domingo, setembro 24, 2006

NO TEMPO QUE NÃO HAVIA RELÓGIOS

Dos meus 3 aos 13 anos ouvi contar na taberna do meu pai centenas de "histórias" e
casos da vida de muitos Sobralenses, uns tristes outros alegres.
Esta que se segue foi ouvida numa daquelas tardes de inverno - depois te ter feito os meus "deveres das escola" - ao ti Zé Abrantes (meu vizinho).


Quando era novo costumava ir com o avô dele - que tinha uma junta de bois - fazer carretos de resina para Silvares, e de lá traziam carradas de outros produtos para o Sobral.
Era costume regularem-se todos pelo cantar dos galos, que ao que parece, já era um hábito que vinha dos tempos biblícos. E num belo dia o ti Zé Abrantes e o avô ainda mortos de sono lá saltaram da cama ao ouvir cantar o galo.
Meteram os bois ao carro e com a noite completamente cerrada, puseram-se a caminho, contando que o sol os viesse encontrar a meio da jornada. "Que damonho estaria errado" - dizia o avô - "porque não via modos do sol salanvatar?"
Continuaram o caminho acompanhados pela escuridão e pela vontade de dormir e só ao chegarem ao destino é que o sol se espreguiçou. Avô e neto concluiram que o despertador teria avariado e tinha cantado antes da hora. Por saber que o galo lhes tinha roubado três horas de sono, o avô estava com ganas de lhe torcer o pescoço,mas lá se lembrou que ainda era novo e que a culpa não era só do galináceo ,então desabafou para o neto: -" Quem nos manda fiar em cabeças de pitos"?!!!

19 comentários:

finadamina disse...

Ó Vigílio, que grande lição!
A história é linda.

Anónimo disse...

Boa padrinho... Um dia destes tb tenho k contar um conto!!!

Anónimo disse...

Virgilio, bela "estória"... mas não é preciso ir ao tempo do Ti Zé Abrantes! Ainda eu andava nas lides estundantis, em q o autocarro (camioneta) partia por volta das 7h, e em q o "nosso"(meu e do meu irmão)controlo horário de trafégo era o "Ti Manel Cobrador" -"cobra" p/a alguns. Saíamos disparados todos os dias para ñ "ficarmos em terra" assim q o viamos "estrepor" na curva. Mas nem todos os dias eram assim (pacíficos) e houve um belo dia de inverno em q para variar ñ havia luz - logo o despertador ñ iria soar o alarme, e após uma "investida" quotidiana da n/ mãe para q nos despachassemos pq já passava da hora, saimos os dois a correr para a paragem q admiravelmente estava deserta (o habitual era já estar toda a gente dentro do autocarro), mas "nem viv`alma", nem "cobrador", nem nada!! Pensamos nós: perdemos o autocarro! Mais uma "descompustura" pq nunca nos levantamos a horas! Quando começa a dar as badaladas na torre: DOOIINNG,DOOIINNG,DOOIINNG,DOOIINNG,DOOIINNG - então não há mais??!!! Pensamos! Enfim ñ havia mm. Eram apenas (5 a.m.), de um dia de Inverno, em q tinhamos "trocado" as horas, ñ havia despertador e a ansiedade de acordar a tempo era tão grande q acabamos mm por voltar para a cama, e perder o autocarro... o q ñ tem remédio, remediado está!!!

famel disse...

Genial Chenouca's...grds perguiçosos!
No Verão qd prometia ir ajudar a minha mãe, tb m aconteciam umas assim!
Qts vezes a minha mãe se levantava às 5h p ir fzr qlqr coisa e m dizia:

"Hoje tens q ir ter cmg ao casal, quero regar e preciso que me guardes as cabras...m ainda é cedo, podes ficar + 1 horita na cama e dps vais lá ter!"

Até aqui td bem, m era só a minha mãe virar as costas k m dava a espertina e ficava aí uns 15m a pensar:

(anjinho)
"Já n tenho sono, é melhor levantar-me já e ainda vou apanhar a minha mãe ali à frente"


(diabinho)
"aiii sabe tão bem estar aqui...vou dormir + meia hora e já lá vou ter..."

Qual meia hora qual quê! Já só acordava qd o sol quente das manhãs de verão me entrava pela janela...saltava da cama e la ía eu ter ao casal....upssssssss a minha mãe já tinha tratado d tudo sozinha!

Diabinho 1 - 0 Anjinho

Anónimo disse...

Seria na pré-história?
Os dinossáurios calcorreariam ainda as coladas dos Ataques ou catraias do Ceira?
Anos, sim, passaram muitos.Horários eram os de 1954!
Ainda o sol não se espreguiçava sobre o Cadaval, ainda os galos estavam no primeiro sono, já os pobres netos do Adão biblico natos no Sobral esfregavam os olhos que demoravam a abrir.
3 horas da matina (os frades que iriam rezar as matinas ainda rolavam nos lençois) lá nos levantávamos que não era fácil o caminho da distante Casegas. A "caminheta" que nos levaria à sede do concelho partia às 6 horas!
Por montes e vales, tropeçando nas pedras da "estrada", as pestanas ainda pesavam toneladas, lá íamos.
Chegados ao destino, esperavamos a abertura da garagem. Iremos sentar-nos agora? Vã esperança.
As "madames" e os "cavalheiros" de Casegas chegavam de olhos meio fechados, cheirando aos lençois que há pouca haviam largado, ocupando os lugares na véspera marcados.
Reclamar? Motorista e cobrador dormiam em Casegas. Que sentença ditariam?
Muitas histórias haveria a contar sobre aqueles tempos heróicos. Vamos contá-las? Vamos ouví-las?

Gabriel Santos

Anónimo disse...

Boa, Gabriel. Esses tempos eram mesmo assim: Heróicos.
Sobreviver era um desafio quotidiano. Ah!... E essa Carreira era de mais.
No Inverno, gelada e barulhenta. No Verão, uma fornalha ardente envolvida numa nuvem de pó. Ir para Casegas, às 5 da madrugada, era penoso. Mas, a partir do Raso era só a descer. À vinda, a subida até ao raso nunca mais acabava. Se não estivéssemos ali às 6 horas perdíamos a Carrera…
E o Chofer, (já não sei o nome do homem) era um indivíduo calmo, de poucas falas e bizarro. Um dia meu pai, convidou-o para beber um copo e como era dia de São João disse: Vamos beber um copo de vinho que hoje é dia de São. Ele acompanhou meu pai, à taberna no Ourondo e disse: “Ó Sr. João, eu não acredito nessa canalhada. Eu sou mais santo do que eles. Nunca fui malandro. E o São João era um malandro, ia espreitar as moças, junto às fontes, depois meti-as com elas e partia-lhes os cântaros. Vamos beber um copo de vinho, mas pago eu. Não quero nada com essa gente”.

Anónimo disse...

Desculpai, Troquei os dedos e saiu em anonymus.
Sobralfilho

Anónimo disse...

Bela história gabriel e bom desafio. ERA disto que estavamos á espera para divulgar o saber que os n/ antepassados nos legaram, hoje tenho muita pena e sinto um grande arrependimento de não ter aprendido mais coisas com os meus pais, fui adiando, e quando dei conta já era tarde...mesmo assim ainda fiz "umas entrevistas a meu pai", mas nada do que podia ter sido. PROMETI ao blog que iria dar o meu melhor e como me sinto inspirado espero cumprir da melhor maneira.

Anónimo disse...

Ó Sobralfilho bela prosa sim senhor.Que engraçado, as histórias temos ácerca da nossa carreira.
Lembro-me bem da gritaria que ecoava por todo o Sobral quando nós garotos de 10 anos e menos viamos a carreira " assomar na circa" ali na presa... e corriamos p/ a porta do ti Brás,onde tinha a última paragem, só p/ o cobrador deixar a bilha vazia do leite.
Durante os 20 segundos que demorava a paragem, nós para apanharmos uma "cavalossa", bulhávamos pela disputa dum lugarzinho na escada atrás.
Como o cobrador nos topava, salta da camioneta em andamento e mesmo antes de acabar a "viagem de 80 metros caiam-nos de surpresa umas cinturadas no pêlo e a maioria largava-se e estatelava-se no borralho e nos pedriscos ou até na lama da estrada... HAJA MEMÓRIA... saudações.

Anónimo disse...

Chenouca's também gostei da tua história. Do estrepor, viv'alma e tudo o mais... belas recordações. Continua, vamos pôr dar reinação a esta blog?

Anónimo disse...

Ferruki ficamos á espera do teu conto. Desembaraça-te e stuga aissas mãos no teclado senão desavaissas-te de escrever. beijos.

Anónimo disse...

Finadamina, obrigado pelo elogio...mas te alargues muito senão fico todo "inchado" lol.e começo a pensar que sou algum Saramago.
Gosto mesmo de contar histórias mas gosto mais de ouvir. Adeus.

Anónimo disse...

Mais uma historieta da malfadada caminhete da carreira, em tempos que lá vão (parece que foi no tempo da Maria Cachucha). Esta julgo que não lembravas, Sobralfilho, não pertenceste ao grupo?

Acabáramos as lições na escla das Vinhas. Tinhamos de provar o nosso saber na distante Covilhã.
Em fresca manhã de Julho partimos alta madrugada a caminho de Casegas.
Aqui chegados o sr. João Marques, cujo filho Manel Guada-rios pertencia ao grupo, desencaminha vários pais para contratarem a caminheta do Brito.
Lá subimos pró caminhãozito e partimos. Era Julho mas o ar às seis da matina regelava a cara (e nós, os gaiatos com inveja dos colegas que usaram o normal transporte!).
Chegados à Palmatória, onde havia um casinhoto da PVT temos de saltar pró chão e dar à sola até ao Pelourinho. Chegados às Escolas Velhas já começara o exame. Os nossos colegas olhando para nós com cara de donos da sala contra os invasores. Por boa disposição dos professores lá nos deixaram entrar e fizemos o melhor. Mais tarde, eram os primeiros exames que fazia como professor e nas mesmas escolas. Aparecem uns miúdos das quintas com ar de uma boa pinga. Os pais chegaram cedo à cidade e foram até à tasca matar o bicho. Lá se lembrou um de dizer :
- deita um prós miúdos, vão fazer a 4ª clasee já são homens.
Veio à baila a minha história e os miúdos contaram com o nosso apoio, coitados.
A propósito, os alunos do Sobral eram dos melhores que apareciam pela Covilhã. Pena a sua situação geográfica: invertendo a frase -dá Deus dentes a quem não tem nozes.
Gabriel

Anónimo disse...

É interessante que essa dos "miúdos do Sobral" serem dos melhores era uma frase q ouvia mt aos professores, ainda na primária, no Paúl e até mm na Covilhã... somos mm modestos!!!! Falando de viagens e de meios, ainda me lembro de ir fazer uma "excursão" ao rio Zêzere numa camioneta, salvo erro do ti "Tonho" Brás, ao ar livre... só o Prof. Rito para nos arranjar destas aventuras: agora digam lá se nos tempos d`hoje permitiam q as crianças da escola primária fizessem umas dezenas de KMS sem qq segurança...outros tempos!!! Aliás, belíssimos tempos: excursão 2 em 1!!

Anónimo disse...

Oi, Gabriel,
Dessa não me lembro e não podia lembrar-me. Faltei à chamada. Ou melhor, “perdi” o ano. Por causa da gripe (ou febre?) asiática faltei cerca 30 dias à escola (há sempre uma gripe à espera de nós. Hoje é Gripe das Aves). Assim, tive de repetir a 4ª. classe. E foi a professora Maria Fernanda do Brito Craveiro que me levou a exame no ano seguinte. Dia 17-07-1957. Escolas centrais – Covilhã: Fiz um brilharete. De cima dum mocho, para chegar ao quadro preto para “fazer” os problemas. De tanta porrada levar daquela professora que quase meti na cabeça o conteúdo do famosíssimo caderno de problemas “1111” E quando saí do exame, no Jardim, num esplanada, provei timidamente uma cerveja e disse: “amarga cmá giestas”. Para constar o meu pai levou-me à Foto Nobre para me tirarem uma fotografia: camisa branca, gravata, casaquinho de malha: Estava todo concho.

famel disse...

Camionete ao ar livre??? oh chenouca's n tarás confundir c um qlqr sitio das tuas viagens? S n tas a confundir, diz-me onde tá a essa pérola k eu vou já busca-la!

Anónimo disse...

Ainda não tinha comentado este post, mas ele deliciou-me! Assim como me têm deliciado as "estórias" que ele puxou!Parabéns a todos os que deixam aqui a sua (bela) marca!

Anónimo disse...

ó famel, por camionete entende um camião, mas mais pequeno, uma camionete em versão moderna a "carrinha " do teu pai, a diferença é que os "putos" iam todos na "caixota", boa'?!!! Isto é a sério...

famel disse...

So m resta dizr k tenho pena d n ter ido numa dessas viagens! :(