível no estudo consequente e aprofundado ...porque falta ESCOLA e trabalhar muito.
As novas gerações merecem-no...e o país também.
FS