Para quem já leu o "Jornal do Fundão" de esta semana, já deu de caras com uma capa que a muitos sobralenses deve ter dado "um nó no estômago".
"Já não querem ser mineiros", é a frase que melhor resume uma excelente reportagem de Nuno Francisco (repórter do Jornal do Fundão), que num período em que estamos diariamente a ser confrontados com os elevados índices de desemprego do país, nos vem mostrar uma realidade bem diferente bem aqui ao lado, nas Minas da Panasqueira.
Depois de alguns anos de crise financeira e administrativa, agora que a extracção do minério voltou a ganhar vigor no complexo das Minas da Panasqueira, a crise é outra. Há trabalho, mas não há trabalhadores.
Decidi publicar esta noticia aqui no blog, porque muitos dos nossos familiares trabalharam na mina. Este foi o ganha pão de muitas familias sobralenses, e se hoje somos uma aldeia orgulhosa das nossas capacidades devemos isso aos avós e pais, que pisaram durante anos os caminhos da mina para poderem dar o melhor aos filhos.
Não só os homens que faziam o trabalho mais duro, mas também as mulheres que, numa fase de grande densidade populacional no couto mineiro, venderam ovos (entre outros bens) durante muitos anos.
A pergunta que se põe aqui é o porquê de depois de terem sido colocados vários anuncios de emprego na mina e não ter havido respostas no período de várias semanas? Porque ninguém quer trabalhar nas famosas Minas da Panasqueira?
Eu não trabalhei na mina, mas suponho que o trabalho nas galerias seja duro, não só fisicamente, mas também psicologicamente.
Será que hoje em dia, nós os mais jovens, não somos capazes de desempenhar funções mais duras?
É verdade que quem estuda durante 17 anos está à espera de ter um emprego mais confortável, mas será que já não há vocação, ou gosto por certos trabalhos?
Será que o ordenado e beneficios não compensarão?
Não sei, e não quero julgar ninguém, mas quando li esta reportagem tive pena...pena de olhar para todo o potencial (não só em termos de industria de extracção de minério, mas também potencial turistico) e saber que ele está a ser desperdiçado.
Penso que as Câmaras do Fundão e Covilhã deveriam tentar incentivar, ou fomentar certas politicas que possibilitassem a fixação da população activa na região.
No aspecto emocional, pessoalmente esta noticia tocou-me muito. Para quem não sabe a alcunha da minha familia materna "Galhetas", é herança do tempo de mineiro do meu avô, o "Alfredo Galhetas".
Eu cresci envolvida nas histórias fantásticas do tempo de mineiro do meu avô e tenho pena que essa herança cultural da nossa regiao não se possa manter por muitos anos.
E o pior, é que se um complexo industrial desta envergadura não consegue travar a desertificação do pinhal interior, o que irá travar?