domingo, março 07, 2010

Muito apropriado

O silêncio aqui é um ferro em brasa
a fundir-se nos ossos
queimando a carne
e coalhando o sangue
por isso bato os punhos em cima da mesa
como um homem e arroto
a gerações cansadas
onde o tempo apodreceu os gestos
e nada mais há do que indícios
de pão negro nas mesas
aqui pão negro
como negros são os olhos das pessoas que o comem
depois nova força me leva a bater os punhos na mesa
e sofro o amor e a raiva
das coisas velhas e gastas
sim demasiado gastas para as poder erguer num poema
então um grito quebra desalmadamente o silêncio
e fico para aqui a brincar aos berros
até dos quartos do lado me ordenarem
novamente silêncio.
Carlos Ortil
(Publicado no Juvenil do Noticias da Covilhã antes do 25 de Abril e
no Boletim "O Centenário nº 1 - 2")

1 comentário:

Anónimo disse...

O Carlos Ortil escreveu poesia, várias, no saudoso Suplemento Juvenil do saudoso Diário de Lisboa.
Jornal e suplemento onde, na altura, se escrevia nas entrelinhas e se aprendia a ler nas entrelinhas. A ditadura não permitia outra forma.
Paiva. Tens escrito? Não acredito que não.
Publicaste?
Por que não nos dizes?

Um abraço

António Simão