terça-feira, julho 29, 2008

Malha do Centeio

Este fim de semana cheguei ao Sobral e descobri que tinha-se realizado na manhã de sábado uma malha do centeio na Eira da Lage... "Ena!!! Uma malha do centeio??? Há quantos anos a Eira da Lage não sentia o bater dos manguais?", pensei para comigo.
O mais irónico é que a ideia não partiu de um sobralense de gema, mas de um francês que é sobralense há alguns anos, o Guy do café "Le Français".
Depois de saber que correu tudo bem e ver as fotos, decidimos partilhar este dia com todos os leitores do nosso blogue. Para que alguns se lembrem de dias do passado, ou que para os mais novos saibam realmente como era este momento que todos nós já ouvimos falar!
Hoje apresento-vos este acontecimento em jeito de reportagem, com as respostas que organizador deu às minhas questões.


"Malha do centeio - o reviver de uma tradição"


Blogue: Guy de onde veio a ideia de realizar esta actividade?
Guy: A ideia surgiu porque tive a oportunidade de semear centeio e aveia na zona da Cernada. Como o excesso do centeio foi muito e não podia dar ao gado, decidi oferecer parte da colheita para que fosse realizada uma malha com o povo. Podendo assim prepectuar-se a memória desta tradição


Blogue: Quando propôs a ideia como reagiram as pessoas?
Guy: Os mais velhos gostaram muito da ideia e ofereceram toda a ajuda que fosse necessária, os mais novos ficaram mais apreensivos.

Blogue: Foi fácil organizar esta malha?
Guy: Foi relativamente fácil, o principal problema foi realizarmos a malha um pouco atrasados devido à minha ausência. Deveria ter sido realizada pelo menos três semanas antes, porque o centeio não estaria tão maduro.
Como não foi possivel fazê-lo mais cedo acabamos por perder algum pão.
Blogue: O Guy teve o trabalho de semear e tratar sozinho e já tinha algum conhecimento do cultivo. No aspecto da malha não tinha experiência, achou que foi muito dificil?
Guy: Fui pedindo ajuda no momento em que as pessoas foram-se inscrevendo para participar, porque apesar de já ter assistido a uma coisa parecida na França, nunca tinha participado. Agora, com a ajuda de todos gostei bastante e estou seguramente mais e melhor preparado para fazer uma malha quando precisar.


Blogue: Acha importante relembrar estas tradições?

Guy: No Sobral está tudo um pouco abandonado. Agricultura quase não há, criação de gado quase não há, cozer o pão ainda se faz mas pelas mãos dos mais velhos e como o pouco que semeia é milho também iremos perder essa tradição, a aveia é apenas plantada para os caçadores atrairem perdizes....Ou seja, se estas actividades eram a vida dura e dificil devido à geomorfologia do Sobral, e mesmo assim fizeram crescer a aldeia, é triste que estas actividades se percam...devemos lembrá-las para não perder a identidade do Sobral.


Blogue: Na sua opinião, que é uma pessoa que não viveu sempre no Sobral e consegue ter outro ponto de vista por essa razão, o que acha que podemos fazer quanto a isso?
Guy: As pessoas vivem das descrições que os "antigos" nos fazem e vivemos do que imaginamos. Quando os "antigos" morrerem quem nos vai lembrar e "mostrar" o que era o Sobral?
Os jovens são poucos e hoje em dia estudam para fazer algo melhor e mais fácil que a agricultura, e se eles não conseguirem assimilar o que vai passando culturalmente para eles. as memórias, usos e costumes vão-se perder, perdendo assim a identidade.
Blogue: Em relação à malha, como correu concretamente a actividade
Guy: Correu muito bem. Demoramos no total (entre limpar a eira, por fardos, malhar, enfaixar, fazer nagalhos, apanhar o pão e limpar a eira), à volta de 4 horas e o volume total foi de 20 Kg de centeio.


"Fizemos 20 grandes faixas"

Blogue: Qual foi o melor momento?
Guy: Foi o intervalo, momento em que ofereci uma feijoada às diversas pessoas que estavam a participar e a assistir.


"A feijoada estava pesada!"


"O vinho também estava pesado...e bom. Depois voltamos para acabar o trabalho, já com mais forças!!!"

"Aproveitamos três grandes faixas para fazer nagalhos"


"E aproximadamente 35 Kg de pão"


Blogue: O que vai fazer com tanto centeio?

Guy: Vou semeá-lo, aproveitar algum para dar às ovelhas e o restante continuará a crescer para quando estiver maduro fazer uma nova malha no próximo ano, com mais pessoas e melhor preparação. E para que quem está fora possa também participar. Já podem reservar o vosso lugar.

"Antes umas filhós e cum copinho para dar força"


"Vi o Ti Pedro muito alegre, como nunca o tinha visto, parecia que tinha menos 25 anos"


"O Fernando parecia estar a pensar que seria mais fácil malhar dentro do avião porque o mangual seria mais leve"

"Além dos sobralenses estava também presente um francês que vive na Bretanha"


O grupo: Tia Lurdes, César, Zé, Virgilio, Guy, Fernando Paulo, Ti Pedro, Ti Zé Paulo, Tó, Henrique e Jutilia

Obrigada a todos por terem ajudado a concretizar esta ideia. Aproveito para pedir desculpa a alguns proprietários de terrenos privados, pelos quais tive que passar pois não tinha outros acessos.

8 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem, grande reportagem! O Guy está feito um verdadeiro Sobralense, força!

Anónimo disse...

Boa ideia de fazer uma Reportagem :)
Acho que deu mais vida à Noticia!

Malhem Nisso! :D

Anónimo disse...

Um acontecimento genuíno como este, fez o tempo andar para trás e prova disso e que fez lembrar aos veteranos histórias e passagens acontecidas nesta actividade noutras malhas.

Foi muito giro ver as pessoas a relembrar as etapas necessárias para a produção do centeio e no final todos aprendemos alguns dos truques.

Foi uma experiência interessante, que não dá para esquecer.

Os meus parabéns ao Guy, pela maravilhosa iniciativa, e repasto, se a ideia era não deixar morrer esta tradição, ficou provado que não vai morrer.

Deveriam existir mais acontecimentos deste género para trazer mais gente alegria e cor à aldeia.

Venha o próximo.

Anónimo disse...

So para informaçao falta o nome de um personagem na foto da equipa da malhada. boa pessoal

Anónimo disse...

Pois é. Que saudades do tempo das malhas do centeio. Era duro, pois era trabalho a fazer no pino do calor, à torreira. Mas tinha que ser, para que todo o grão se soltasse da palha. Não posso esquecer aqueles dias que passei pelos barrocos das fezendas mais alteneiras do nosso Sobral, onde
iamos à segunda e por ali andávamos até ao Sábado, sempre a malhar. E que bem sabia dormir ao fresco das noites de Verão,lá mais pertinho do céu! Nas Presas, no Carvalhal, em Carvalho, na Cabrieira... Era quando melhor sabiam os "miaos".
Mas o ofício, tinha que se lhe diga. Os malhadores daquele tempo, sabiam da poda. Tinham que se dar as voltas todas. E nem todos tinham jeito para a arte. Tinha que ser, todos ao certo e ouvir-se uma só pancada, independente do número de malhadores, da cada lado. Ora por baixo ora por riba. E o modo de estender o pão na eira (centeio), voltar a palha, dar a última malhadela e sacudir a dita e escolher a melhor para nagalhos...tudo tem que se lhe diga. De tudo me lembro e gostava de repetir. Não me foi possível este ano, mas para o próximo, nem que tenha que "alugar" um falcon, procurarei fazer parte da equipa dos malhadores. Reparei também que à mesa da feijoada havia mais "trabalhadores" do que aqueles que vi na eira. Será que faziam parte do júri?... Bem, o que é preciso é relembrar e manter as nossas tradições da aldeia. Felicitações para todos os malhadores e não malhadores do Sobral que colaboraram,em especial ao Guy, que parece ter sido o mordomo e mestre de cerimónias do evento.

famel disse...

Pois é faltou enunciar o Ti António Lopes, peço desculpa pelo lapso.
E já agora foram 40 Kg e não 35!

A seu tempo teremos uma parte 2 com videos.

Anónimo disse...

Obrigado pela informaçao. Um abraço a todos

Anónimo disse...

É fantástico! Não conheço ninguém, mas obrigada a todos por me terem dado a oportunidade, ainda que longe, ver uma malha de centeio!
Tenho tantas saudades e, era bom que estas tradições nunca acabassem.
Estou muito emocionada, mas agora também ando numa fase de emoções!..
Era a minha lage. Brinquei lá tantas vezes com as meninas do meu tempo e meninos, com coucelhos(não sei se se escreve assim) arroz, que apanhávamos na parede do meu muro.
Obrigada
Maria Ideias