É de reconhecer o mérito que resulta da manutenção de uma tradição cujas origens se perdem no tempo (a propósito, o "nosso historiador" pode dar-nos informações sobre a natureza deste evento e sobre a sua origem?). Será um rito de origem exclusivamente católica ou existirão resquícios de laicidade?
Nunca participei, sendo apenas esporadicamente espectador. No entanto, creio que a "ladainha" que é repetida ao longo do percurso tem menos espetacularidade do que aquela a que assistia nos anos 60/70 e que, se não me engano, rezava assim:
"Pequei senhor, pequei Tende misericórdia de nós. Pequei Senhor que tanto nos amais Tende misericórdia de nós ... E de nós" (aqui ouvia-se o estalido do chicote a bater nas costas de um dos penitentes, devidamente defendidas com uma cobertura de couro).
Por outro lado, a música da referida ladainha era bem mais interessante do que aquela que ouvi este ano. Será que se perdeu?
Em termos cenográficos, muito se perde com a iluminação nocturna, sendo bastante mais impressionante quando, noutros tempos, se efectuava completamente às escuras (aliás, até finais dos anos 60 nem sequer havia electricidade ...). AAG
1.É óbvio que o filme não nos mostra toda a sequência do acto, Assim sendo, deixo-lhes o benefício da dúvida, embora me pareça que a entoação dada à voz principalmente pelos elementos que dizem “e de nós…” é diferente. Há ali qualquer coisa que não (me) soa bem. Noto tb falta das canas (altas… para chegarem às janelas) e de outros materiais que alguns elementos do grupo levavam e dos quais não me consigo lembrar.
Este ritual chegou ao Sobral, sensivelmente na última metade dos anos (19)50, por intervenção do Sr. Joaquim Azinha”, do Paúl. E os ensaios e preparação para o ritual eram feitos no Cabecinho de Baixo, no Pátio do Ti Joaquim “Morgado”.
Outro ritual, de uma beleza extraordinária (na minha opinião) efectuado também na Quaresma era a “Encomendação das Almas”, em que o grupo se dividia: Uns iam para os Torgais, outros para a Torre da Igreja e com uma “voz” que parecia que vinha lá do fundo da alma respondiam uns aos outros. Ainda hoje. não sei se era uma oração, se era um cântico da Paixão. Sei que era bonito de ver e ouvir…
Consta no meu "Portugal Adentro": "Por toda a parte, de um e outro lado da Estrela, em Sobral Pichorro ou no Teixoso, surgiram capelas, calvários e imagens do Cristo Crucificado, dito apenas Santo Cristo e também Santo Cristo das Almas , por vezes de grande dimensão , as dores do mesmo apareciam aumentadas pela flagelação , coroação de espinhos e pelas cinco chagas, com representações populares, algumas das quais chegaram aos nossos dias. Em todas elas, parece que os caminhos dos vivos se cruzavam com os dos mortos numa certa solidariedade entre esta vida e uma outra, a solidariedade na dor e na alegria da ressurreição que se sabe próxima, na certeza de mais uma Primavera, a manifestação mais óbvia da vitória sobre a escuridão e o frio invernais. A dimensão trágica dos momentos representados assenta quase sempre nas sólidas referências das orações de refúgio, por todos conhecidas e recitadas, particularmente no "Pai-Nosso". As cores dominantes, o negro, o roxo e o branco, morte e vida, pecado e virtude, condenação e salvação e até fama e esquecimento, na sua ténue fronteira sobem e enfeitam os altares de todos os templos. Mais ontem do que hoje, o povo simples vivia a Quaresma no recato e na mais séria abstinência que chegava a questionar o tempero do simples caldo. Particularmente, nas sextas-feiras desta quadra litúrgica, os «cramores» junto das igrejas e ermidas relembravam o vale de lágrimas desta vida . Todavia, outras cerimónias compunham esta quadra nem sempre com a presença dos sacerdotes: Encomendação das Almas – correspondentes aos antigos clamores, em Idanha-a-Nova, liturgia sem sacerdote-clérigo, em lugares sacralizados pelo povo e um assumido representante deste com funções de sacerdote-laico; Procissão dos Agonizantes – em Alfaiates; Procissão das Lanternas – em Aldeia João Pires, na Semana Santa; Procissão do Senhor dos Passos – em Celorico da Beira, no Fundão, na Guarda, em Idanha-a-Nova, no Teixoso, a imagem sofredora de Jesus no caminho do Calvário, com os momentos de intensidade dramática dos encontros com a sua mãe, a Virgem Maria, a amiga, Maria Madalena e o discípulo mais íntimo, João, a Trindade Divina, representada no filho de Deus, feito homem, ao lado de uma trindade absolutamente humana; Procissão de Penitência dos Terceiros – em S. Vicente da Beira, precedida de um sermão na capela de S. Francisco, passava pelas ruas da vila, em tempos idos, porventura ainda actualmente, segundo alguns testemunhos, com a representação de moralidades em andores: o Paraíso Terreal, o arcanjo S. Miguel, as Árvores do Bem e do Mal, Eva e a Serpente ; Procissão dos Penitentes – no Paul, à noitinha de todas as sextas-feiras da Quaresma, liturgia sem sacerdote ; Procissão dos Terceiros ou das Cinzas – no Teixoso, desde o século XVI até cerca de 1940. Abria com um estandarte, a que se seguia um espinheiro, que figurava a árvore da ciência ; Representação dos Passos da Paixão de Cristo – durante as sextas-feiras da Quaresma na igreja da Misericórdia de Idanha-a-Nova e da responsabilidade dos respectivos irmãos . Apontando para conteúdos éticos óbvios, ao lado da paixão de Cristo, representava-se a saga de Judas Iscariotes, o traidor que trocou Cristo por trinta dinheiros. Para todos, o crime de Judas não lhe permitia a salvação daí aparecer quase sempre nos instrumentos notarias como o exemplo do excomungado, destinatário de todas as maldições e o mais certo companheiro do Diabo nas eternas penas infernais, paradoxalmente, sem a mínima piedade cristã . Perante a traição, o rompimento de um acordo ou de um pacto, a caridade terminava, para vingar a maldição sobre quem o rompia e toda a sua descendência, até à sétima geração, entregue ao diabo e às penas do Inferno, por toda a eternidade, na mais consabida retórica." asp
Caro AAG, em síntese, ao texto sem notas que deixei acima, confirmo de facto esta dimensão de liturgia sem sacerdote, que o nosso Sobral Filho relembra bem e de que eu tenho alguma Memória. O pátio do tio Joaquim Morgado que eu lembro bem, dos meus tempos de menino, era ponto de encontro naquele tempo em que ali no Cabecinho de Baixo havia muita juventude, dadas as famílias numerosas de filhos varões: O Zé, o Joaquim, o nManuel do Ti Morgado, depois os filhos da tia Delfina Silva, Manuel, António, Alfredo, Daniel. No Sobral, não há um Calvário propriamente dito onde a representação pudesse ser feita como os que foram multiplicados no século XVI e há um exemplo muito rico na Covilhã onde a respectiva capela quinhentista foi depositária de um um "lenho da Vera Cruz" oferecido pelo infante D. Luís, ou seja um suposto pedaço da Cruz em que Cristo foi crucificado e que hoje está na Igreja de Santa Maria ao que me parece. A cruz que consta na Portela comemora os centenários e não se aproxima do imaginário rico destes calvários daí a representação ter sido feita à volta da Igreja onde foi o primeiro cemitério do Sobral e fique bem aí esta solidariedade entre vivos e mortos como digo acima. Este é o momento grande da Comunhão entre vivos e mortos, porque todos os cristãos vivem na expectativa da ressurreição. Sem ela, também ouvimos muitas vezes dos sacerdotes canónicos é vã a nossa fé. asp
Caro ASP: Já tinha lido no teu livro essa passagem. Ocorre, porém, que há tempos, o Jornal do Fundão, num artigo sobre a Procissão dos Penitentes, no Paúl, invocava ainda uma certa semelhança com o cortejo de outros "condenados" pela sorte, mais concretamente os leprosos que eram erradicados do convívio social, desterrados para leprosarias ou impedidos de se aproximarem que fosse das povoações. (A propósito, aconselho vivamente a leitura de um dos diversos contos de Miguel Torga, O Leproso, em Novos Contos da Montanha). Por outro lado, a realização de cerimónias de pendor laico, ou seja, sem directa interferência da Igreja, são comuns, por exemplo, na Semana Santa em diversas cidades de Espanha. Fenómeno que, noutra época do ano, como bem sabes, ocorre com as Festas do Espírito Santo, nos Açores, onde ambos exercemos funções. AAG
Caro AAG Trazes à colação em poucas linhas muitos temas e sobre cada um merece um tratado e não estas poucas linhas. A questão dos leprosos, no mundo cristão, tem de ser tratada com muita sabedoria. Há referências às gafarias antigas objecto de caridade que na nossa região rementem até ao século XIII na Covilhã e em Castelo Branco. Os gafos não precisam de momentos de penitência, pois toda a vida deles está marcada pela mesma. De momentos de penitência, precisam os que em certos momentos do ano cometem excessos de abundância, alimento etc. No entanto, sempre houve uma manifesta piedade cristã em relação aos leprosos Leia-se em S. Lucas (16, 19)a parábola do rico avarento e de Lázaro leproso, com destino bem diferente, aquele foi para o inferno e este para o céu. Jesus sempre teve uma certa predileção pelos mesmos e curou diversos.
As Festas do Espirito Santo inserem-se de facto em liturgia sem sacerdote e as dos Açores têm raízes na Beira, ainda há localidades onde as mesmas acontecem, embora em França haja festas do mesmo género que Heitor Pinto já comentou. Têm a ver com outra realidade que vai para além da religião e toca o mundo da política e do poder. Têm que ver com actos de uma comunidade que diz ao poder político e religioso que é capaz de se organizar, eleger o seu senhor, distribuir o seu alimento, autogovernar-se numa palavra. Todavia, estas festas apontam já para a terceira pessoa da Santissíma Trindade, e para o fim dos tempos ou parusia, em que reinará a felicidade, na sucessão que Joaquim de Fiore estabelecera de Tempos do Pai (Antigo Testamento),Tempos do Filho (Novo Testamento)e tempos ou Reino do Espírito Santo, que já teria sido inaugurado na Idade Média dizem alguns por S. Francisco de Assis. Eu também quero acreditar que esta terceira idade já foi inaugurada, a da fraternidade universal, de homens bons e santos, capazes de dar trabalho e pão a quem precisa e este particularmente aos que não têm capacidade de o obter pelas suas mãos como era o Lázaro do Evangelho de S. Lucas que às vezes é confundido com o Lázaro que Jesus ressuscitou. asp
Na noite de Luz em que nasceu Jesus, Uma fonte de azeite alimentou Roma E os mais pobres pastores da Lusitânia, Viram brilhar uma Estrela nos Hermínios.
Na tarde triste, que crucificou Jesus Cristo, As Águas Ceiras gemeram tanto sangue E o Sobral temeu o fim do nosso Mundo, Por quarenta horas de tanto horror e trevas. RR
AAG-Esse conto(DA MONTANHA)DO MIGUEL TORGA É DOS QUE EU GOSTEI MAIS.Já li e reli.Assim como os outros e os "novos também".Aliás,tenho pena de só "ter descoberto"o Miguel Torga oito dias depois da morte dele, mas ainda bem.Mais vale tarde do que nunca. APAIXONEI-ME,E JÁ LI QUASE TUDO O QUE ELE ESCREVEU. OS DIÁRIOS ANDAM COMIGO PARA TODO O LADO . Para mim, ele daria um óptimo Sobralense.
Caro Virgílio, intrometo-me na conversa. Quando comecei a dar aulas no D.João de Castro em Lisboa em 1976 esse era um dos livros de leitura obrigatória. Passados tantos anos noto, que Miguel Torga (Adolfo Rocha) começa a ser difícil de entender pelas novas gerações (professores e alunos),pois nele exala toda a antiga civilização rural entre Trás-os-Montes e as nossas serranias, a chegar ao fim. Ele era Natural de S.Martinho de Anta, mas exerceu a sua especialidade de Otorrino no concellho de Arganil e em Coimbra e sempre foi caçador. Passou muitas vezes pelo Piódão Dá-se com ele o mesmo que com Aquilino Ribeiro. Por serem dois seres superiores, ficamos deles a uma distância infinita na inteligência com que interpretam o Mundo. Eu creio que a nossa geração ainda os entende razoavelmente. Nós ainda pisámos o mesmo códão que eles, mas a gente nova já não sabe o que isto é sem ir ao dicionário e procurar imagens na internet.
As apreciações são sempre subjectivas. Mas, no que me diz respeito, considero o Miguel Torga um dos melhores escritores portugueses, revelando uma polivalência incomum (romance, diários, poesia, etc). Por isso, nunca compreendi o "desprezo" de certas elites e dos meios de comunicação social relativamente à vida e obra de Miguel Torga. Desprezo esse que me parece ainda mais grave quando se manifesta nos currículos escolares. Trata-se de um escritor que, como o mesmo descreveu na sua autobiografia "Criação do Mundo", subiu a pulso a escada da vida, tendo começado por emigrar para o Brasil e apenas mais tarde do que seria normal conseguiu formar-se em Medicina. Muitos dos contos, assim como de outras obras bem poderiam ser escritas por um beirão, tal a semelhança entre os relatos que faz relacionados com Trás-os-Montes e as circunstâncias geográficas e sociais da Beira Interior que outro grande escritor (e por sinal também médico), Fernando Namora, tão bem retratou nos Retalhos da Vida de Um Médico ou em romances como as Minas de São Francisco ou a Noite e a Madrugada. Mais difícil de compreender para as gerações mais novas serão as obras de Aquilino Ribeiro que usa (e abusa) dos provincianismos que só o pessoal da Beira Interior (incluindo as chamadas Terras do Demo) consegue "mastigar". AAG
Pois é Caros amigos AAG e ASP,fui ler o Namora,Torga,Aquilino e Redol muitos anos depois do exame do 5º(depois 9º)ano. Como teria sido bem maior a minha nota a Português se me tivesse calhado um deles em vez do frei Luis de Sousa...O Torga não gostava de dar entrevistas, mas se fosse vivo hoje,eu ia a Coimbra só para ele me consultar da vista e falar com ele sobra as perdizes do meu Carvalhal. Um abraço para vós.
Caro Virgílio, O Doutor Adolfo tratava-te o nariz, a garganta e os ouvidos e mandava-te a um oftalmologista. Quanto ao Frei Luís de Sousa, lembra-te que foi composto por quem modernizou a Língua Portuguesa, Almeida Garrett, remete para a História Portuguesa na sua essência e é um mestre de mestres. Cada um, em seu tempo e que os herdeiros sejam todos dignos! O que é um facto, tendo sido Portugal um país maioritariamente analfabeto, até à nossa geração, sempre teve grandes literatos, leitores e ouvintes de histórias. Contava minha mãe que meu avô João Pereira, que morreu bastante novo e eu não conheci, se sentava naquelas "escaleiras", no bairro da Ponte, a ler rodeado por quem o queria ouvir. Obviamente, bem teria sido melhor que a alfabetização e a literacia tivessem chegado bem mais cedo como aconteceu nos países protestantes. Todavia, o nosso povo sempre recebeu a cultura mediado, por interposta pessoa, e actualmente acontece um pouco o mesmo com as crónicas semanais dos grandes publicistas da TV que lêem por todos nós e frequentemente interpretam os sinais dos tempos a seu favor ou do seu grupo de interesses. asp
já vamos em leprosos? Então e as almas? Afinal alguém explica o fundamento da existência dos "penitentes"e porque é que ninguém se refere à "encomendação às almas? JBG
Caro JBG, Estás a ser ingrato perante contribuições pro bono que aqui deixamos. Está tudo explicado acima. Lê com atenção e se quiseres saber mais passa de fio a pavio a Bibliografia Analítica da Etografia Portuguesa que está on-line. Para outras matérias que atualmente me ocupam eu já a vi "todinha" e posso garantir-te que a suma feita no meu Portugal Adentro não perde nada. Creio que ainda deve haver alguns exemplares deste nos Serviços Gráficos da nossa UBI. Eu já esgotei os trinta que me couberam. asp
Caro JBG, Uma explicação prévia ao longo estudo que vais fazer sobre os Penitentes. Não se faz encomendação às Almas, mas sim encomendação das Almas, no sentido em que se reza a Nossa Senhora e a Todos os Santos, mesmo a Jesus Cristo e a Deus, para que auxiliem estas no caminho do Céu, lhe perdoe a passagem dolorosa pelo Purgatório e o demónio as não desvie para o Inferno. Também se percebe que antes de Jesus Cristo vir a salvar os homens e, portanto, antes da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, as almas dos justos estariam no Limbo, daí alguma veemência nas cerimónias mais antigas da Semana Santa. Afinal, uma Comissão de Teólogos, mandatada pelo actual Papa propos o fim do Limbo, mas vai ser muito difícil extingui-lo na linguagem dos poetas e dos povos. O RR é que podia enviar um poema a propósito. asp
As conversas são como as cerejas. Daí o interesse do diálogo respeitoso e nos comentários que felizmente são de nível mais elevado do que aquele que surge normalmente em blogs do gênero, designadamente nas caixas de comentários dos jornais on line. Doe penitentes já passámos para a literatura e para a cultura em geral, de modo que, creio sinceramente, que todos poderão beneficiar da troca de conhecimentos e experiências. Quanto ao repto do JBG creio que a resposta já foi dada nos comentários anteriores. AAG
caro asp, poesia de encomenda é o que eu mais facilmente produzo,longe, muito longe, da inspiração e boa forma que motivavam Fernando Pessoa, mas tranquilo por já não haver inquisição e beneficiando da tolerância católica como aprendiz de poeta. Então, aqui vai uma espécie de poema sem rima sobre: O Limbo
Autorizada pela Cúria do Vaticano, Uma comissão romana extinguiu o Limbo. Outra ainda, em data a vir e outro papa, Há-de pôr fim às almas do purgatório. O inferno tem os dias contados, O diabo já pôs os cornos no seguro E o paraíso há-de perder as suas delícias.
Que vai ser dos poetas do Ocidente? Sem metáforas e palavras do Além, Crianças, sem lugar, antes do Juízo, Almas, sem purgatório, onde penar. Sem Inferno, para guardar o demónio, O paraíso, assim, deixa de ter sentido. RR
A minha curiosidade de saber mais e o meu empenho em fazer melhor,obriga-me a viajar por aqui. É certo que fico feliz e grata a todos vós, ao ler as vossas partilhas tão interessantes e enriquecedoras. Como gosto de poesia também vos deixo um pedacinho de Plablo Neruda.
"Morre lentamente quem não viaja, Quem não lé, Quem não houve música, Quem destrói o seu amor-próprio, Quem não se deixa ajudar!"
Caro ASP OU asp, é claro que o Dr. Adolfo Rocha era otorrinolaringologista,foi falta de reflexão da m/ parte.Creio até que a singela placa do seu consultório ainda lá continua no 1º andar a poucos passos da ponte de Sta.Clara e do monumento (de cinco maiúsculas de bronze)que lhe deixaram em consola sobre as águas serenas do Mondego. Por poucos horas não assisti à inauguração do mesmo,mas em Agosto (de 2007)não falhei a exposição dos seu centenário e fiz questão de assinar o livro de visitas na sua casa-museu.A visita a Sabrosa-sua terra natal-é que ainda vai ter que esperar mais uns anos. Quanto ao teu avô Pereira saber ler,digo-te que o meu avô paterno,também Pereira mas Manuel,que era natural de Secarias-Coja,mais a m/avó Constância veio casar-se no Sobral, onde era conhecido por "Manel das letras". Ensinou muita gente a ler, incluindo o meu pai,ali pelo ano de 1920 e que chegou a fazer exame da 3ª classe. Agora quanto facto dos países protestantes serem mais instruídos que (nós) da península Ibérica(Sefarade)para os judeus, deve-se ao facto de D. João III, ter pedido ao papa que lhe deixasse "tratar" de alguns milhares de judeus.E assim perdemos o melhor dos nossos intelectuais desde aquela época até ao Marquês de Pombal. Será que os nossos ascendentes "Pereiras" não seriam cristãos novos? Já li em vários livros que os apelidos OLIVEIRA, PEREIRA,NOGUEIRA,CASTANHEIRA,LOUREIRO,etc.era escolhidos por aqueles que se convertiam e aceitavam ser batizados para fugiram à fogueira da inquisição.
Caro Virgílio Em vários estudos meus sobre o período da obrigatória conversão e necessário baptismo encontrei mudanças de nome judaico para cristão, todavia em nenhum caso esses nomes de família que dizes. Nós, os Pereira,podemos ser mesmo da família dos Velhos Pereiras, os mesmos de Nuno Álvares. O pai deste foi dos pais prolíficos homens da Beira e pelo que noto vieram todos do eixo que, de Cernache de Bom Jardim, chega ao Sobral, vários da antiga Cebola e actual S. Jorge. Isto não quer dizer que não tenhamos uma costela judaica, por exemplo, pelos Lopes, cuja família deu dos primeiros mártires da Inquisição. Também já li essa afirmação, mas o rigor histórico impõe-me que só dê fé quando verifico aquele facto nome judaico/nome cristão. Obviamente a leitura individual do texto sagrado fomentou tanto no caso judaico como cristão a alfabetização.
Já se chegou à Inquisição. As letras são, como se disse acima, autêmticas cerejas. Quanto ao mito de os apelidos com nomes de àrvores serem de origem judaica, é mesmo um mito. Quando se converteram foi permitido legalmente aos judeus assumir o apelido que quisessem. Por vezes assumiam o apelido dos padrinhos. Assim passaram a usar apelidos como Noronha, Bragança, Sousa, ou os mais modestos Lopes, Rodrigues... No entanto não podemos esquecer que a população portuguesa tem muita percentagem de sangue judeu, árabe, mouro, etc., numa enorme mistura iniciada ainda Portugal não era nação. E onde estão os descendentes dos milhares de escravos que existiram por todo o país? O estudo da origem das famílias devia acabar com todos os raciscos. No estudo que tenho feito sobre a Inquisição no distrito (alguns milhares de processos) só encontrei processados próximo do Sobral (em Casegas, Unhais-o-Velho, Pampilhosa da Serra, Silvares) 4 ou cinco e nenhum foi preso por judaismo. Quanto aos Pereras do Sobral a sua origem está na Quintâ dos Cavaleiros submergida pela barragem de Sta Luzia, Unhais. Daqui espalharam-se pelas Meãs, Unhais, Cebola, Sobral sendo todos descendentes de Domingos Álvares Pereira e D. Clara Pereira que terão nascido cerca de 1540. Para trás tenho dados que não confirmei. Como diz ASP, poderão ser da família do Santo Condestável. D. Clara sera descendente de Rodrigo Álvares irmão inteiro do condestável. Voltando aos penitentes, a sua raiz será mais antiga, anterior à era cristâ. Estes ritos penitenciais estão espalhados por muitas culturas, à semelhança das procissões pelos campos pedindo a chuva. Lembro-ne de em miúdo (ou a memória está falhando) participar no Sobral de uma destas procissões em ano de seca. GS
E ,para além de uma mistura de povos peninsulares desde a antiguidade,também nós portugueses ,com a expansão marítima,trouxemos africanos para o continente que rapidamente se casaram com os residentes e que deu este Grande Povo-o português. fs
Ora aí está o que eu gostava de ler sobre os Pereiras, mal-grado meu também os houve traidores, como diz Camões, que confirma Nuno Álvares, o herói desprendido da recompensa, como o verdadeiro herói. Grande,grande, é aquele que faz grande obras sem estar á espera do prémio ou recompensa material. De facto, sempre houve homens destes na História Portuguesa, que deram a vida pelo bem comum português ou universal, um dos últimos parece-me o António Guterres que como Comissário para os refugiados tem uma missão bem difícil, agora na Guiné, e de pouca visibilidade na actual comunicação social, ocupada com pouco mais do que as maldades da troika e dos serventuários da Goldman Sachs que fazem de nós todos penitentes e parece para o resto da vida.
A comunicação social dixou e ser o quarto poder para passar a ser o Mimistério da Propaganda dos grandes grupos económicos, para os quais a vida de António Guterres não rende lucros nem é motivo de grandes audiências. Sobral no séc. XIX era destino de migração. No séc. XX foram os Sobralenses que tiveram de partir. A todos os que saíram da sua terra a constuir novos mundos presto a minha homenagem. GS
Andava para visitar desde a inauguração, o Centro Interpretativo de Aljubarrota,coisa que só pude materializar no passado verão, na companhia de meu filho José. Confesso que fiquei orgulhoso de ser português. Percebendo a história em diferentes ângulos e a geografia da região, faz-se luz sobre aquele grande marco do nosso destino colectivo-o marítimo. E deveu-se ao grande estratega/homem D. Nuno Álvares Pereira. Recomendo a visita dos nossos jovens porque ali também está o ser português na sua plenitude. fs
Caros GS e FS, Há dias honrei S. Bernardo de Claraval por ter empenhado a Ordem Cisterciense e a do Templo na construção de Portugal,como um dos santos padroeiros do país. Nuno Álvares é agora o Beato Nuno, mas há outros, todos muito empenhados na reconstrução da Pátria, gente anónima e santa, para a dar a volta a isto e honrar o país. De facto, foram os emigrantes que nos finais do século XIX permitiram a formação de uma banca portuguesa, foram as remessas dos emigrantes na década de sessenta do século XX que permitiram que a mesma banca se modernizasse e deixasse a letargia salazarista e agora parece que o Governo espera um novo milagre com uma nova onda emigração e uma nova banca em que eu também quero acreditar. Eu espero que, com todos os santos protetores, a começar por S. Bernardo, Santo António, o Beato Nuno e todos os outros, nós possamos fazer um país mais próspero e por isso vos deixo que vou trabalhar nos meus papéis, que é a trabalhar que se conquista a santidade. asp
O Condestável Nuno Álvares Pereira,foi beatificado em 1918 e três an0s depois iniciou-se o processo de canonização.Os nosso hermanos Espanhóis(devido à matança de Aljubarrota)tudo fizeram para que o Beato Nuno de Santa Maria não merecesse a honra dos altares. No entanto em 26 de Abril de 2009 o nosso Beato foi canonizado por Bento XVI,é passou a Santo.
Olá! Eu por acaso fui um dos penitentes este ano e embora seja com agrado que participei na tradição deste ano, como tenho vindo a fazer parte sempre que possível, é com pena que informo que começámos tarde devido á dificuldade de arranjarmos o mínimo de 12 pessoas para a celebração, "cota" essa que acabámos por cumprir á risca (com 12 penitentes e pode-se reparar que o da relha também levava a cesta que assinalava a paragem e os que levavam as "canas" iam a fazer também de "Marias")... é uma pena que cerca de 4 elementos eram de Coimbra e desejosos de participar enquanto que muitos sobralenses recusaram a proposta de participar numa tradição que eles são os principais responsáveis para a manter viva. Já houve uma altura á cerca de 3 ou 4 anos em que eram quase 20 a fazer e eram 6 ou 8 que levavam as canas. Mas graças a Deus tudo correu bem e mais uma vez se cumpriu a marcha.
Já as canas, foi para nossa surpresa que ao prepararmos a caminhada recebemos a noticia de que as mesmas tinham desaparecido sob a hipótese de alguém as ter queimado, por isso improvisámos com ripas que acabavam por ter o mesmo tamanho.
Mas pronto, cumpriu-se, é o que interessa e para o ano há mais :)
Desejo Felicita-lo a si e a todos os demais elementos que pariciparam no evento.
A celebraçao dos Penitentes, como ja foi salientado creio, teve inicio no Sobral nos começos dos anos 50.
Uma linda tradiçao que seria agradavel e se deve manter, para deixar algo aos vindouros e quem sabe, talvez despertar neles o desejo de continuar as tradiçoes que contam ja uma certa idade na nossa terra.
Para nos, os ausentes, é sempre com grande prazer "visto as facilidades actuais... a Internet" observar e visualizar o que se passa no nosso torrao Natal.
Finalmente aparece alguém a explicar algo que não foi perceptível aos assistentes. Já agora, porque é que antigamente as pessoas não podiam assistir ao cerimonial? JBG
Caro JBG Pro bono, amigo João, dou-te a minha opinião, eu que nunca participei neste ceremonial,dada a minha trajectória pessoal, que os da minha geração lembram e de eu tenho a melhor e a mais grata memória, pois participava intensamente na liturgia canónica. Passei quatro semanas-santas, na Sé da Guarda entre os meus 16 e os 20 anos a cantar Gregoriano, a música que me enche a alma. E depois, convictamente, não me lembro que durante a minha meninice se realizasse este cerimonial popular. Ora, aí vai a minha opinião. Nas tradições populares, representam-se ritos para os quais os intervenientes geralmente não têm explicação. Realizam-nos com o essencial dos pormenores como os viram representar. Obviamente,fazem pequenos ajustes de acordo aos elementos que têm à mão, por vezes com muito custo pois sempre pensam que muito do essencial pode estar nesses elementos. Substituir: os varapaus por canas, as canas por ripas, a matraca, por relha, esta por uma campainha, para nós, pode parecer indiferente, para eles não. A interpretação deve pertencer aos etnógrafos, aos Antropólogos, aos Historiadores e até aos Teólogos. Como ainda foste aluno numa destas áreas, acima recomendei-te estudo e por ti descobririas quão difícil é responder à questão que levantaste. Em minha opinião, porque o mistério atrai, a mesma proibição é a forma antiga de estimular a participação, mas de uma forma discreta, empenhada, ela mesma misteriosa. O cortejo dos penitentes constitui a representação popular dos passos do Senhor, depois da última Ceia, na noite de quinta-feira Santa, de alguns do mistérios dolorosos da Agonia, da traição e suicídio de Judas, da prisão, da coroação de espinhos, da flagelação em alguns casos com mistura do que se pressupõe também passar na noite de sexta-feira depois da crucificação e morte, com a procissão do enterro. A agonia de Jesus Cristo no Horto das Oliveiras foi algo que sempre me perturbou. Significa a solidão no absoluto, cumprir uma missão no abandono daqueles que eram nossos amigos e deviam estar connosco, Judas, o próprio Pedro, etc. Os nossos Penitentes, nesta representação popular, associam-se a esta dor imensa e as almas penitentes do purgatório também na expectativa da Ressurreição como disse acima e que a Primavera também significa, dirão outros. Ouvir as Lamentações de Jeremias em gregoriano na Sé, ou tocar a Paixão segundo S. Mateus ou S. João, de Jean Sebastian Bach, podem hoje constituir momentos fortes de nos associarmos à Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, Mistério da Nossa Fé. Valete Frates asp
O cantar as Ladainhas em dois grupos ,com início no adro da nossa igreja,era,verdadeiramente,genuíno e tradicional no Sobral. Foi-me contado há muitos anos por pessoa já falecida, que o Sobral perdeu o 2º lugar no concurso da aldeia mais portuguesa de Portugal para o Paúl pelo facto daquela aldeia ter melhores acessibilidades que a nossa terra. Dizer-se-ia no tempo presente que o peso político do Paúl já ,então,era superior ao nosso? fs
Caro FS, Aqueles concursos eram ridículos e as classificações eram procedimentos de pretensa legitimação do regime fascista que as propunha. Hoje, ninguém os leva a sério, quer dizer, não interessam mesmo nada. De facto, não tenho informação, nem memória de o Sobral entrar em qualquer daqueles concursos e seria ridículo a nossa terra perder pela questão das acessibilidades: pois seria duplamente vítima. O regime servia-se de tais procedimentos para discretamente politizar os influentes rurais e atraí-los para a sua órbita e no Sobral havia poucos, quase nenhuns, ou mesmo nenhum. No Paúl, havia, mas também não vale a pena citar nomes para não destapar a caixa de Pandora. Vamos deixar descansar os mortos em paz e rezar por eles não uma ladainha, mas um Pai Nosso, que é a oração das orações ou para os que não creem cantar a "Grândola Vila Morena", que vem aí o 25 de Abril e ainda é necessário comemorá-lo contra ventos e marés. asp
39 comentários:
Ainda bem que existem Sobralenses com coragem para manter a tradição dos Penitentes,lembrando a celebração da Paixão e Morte de Jesus Cristo.
É de reconhecer o mérito que resulta da manutenção de uma tradição cujas origens se perdem no tempo (a propósito, o "nosso historiador" pode dar-nos informações sobre a natureza deste evento e sobre a sua origem?). Será um rito de origem exclusivamente católica ou existirão resquícios de laicidade?
Nunca participei, sendo apenas esporadicamente espectador.
No entanto, creio que a "ladainha" que é repetida ao longo do percurso tem menos espetacularidade do que aquela a que assistia nos anos 60/70 e que, se não me engano, rezava assim:
"Pequei senhor, pequei
Tende misericórdia de nós.
Pequei Senhor que tanto nos amais
Tende misericórdia de nós
...
E de nós" (aqui ouvia-se o estalido do chicote a bater nas costas de um dos penitentes, devidamente defendidas com uma cobertura de couro).
Por outro lado, a música da referida ladainha era bem mais interessante do que aquela que ouvi este ano.
Será que se perdeu?
Em termos cenográficos, muito se perde com a iluminação nocturna, sendo bastante mais impressionante quando, noutros tempos, se efectuava completamente às escuras (aliás, até finais dos anos 60 nem sequer havia electricidade ...).
AAG
1.É óbvio que o filme não nos mostra toda a sequência do acto, Assim sendo, deixo-lhes o benefício da dúvida, embora me pareça que a entoação dada à voz principalmente pelos elementos que dizem “e de nós…” é diferente. Há ali qualquer coisa que não (me) soa bem. Noto tb falta das canas (altas… para chegarem às janelas) e de outros materiais que alguns elementos do grupo levavam e dos quais não me consigo lembrar.
Este ritual chegou ao Sobral, sensivelmente na última metade dos anos (19)50, por intervenção do Sr. Joaquim Azinha”, do Paúl. E os ensaios e preparação para o ritual eram feitos no Cabecinho de Baixo, no Pátio do Ti Joaquim “Morgado”.
Outro ritual, de uma beleza extraordinária (na minha opinião) efectuado também na Quaresma era a “Encomendação das Almas”, em que o grupo se dividia: Uns iam para os Torgais, outros para a Torre da Igreja e com uma “voz” que parecia que vinha lá do fundo da alma respondiam uns aos outros. Ainda hoje. não sei se era uma oração, se era um cântico da Paixão. Sei que era bonito de ver e ouvir…
Consta no meu "Portugal Adentro":
"Por toda a parte, de um e outro lado da Estrela, em Sobral Pichorro ou no Teixoso, surgiram capelas, calvários e imagens do Cristo Crucificado, dito apenas Santo Cristo e também Santo Cristo das Almas , por vezes de grande dimensão , as dores do mesmo apareciam aumentadas pela flagelação , coroação de espinhos e pelas cinco chagas, com representações populares, algumas das quais chegaram aos nossos dias. Em todas elas, parece que os caminhos dos vivos se cruzavam com os dos mortos numa certa solidariedade entre esta vida e uma outra, a solidariedade na dor e na alegria da ressurreição que se sabe próxima, na certeza de mais uma Primavera, a manifestação mais óbvia da vitória sobre a escuridão e o frio invernais. A dimensão trágica dos momentos representados assenta quase sempre nas sólidas referências das orações de refúgio, por todos conhecidas e recitadas, particularmente no "Pai-Nosso". As cores dominantes, o negro, o roxo e o branco, morte e vida, pecado e virtude, condenação e salvação e até fama e esquecimento, na sua ténue fronteira sobem e enfeitam os altares de todos os templos. Mais ontem do que hoje, o povo simples vivia a Quaresma no recato e na mais séria abstinência que chegava a questionar o tempero do simples caldo. Particularmente, nas sextas-feiras desta quadra litúrgica, os «cramores» junto das igrejas e ermidas relembravam o vale de lágrimas desta vida . Todavia, outras cerimónias compunham esta quadra nem sempre com a presença dos sacerdotes:
Encomendação das Almas – correspondentes aos antigos clamores, em Idanha-a-Nova, liturgia sem sacerdote-clérigo, em lugares sacralizados pelo povo e um assumido representante deste com funções de sacerdote-laico;
Procissão dos Agonizantes – em Alfaiates;
Procissão das Lanternas – em Aldeia João Pires, na Semana Santa;
Procissão do Senhor dos Passos – em Celorico da Beira, no Fundão, na Guarda, em Idanha-a-Nova, no Teixoso, a imagem sofredora de Jesus no caminho do Calvário, com os momentos de intensidade dramática dos encontros com a sua mãe, a Virgem Maria, a amiga, Maria Madalena e o discípulo mais íntimo, João, a Trindade Divina, representada no filho de Deus, feito homem, ao lado de uma trindade absolutamente humana;
Procissão de Penitência dos Terceiros – em S. Vicente da Beira, precedida de um sermão na capela de S. Francisco, passava pelas ruas da vila, em tempos idos, porventura ainda actualmente, segundo alguns testemunhos, com a representação de moralidades em andores: o Paraíso Terreal, o arcanjo S. Miguel, as Árvores do Bem e do Mal, Eva e a Serpente ;
Procissão dos Penitentes – no Paul, à noitinha de todas as sextas-feiras da Quaresma, liturgia sem sacerdote ;
Procissão dos Terceiros ou das Cinzas – no Teixoso, desde o século XVI até cerca de 1940. Abria com um estandarte, a que se seguia um espinheiro, que figurava a árvore da ciência ;
Representação dos Passos da Paixão de Cristo – durante as sextas-feiras da Quaresma na igreja da Misericórdia de Idanha-a-Nova e da responsabilidade dos respectivos irmãos .
Apontando para conteúdos éticos óbvios, ao lado da paixão de Cristo, representava-se a saga de Judas Iscariotes, o traidor que trocou Cristo por trinta dinheiros. Para todos, o crime de Judas não lhe permitia a salvação daí aparecer quase sempre nos instrumentos notarias como o exemplo do excomungado, destinatário de todas as maldições e o mais certo companheiro do Diabo nas eternas penas infernais, paradoxalmente, sem a mínima piedade cristã . Perante a traição, o rompimento de um acordo ou de um pacto, a caridade terminava, para vingar a maldição sobre quem o rompia e toda a sua descendência, até à sétima geração, entregue ao diabo e às penas do Inferno, por toda a eternidade, na mais consabida retórica."
asp
Caro AAG, em síntese, ao texto sem notas que deixei acima, confirmo de facto esta dimensão de liturgia sem sacerdote, que o nosso Sobral Filho relembra bem e de que eu tenho alguma Memória. O pátio do tio Joaquim Morgado que eu lembro bem, dos meus tempos de menino, era ponto de encontro naquele tempo em que ali no Cabecinho de Baixo havia muita juventude, dadas as famílias numerosas de filhos varões: O Zé, o Joaquim, o nManuel do Ti Morgado, depois os filhos da tia Delfina Silva, Manuel, António, Alfredo, Daniel. No Sobral, não há um Calvário propriamente dito onde a representação pudesse ser feita como os que foram multiplicados no século XVI e há um exemplo muito rico na Covilhã onde a respectiva capela quinhentista foi depositária de um um "lenho da Vera Cruz" oferecido pelo infante D. Luís, ou seja um suposto pedaço da Cruz em que Cristo foi crucificado e que hoje está na Igreja de Santa Maria ao que me parece. A cruz que consta na Portela comemora os centenários e não se aproxima do imaginário rico destes calvários daí a representação ter sido feita à volta da Igreja onde foi o primeiro cemitério do Sobral e fique bem aí esta solidariedade entre vivos e mortos como digo acima. Este é o momento grande da Comunhão entre vivos e mortos, porque todos os cristãos vivem na expectativa da ressurreição. Sem ela, também ouvimos muitas vezes dos sacerdotes canónicos é vã a nossa fé.
asp
Caro ASP:
Já tinha lido no teu livro essa passagem.
Ocorre, porém, que há tempos, o Jornal do Fundão, num artigo sobre a Procissão dos Penitentes, no Paúl, invocava ainda uma certa semelhança com o cortejo de outros "condenados" pela sorte, mais concretamente os leprosos que eram erradicados do convívio social, desterrados para leprosarias ou impedidos de se aproximarem que fosse das povoações.
(A propósito, aconselho vivamente a leitura de um dos diversos contos de Miguel Torga, O Leproso, em Novos Contos da Montanha).
Por outro lado, a realização de cerimónias de pendor laico, ou seja, sem directa interferência da Igreja, são comuns, por exemplo, na Semana Santa em diversas cidades de Espanha.
Fenómeno que, noutra época do ano, como bem sabes, ocorre com as Festas do Espírito Santo, nos Açores, onde ambos exercemos funções.
AAG
Caro AAG
Trazes à colação em poucas linhas muitos temas e sobre cada um merece um tratado e não estas poucas linhas.
A questão dos leprosos, no mundo cristão, tem de ser tratada com muita sabedoria. Há referências às gafarias antigas objecto de caridade que na nossa região rementem até ao século XIII na Covilhã e em Castelo Branco. Os gafos não precisam de momentos de penitência, pois toda a vida deles está marcada pela mesma. De momentos de penitência, precisam os que em certos momentos do ano cometem excessos de abundância, alimento etc.
No entanto, sempre houve uma manifesta piedade cristã em relação aos leprosos Leia-se em S. Lucas (16, 19)a parábola do rico avarento e de Lázaro leproso, com destino bem diferente, aquele foi para o inferno e este para o céu.
Jesus sempre teve uma certa predileção pelos mesmos e curou diversos.
As Festas do Espirito Santo inserem-se de facto em liturgia sem sacerdote e as dos Açores têm raízes na Beira, ainda há localidades onde as mesmas acontecem, embora em França haja festas do mesmo género que Heitor Pinto já comentou. Têm a ver com outra realidade que vai para além da religião e toca o mundo da política e do poder. Têm que ver com actos de uma comunidade que diz ao poder político e religioso que é capaz de se organizar, eleger o seu senhor, distribuir o seu alimento, autogovernar-se numa palavra. Todavia, estas festas apontam já para a terceira pessoa da Santissíma Trindade, e para o fim dos tempos ou parusia, em que reinará a felicidade, na sucessão que Joaquim de Fiore estabelecera de Tempos do Pai (Antigo Testamento),Tempos do Filho (Novo Testamento)e tempos ou Reino do Espírito Santo, que já teria sido inaugurado na Idade Média dizem alguns por S. Francisco de Assis. Eu também quero acreditar que esta terceira idade já foi inaugurada, a da fraternidade universal, de homens bons e santos, capazes de dar trabalho e pão a quem precisa
e este particularmente aos que não têm capacidade de o obter pelas suas mãos como era o Lázaro do Evangelho de S. Lucas que às vezes é confundido com o Lázaro que Jesus ressuscitou.
asp
Na primeira linha há um "sobre" desnecessário
asp
A lenda da primeira Páscoa no Sobral
Na noite de Luz em que nasceu Jesus,
Uma fonte de azeite alimentou Roma
E os mais pobres pastores da Lusitânia,
Viram brilhar uma Estrela nos Hermínios.
Na tarde triste, que crucificou Jesus Cristo,
As Águas Ceiras gemeram tanto sangue
E o Sobral temeu o fim do nosso Mundo,
Por quarenta horas de tanto horror e trevas.
RR
AAG-Esse conto(DA MONTANHA)DO MIGUEL TORGA É DOS QUE EU GOSTEI MAIS.Já li e reli.Assim como os outros e os "novos também".Aliás,tenho pena de só "ter descoberto"o Miguel Torga oito dias depois da morte dele, mas ainda bem.Mais vale tarde do que nunca. APAIXONEI-ME,E JÁ LI QUASE TUDO O QUE ELE ESCREVEU. OS DIÁRIOS ANDAM COMIGO PARA TODO O LADO . Para mim, ele daria um óptimo Sobralense.
Caro Virgílio, intrometo-me na conversa.
Quando comecei a dar aulas no D.João de Castro em Lisboa em 1976 esse era um dos livros de leitura obrigatória. Passados tantos anos noto, que Miguel Torga (Adolfo Rocha) começa a ser difícil de entender pelas novas gerações (professores e alunos),pois nele exala toda a antiga civilização rural entre Trás-os-Montes e as nossas serranias, a chegar ao fim. Ele era Natural de S.Martinho de Anta, mas exerceu a sua especialidade de Otorrino no concellho de Arganil e em Coimbra e sempre foi caçador. Passou muitas vezes pelo Piódão Dá-se com ele o mesmo que com Aquilino Ribeiro. Por serem dois seres superiores, ficamos deles a uma distância infinita na inteligência com que interpretam o Mundo. Eu creio que a nossa geração ainda os entende razoavelmente. Nós ainda pisámos o mesmo códão que eles, mas a gente nova já não sabe o que isto é sem ir ao dicionário e procurar imagens na internet.
As apreciações são sempre subjectivas. Mas, no que me diz respeito, considero o Miguel Torga um dos melhores escritores portugueses, revelando uma polivalência incomum (romance, diários, poesia, etc).
Por isso, nunca compreendi o "desprezo" de certas elites e dos meios de comunicação social relativamente à vida e obra de Miguel Torga. Desprezo esse que me parece ainda mais grave quando se manifesta nos currículos escolares.
Trata-se de um escritor que, como o mesmo descreveu na sua autobiografia "Criação do Mundo", subiu a pulso a escada da vida, tendo começado por emigrar para o Brasil e apenas mais tarde do que seria normal conseguiu formar-se em Medicina.
Muitos dos contos, assim como de outras obras bem poderiam ser escritas por um beirão, tal a semelhança entre os relatos que faz relacionados com Trás-os-Montes e as circunstâncias geográficas e sociais da Beira Interior que outro grande escritor (e por sinal também médico), Fernando Namora, tão bem retratou nos Retalhos da Vida de Um Médico ou em romances como as Minas de São Francisco ou a Noite e a Madrugada.
Mais difícil de compreender para as gerações mais novas serão as obras de Aquilino Ribeiro que usa (e abusa) dos provincianismos que só o pessoal da Beira Interior (incluindo as chamadas Terras do Demo) consegue "mastigar".
AAG
Pois é Caros amigos AAG e ASP,fui ler o Namora,Torga,Aquilino e Redol muitos anos depois do exame do 5º(depois 9º)ano. Como teria sido bem maior a minha nota a Português se me tivesse calhado um deles em vez do frei Luis de Sousa...O Torga não gostava de dar entrevistas, mas se fosse vivo hoje,eu ia a Coimbra só para ele me consultar da vista e falar com ele sobra as perdizes do meu Carvalhal. Um abraço para vós.
Caro Virgílio,
O Doutor Adolfo tratava-te o nariz, a garganta e os ouvidos e mandava-te a um oftalmologista. Quanto ao Frei Luís de Sousa, lembra-te que foi composto por quem modernizou a Língua Portuguesa, Almeida Garrett, remete para a História Portuguesa na sua essência e é um mestre de mestres. Cada um, em seu tempo e que os herdeiros sejam todos dignos! O que é um facto, tendo sido Portugal um país maioritariamente analfabeto, até à nossa geração, sempre teve grandes literatos, leitores e ouvintes de histórias. Contava minha mãe que meu avô João Pereira, que morreu bastante novo e eu não conheci, se sentava naquelas "escaleiras", no bairro da Ponte, a ler rodeado por quem o queria ouvir. Obviamente, bem teria sido melhor que a alfabetização e a literacia tivessem chegado bem mais cedo como aconteceu nos países protestantes. Todavia, o nosso povo sempre recebeu a cultura mediado, por interposta pessoa, e actualmente acontece um pouco o mesmo com as crónicas semanais dos grandes publicistas da TV que lêem por todos nós e frequentemente interpretam os sinais dos tempos a seu favor ou do seu grupo de interesses.
asp
já vamos em leprosos? Então e as almas? Afinal alguém explica o fundamento da existência dos "penitentes"e porque é que ninguém se refere à "encomendação às almas?
JBG
Caro JBG,
Estás a ser ingrato perante contribuições pro bono que aqui deixamos.
Está tudo explicado acima. Lê com atenção e se quiseres saber mais passa de fio a pavio a Bibliografia Analítica da Etografia Portuguesa que está on-line. Para outras matérias que atualmente me ocupam eu já a vi "todinha" e posso garantir-te que a suma feita no meu Portugal Adentro não perde nada. Creio que ainda deve haver alguns exemplares deste nos Serviços Gráficos da nossa UBI. Eu já esgotei os trinta que me couberam.
asp
Caro JBG,
Uma explicação prévia ao longo estudo que vais fazer sobre os Penitentes.
Não se faz encomendação às Almas, mas sim encomendação das Almas, no sentido em que se reza a Nossa Senhora e a Todos os Santos, mesmo a Jesus Cristo e a Deus, para que auxiliem estas no caminho do Céu, lhe perdoe a passagem dolorosa pelo Purgatório e o demónio as não desvie para o Inferno. Também se percebe que antes de Jesus Cristo vir a salvar os homens e, portanto, antes da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, as almas dos justos estariam no Limbo, daí alguma veemência nas cerimónias mais antigas da Semana Santa. Afinal, uma Comissão de Teólogos, mandatada pelo actual Papa propos o fim do Limbo, mas vai ser muito difícil extingui-lo na linguagem dos poetas e dos povos. O RR é que podia enviar um poema a propósito.
asp
As conversas são como as cerejas.
Daí o interesse do diálogo respeitoso e nos comentários que felizmente são de nível mais elevado do que aquele que surge normalmente em blogs do gênero, designadamente nas caixas de comentários dos jornais on line.
Doe penitentes já passámos para a literatura e para a cultura em geral, de modo que, creio sinceramente, que todos poderão beneficiar da troca de conhecimentos e experiências.
Quanto ao repto do JBG creio que a resposta já foi dada nos comentários anteriores.
AAG
caro asp,
poesia de encomenda é o que eu mais facilmente produzo,longe, muito longe, da inspiração e boa forma que motivavam Fernando Pessoa, mas tranquilo por já não haver inquisição e beneficiando da tolerância católica como aprendiz de poeta. Então, aqui vai uma espécie de poema sem rima sobre:
O Limbo
Autorizada pela Cúria do Vaticano,
Uma comissão romana extinguiu o Limbo.
Outra ainda, em data a vir e outro papa,
Há-de pôr fim às almas do purgatório.
O inferno tem os dias contados,
O diabo já pôs os cornos no seguro
E o paraíso há-de perder as suas delícias.
Que vai ser dos poetas do Ocidente?
Sem metáforas e palavras do Além,
Crianças, sem lugar, antes do Juízo,
Almas, sem purgatório, onde penar.
Sem Inferno, para guardar o demónio,
O paraíso, assim, deixa de ter sentido.
RR
A minha curiosidade de saber mais e o meu empenho em fazer melhor,obriga-me a viajar por aqui.
É certo que fico feliz e grata a todos vós, ao ler as vossas partilhas tão interessantes e enriquecedoras. Como gosto de poesia também vos deixo um pedacinho de Plablo Neruda.
"Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lé,
Quem não houve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar!"
Caro ASP OU asp, é claro que o Dr. Adolfo Rocha era otorrinolaringologista,foi falta de reflexão da m/ parte.Creio até que a singela placa do seu consultório ainda lá continua no 1º andar a poucos passos da ponte de Sta.Clara e do monumento (de cinco maiúsculas de bronze)que lhe deixaram em consola sobre as águas serenas do Mondego.
Por poucos horas não assisti à inauguração do mesmo,mas em Agosto (de 2007)não falhei a exposição dos seu centenário e fiz questão de assinar o livro de visitas na sua casa-museu.A visita a Sabrosa-sua terra natal-é que ainda vai ter que esperar mais uns anos.
Quanto ao teu avô Pereira saber ler,digo-te que o meu avô paterno,também Pereira mas Manuel,que era natural de Secarias-Coja,mais a m/avó Constância veio casar-se no Sobral, onde era conhecido por "Manel das letras". Ensinou muita gente a ler, incluindo o meu pai,ali pelo ano de 1920 e que chegou a fazer exame da 3ª classe.
Agora quanto facto dos países protestantes serem mais instruídos que (nós) da península Ibérica(Sefarade)para os judeus, deve-se ao facto de D. João III, ter pedido ao papa que lhe deixasse "tratar" de alguns milhares de judeus.E assim perdemos o melhor dos nossos intelectuais desde aquela época até ao Marquês de Pombal.
Será que os nossos ascendentes "Pereiras" não seriam cristãos novos? Já li em vários livros que os apelidos OLIVEIRA, PEREIRA,NOGUEIRA,CASTANHEIRA,LOUREIRO,etc.era escolhidos por aqueles que se convertiam e aceitavam ser batizados para fugiram à fogueira da inquisição.
Caro Virgílio
Em vários estudos meus sobre o período da obrigatória conversão e necessário baptismo encontrei mudanças de nome judaico para cristão, todavia em nenhum caso esses nomes de família que dizes. Nós, os Pereira,podemos ser mesmo da família dos Velhos Pereiras, os mesmos de Nuno Álvares. O pai deste foi dos pais prolíficos homens da Beira e pelo que noto vieram todos do eixo que, de Cernache de Bom Jardim, chega ao Sobral, vários da antiga Cebola e actual S. Jorge. Isto não quer dizer que não tenhamos uma costela judaica, por exemplo, pelos Lopes, cuja família deu dos primeiros mártires da Inquisição. Também já li essa afirmação, mas o rigor histórico impõe-me que só dê fé quando verifico aquele facto nome judaico/nome cristão. Obviamente a leitura individual do texto sagrado fomentou tanto no caso judaico como cristão a alfabetização.
Já se chegou à Inquisição.
As letras são, como se disse acima, autêmticas cerejas.
Quanto ao mito de os apelidos com nomes de àrvores serem de origem judaica, é mesmo um mito.
Quando se converteram foi permitido legalmente aos judeus assumir o apelido que quisessem. Por vezes assumiam o apelido dos padrinhos. Assim passaram a usar apelidos como Noronha, Bragança, Sousa, ou os mais modestos Lopes, Rodrigues...
No entanto não podemos esquecer que a população portuguesa tem muita percentagem de sangue judeu, árabe, mouro, etc., numa enorme mistura iniciada ainda Portugal não era nação. E onde estão os descendentes dos milhares de escravos que existiram por todo o país? O estudo da origem das famílias devia acabar com todos os raciscos.
No estudo que tenho feito sobre a Inquisição no distrito (alguns milhares de processos) só encontrei processados próximo do Sobral (em Casegas, Unhais-o-Velho, Pampilhosa da Serra, Silvares) 4 ou cinco e nenhum foi preso por judaismo.
Quanto aos Pereras do Sobral a sua origem está na Quintâ dos Cavaleiros submergida pela barragem de Sta Luzia, Unhais. Daqui espalharam-se pelas Meãs, Unhais, Cebola, Sobral sendo todos descendentes de Domingos Álvares Pereira e D. Clara Pereira que terão nascido cerca de 1540. Para trás tenho dados que não confirmei. Como diz ASP, poderão ser da família do Santo Condestável. D. Clara sera descendente de Rodrigo Álvares irmão inteiro do condestável.
Voltando aos penitentes, a sua raiz será mais antiga, anterior à era cristâ. Estes ritos penitenciais estão espalhados por muitas culturas, à semelhança das procissões pelos campos pedindo a chuva. Lembro-ne de em miúdo (ou a memória está falhando) participar
no Sobral de uma destas procissões em ano de seca.
GS
Onde digo raciscos devia dizer racismos.
GS
E ,para além de uma mistura de povos peninsulares desde a antiguidade,também nós portugueses ,com a expansão marítima,trouxemos africanos para o continente que rapidamente se casaram com os residentes e que deu este Grande Povo-o português.
fs
Ora aí está o que eu gostava de ler sobre os Pereiras, mal-grado meu também os houve traidores, como diz Camões, que confirma Nuno Álvares, o herói desprendido da recompensa, como o verdadeiro herói. Grande,grande, é aquele que faz grande obras sem estar á espera do prémio ou recompensa material. De facto, sempre houve homens destes na História Portuguesa, que deram a vida pelo bem comum português ou universal, um dos últimos parece-me o António Guterres que como Comissário para os refugiados tem uma missão bem difícil, agora na Guiné, e de pouca visibilidade na actual comunicação social, ocupada com pouco mais do que as maldades da troika e dos serventuários da Goldman Sachs que fazem de nós todos penitentes e parece para o resto da vida.
A comunicação social dixou e ser o quarto poder para passar a ser o Mimistério da Propaganda dos grandes grupos económicos, para os quais a vida de António Guterres não rende lucros nem é motivo de grandes audiências.
Sobral no séc. XIX era destino de migração. No séc. XX foram os Sobralenses que tiveram de partir.
A todos os que saíram da sua terra a constuir novos mundos presto a minha homenagem.
GS
Andava para visitar desde a inauguração, o Centro Interpretativo de Aljubarrota,coisa que só pude materializar no passado verão, na companhia de meu filho José.
Confesso que fiquei orgulhoso de ser português.
Percebendo a história em diferentes ângulos e a geografia da região, faz-se luz sobre aquele grande marco do nosso destino colectivo-o marítimo.
E deveu-se ao grande estratega/homem D. Nuno Álvares Pereira.
Recomendo a visita dos nossos jovens porque ali também está o ser português na sua plenitude.
fs
Caros GS e FS,
Há dias honrei S. Bernardo de Claraval por ter empenhado a Ordem Cisterciense e a do Templo na construção de Portugal,como um dos santos padroeiros do país. Nuno Álvares é agora o Beato Nuno, mas há outros, todos muito empenhados na reconstrução da Pátria, gente anónima e santa, para a dar a volta a isto e honrar o país. De facto, foram os emigrantes que nos finais do século XIX permitiram a formação de uma banca portuguesa, foram as remessas dos emigrantes na década de sessenta do século XX que permitiram que a mesma banca se modernizasse e deixasse a letargia salazarista e agora parece que o Governo espera um novo milagre com uma nova onda emigração e uma nova banca em que eu também quero acreditar. Eu espero que, com todos os santos protetores, a começar por S. Bernardo, Santo António, o Beato Nuno e todos os outros, nós possamos fazer um país mais próspero e por isso vos deixo que vou trabalhar nos meus papéis, que é a trabalhar que se conquista a santidade.
asp
O Condestável Nuno Álvares Pereira,foi beatificado em 1918 e três an0s depois iniciou-se o processo de canonização.Os nosso hermanos Espanhóis(devido à matança de Aljubarrota)tudo fizeram para que o Beato Nuno de Santa Maria não merecesse a honra dos altares.
No entanto em 26 de Abril de 2009 o nosso Beato foi canonizado por Bento XVI,é passou a Santo.
Olá! Eu por acaso fui um dos penitentes este ano e embora seja com agrado que participei na tradição deste ano, como tenho vindo a fazer parte sempre que possível, é com pena que informo que começámos tarde devido á dificuldade de arranjarmos o mínimo de 12 pessoas para a celebração, "cota" essa que acabámos por cumprir á risca (com 12 penitentes e pode-se reparar que o da relha também levava a cesta que assinalava a paragem e os que levavam as "canas" iam a fazer também de "Marias")... é uma pena que cerca de 4 elementos eram de Coimbra e desejosos de participar enquanto que muitos sobralenses recusaram a proposta de participar numa tradição que eles são os principais responsáveis para a manter viva. Já houve uma altura á cerca de 3 ou 4 anos em que eram quase 20 a fazer e eram 6 ou 8 que levavam as canas. Mas graças a Deus tudo correu bem e mais uma vez se cumpriu a marcha.
Já as canas, foi para nossa surpresa que ao prepararmos a caminhada recebemos a noticia de que as mesmas tinham desaparecido sob a hipótese de alguém as ter queimado, por isso improvisámos com ripas que acabavam por ter o mesmo tamanho.
Mas pronto, cumpriu-se, é o que interessa e para o ano há mais :)
Caro Carriço,
Desejo Felicita-lo a si e a todos os demais elementos que pariciparam no evento.
A celebraçao dos Penitentes, como ja foi salientado creio, teve inicio no Sobral nos começos dos anos 50.
Uma linda tradiçao que seria agradavel e se deve manter, para deixar algo aos vindouros e quem sabe, talvez despertar neles o desejo de continuar as tradiçoes que contam ja uma certa idade na nossa terra.
Para nos, os ausentes, é sempre com grande prazer "visto as facilidades actuais... a Internet" observar e visualizar o que se passa no nosso torrao Natal.
Parabéns aos organizadores e participantes, pela garra de continuarem a dar vida à tradição.
Bem-haja aos que, comentando, me ensinam tanta coisa importante e bonita.
Finalmente aparece alguém a explicar algo que não foi perceptível aos assistentes. Já agora, porque é que antigamente as pessoas não podiam assistir ao cerimonial?
JBG
Caro JBG
Pro bono, amigo João, dou-te a minha opinião, eu que nunca participei neste ceremonial,dada a minha trajectória pessoal, que os da minha geração lembram e de eu tenho a melhor e a mais grata memória, pois participava intensamente na liturgia canónica. Passei quatro semanas-santas, na Sé da Guarda entre os meus 16 e os 20 anos a cantar Gregoriano, a música que me enche a alma. E depois, convictamente, não me lembro que durante a minha meninice se realizasse este cerimonial popular. Ora, aí vai a minha opinião.
Nas tradições populares, representam-se ritos para os quais os intervenientes geralmente não têm explicação. Realizam-nos com o essencial dos pormenores como os viram representar. Obviamente,fazem pequenos ajustes de acordo aos elementos que têm à mão, por vezes com muito custo pois sempre pensam que muito do essencial pode estar nesses elementos. Substituir: os varapaus por canas, as canas por ripas, a matraca, por relha, esta por uma campainha, para nós, pode parecer indiferente, para eles não.
A interpretação deve pertencer aos etnógrafos, aos Antropólogos, aos Historiadores e até aos Teólogos. Como ainda foste aluno numa destas áreas, acima recomendei-te estudo e por ti descobririas quão difícil é responder à questão que levantaste. Em minha opinião, porque o mistério atrai, a mesma proibição é a forma antiga de estimular a participação, mas de uma forma discreta, empenhada, ela mesma misteriosa. O cortejo dos penitentes constitui a representação popular dos passos do Senhor, depois da última Ceia, na noite de quinta-feira Santa, de alguns do mistérios dolorosos da Agonia, da traição e suicídio de Judas, da prisão, da coroação de espinhos, da flagelação em alguns casos com mistura do que se pressupõe também passar na noite de sexta-feira depois da crucificação e morte, com a procissão do enterro.
A agonia de Jesus Cristo no Horto das Oliveiras foi algo que sempre me perturbou. Significa a solidão no absoluto, cumprir uma missão no abandono daqueles que eram nossos amigos e deviam estar connosco, Judas, o próprio Pedro, etc. Os nossos Penitentes, nesta representação popular, associam-se a esta dor imensa e as almas penitentes do purgatório também na expectativa da Ressurreição como disse acima e que a Primavera também significa, dirão outros. Ouvir as Lamentações de Jeremias em gregoriano na Sé, ou tocar a Paixão segundo S. Mateus ou S. João, de Jean Sebastian Bach, podem hoje constituir momentos fortes de nos associarmos à Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, Mistério da Nossa Fé.
Valete Frates
asp
Quis dizer
Valete Fratres
asp
O cantar as Ladainhas em dois grupos ,com início no adro da nossa igreja,era,verdadeiramente,genuíno e tradicional no Sobral.
Foi-me contado há muitos anos por pessoa já falecida, que o Sobral perdeu o 2º lugar no concurso da aldeia mais portuguesa de Portugal para o Paúl pelo facto daquela aldeia ter melhores acessibilidades que a nossa terra.
Dizer-se-ia no tempo presente que o peso político do Paúl já ,então,era superior ao nosso?
fs
Caro FS,
Aqueles concursos eram ridículos e as classificações eram procedimentos de pretensa legitimação do regime fascista que as propunha. Hoje, ninguém os leva a sério, quer dizer, não interessam mesmo nada. De facto, não tenho informação, nem memória de o Sobral entrar em qualquer daqueles concursos e seria ridículo a nossa terra perder pela questão das acessibilidades: pois seria duplamente vítima. O regime servia-se de tais procedimentos para discretamente politizar os influentes rurais e atraí-los para a sua órbita e no Sobral havia poucos, quase nenhuns, ou mesmo nenhum. No Paúl, havia, mas também não vale a pena citar nomes para não destapar a caixa de Pandora. Vamos deixar descansar os mortos em paz e rezar por eles não uma ladainha, mas um Pai Nosso, que é a oração das orações ou para os que não creem cantar a "Grândola Vila Morena", que vem aí o 25 de Abril e ainda é necessário comemorá-lo contra ventos e marés.
asp
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