domingo, fevereiro 03, 2008

EM TEMPOS DE CARNAVAL

Entre os meus 5 e 8 anos de idade, por esta altura do ano , rara era a ocasião que eu não passasse uns bons dias de cama devido ao sarampo que passava lá por casa. Aquelas manhãs e tardes eram intermináveis apesar da companhia que me faziam os meus 9 irmãos e irmãs mais velhos. Quase sempre abrasado em febre - que só passava com os dias -, muitas vezes adormecia embalado pela melodia do canto nupcial dos melros ,que ao desafio ,"convidavam" as parceiras para os ramos da velhinha sobreira - que ainda hoje lá está - no outro lado da ribeira , junto às escolas.
Muitas vezes a maleita chegava com o Entrudo, e numa daquelas tardes "de entrudo borralhudo"- muito soalheira - na "minha" rua o folguedo era total. Uns jogavam ao cântaro e outros corriam o entrudo com as caras tapadas com meias e quase sempre travestidos. Eram raras as máscaras e o dinheiro para as fitas-serpentinas- também , por isso , quando passava pela rua algum "entrudo" que atirava uma fita , a garotada fazia uma grande algazarra e corria para agarrá-la, mas sempre nos vinha parar ás mãos partida em bocaditos. Era da praxe que todos os mascarados dessem pelo menos uma volta ao povo. Por isso lá passavam pela rua de baixo rumo ao Cabecinho e depois de volta pela rua de cima até á Ponte.
Num dessas tardes a algazarra na rua subiu de tom e de repente fiquei sem companhia ,porque as minhas "visitas" correram para as janelas da sala para verem o espetáculo que desfilava na rua , dois andares abaixo . Embrulhado num cobertor e carregado ao colo até á janela, tambéu eu me diverti um pouco - O colorido não era lá grande coisa - tudo a atirar para o cinzento e para o azul das roupas de ganga (brim) dos mineiros e operários , - mas o cenário não deixava de ser originalíssimo : - Á volta duma mesa redonda coberta por uma toalha feita de sacas de adubo e carregada por 6 ou 8 foliões rodeados também eles da cintura para baixo por uma saia -também de saca- até aos pés, seguiam rua abaixo divertidos , enquanto passavam entre si uma grande penicada . Dento do grande bacio de esmalte azul podia ver-se o vinho branco a imitar perfeitamente a urina e o resto eram grandes pedaços de farinheira e chouriça que eles também iam comendo.
Depois da breve paragem e da rodada bebida, o folguedo continuou até ao escurecer e eu fui carregado de volta para a cama alagadinho em suor.
No ano seguite também eu fui correr o entrudo, junto com mais meia dúzia de mascarados, teria dado a volta completa ao povo todo contente por ninguém descobrir quem era eu, mas quando eu menos esperava , ali próximo da igreja ,um matulão p'raí de 12 anos de idade puxou pela meia que me cobria cara , e eu, desmascarado corri para casa morto de vergonha como se me tivessem despido da cabeça aos pés.

9 comentários:

Anónimo disse...

Virgilio esta história é verdadeira pelo menos dois dos senhores na mesa eram o ti José hermínio e o ti Manuel paiva à porta da taberna do teu pai também eu bebi vinho do penico e comi um bocado de chouriça mas era normal que os que bebessem tinham que pagar um litro de vinho para despejar no penico e eu de boa vontade paguei o litro de vinho branco tudo isto fazia parte da paródia.

Anónimo disse...

Eu tambem atesto a veracidade dessa paródia de carnaval.Não bebi do penico mas vi o António Pinto (cantigas),o TiSobreiro e os dois que o apriscoj.p. nomeia, beber e comer dessa penicada

Anónimo disse...

Era assim há quarenta anos(?) atrás.Nessa altura qualquer coisita nos fazia felizes. Andáva-mos todo o ano a guardar os cântaros de barro e os pucaritos para partir no jogo do «paneilo».Até só aquela:-olha lá, viste a lata?- qual lata? -Onde o té primo intrudo meteu a pata!Hi!Hi!...Era uma folia...

Anónimo disse...

apisco j.p.a. e sobralense ausente, é verdade pois. E se lá estava o Cantigas deve ter sido então pelos anos 1960/61, porque foi ele que "chamou o m/ Fernando p/ Angola em 63 e ele tinha ido muito antes.
Teresaníbal, quando se acabavam os CÂNTAROS E PANÊLOS até roubávamos os vasos das flores nos balcões, mas pelo que se dizia as donas não levavam a mal ...era carnaval

Anónimo disse...

Também recordo os Entrudos Sobralenses, em que com tão pouca coisa se fazia uma folia.
A "cena" da farinheira no penico, metia-me uma certa repulsa... e os homens a comerem aquilo com uma satisfação!!!
A expressão aqui relembrada pela Teresa Aníbal da lata... era o máximo!! Quando "enganávamos" alguém, se era adulto, toca a "dar à sola" senão era paulada no costado.
Creio que também era nesta altura que se "chorava" o Entrudo. Além do outro lado dos Torgais, alguém a gritar as "notícias" de contos e ditos da aldeia e a malta nas janelas a ouvir. Um pagode!!

Anónimo disse...

Virgilio as datas que ofereces estão perto mas eu acho que deve ter sido no ano de 1958ou 1959 eu fui para a tropa em 1960 esta paródia já tinha acontecido nessa altura

Anónimo disse...

SIM aprisco, estamos de acordo . Devo ter tido o Sarampo desde os 3 anos... "dizia-se:- Sarampão sarampãotelho 7 vezes (anos) te há-de vir ao pêlo (corpo)... E ele veio mesmo. E também o (tesarelho) papeira.
Abraços para esse lado do mar grande.

Anónimo disse...

Sim, a história no que concerne à mesa redonda e aos foliões confere. Também eu assisti, nos meus oito, nove anos de idade. De facto era um pagode. É preciso lembrar, que nesses tempos o "entrudo", era quase proibido, mas festas destas conseguiam-se realizar. Com a cara destapada, isso era a lei!
E o tiro ao galo, no ribeirinho, do lado norte, para a rampa sul, onde hoje passa a estrada?! Não se lembram? Também era nestes dias de Carnaval, que tal se organizava. Isto era mais para os caçadores da terra, que na altura eram meia dúzia. Pobre do galo, preso por uma pata a uma corda aí de uns cinco metros, à espera dum chumbo perdido, que lhe acertasse. O "assassino", como prémio, levava o galo para casa. Para os concorrentes a "carrasco", havia uma taxa de inscrição.Assim, o galo ficava bem pago. Pobre do bicho. Naquela altura ainda não havia a Sociedade Protectora dos Animais, e então!.....Era ssim.

Anónimo disse...

É verdade que em tempos se praticava o tiro ao galo esse metodo de divertimento deixou de ser usado à volta dos anos 1952 ou 53 porque já nessa altura havia quem se pronunciá-se conta o tratamento cruel para os animais e então foi adoptada a prática de tiro à garrafa:uma garrafa de vidro grosso era dependurada com um arame numa árvore e quem partisse a garrafa ganhava o galo