Dos meus primeiros de escola - já lá vão 44 anos - há um que me ficou na memória até hoje.E bem lhe poderei chamar o dia em que fui praxado.
Os "veteranos" eram da 3ª classe - que partilhava com a 1ª, a sala do primeiro andar (dos garotos) - e todos nós alunos do Prof. Daniel. Claro que raramente se misturavam a brincar com os mais novitos, e embora alguns o fizessem, era raro. Cada turma inventava as suas brincadeiras no recreio, e naquela manhã resolvi mais uns companheiros ir até á Eira de baixo. Não era para vermos as mulheres atarefadas a estender a "debulha" de milho da gélida noite anterior, que para ali fomos em correria - que isso não era novidade - , mas sim para ver ferrar uma junta de bois ali bem pertinho do estendedouro. Aquilo era obra de apreciar !!! Mas ninguém gostou de nos ver por perto. As mulheres porque lhes " tapáva-mos o vento" de erguer o milho, e os ganhões porque espantáva-mos os animais.
Só nos restou dar meia volta , e encaminharmo-nos para o recreio da escola, mas a poucos passos dali , sairam-nos ao caminho três grandões a fazerem-se muito amigos a chamarem-nos p'ra brincar .Com tanta simpatia e conhecendo bem todos eles, aceitei entrar na brincadeira dos grandes que cada vez se faziam mais amigos. Eram eles: - O Zé Vicente, o mais novo do meu primo -Ti Pereira do café das Ladeiras -que naqueles tempos trabalhava nas florestas do Canadá . O segundo era o Humberto, que eu via sempre que ia ao Sr. Chico comprar selos para a loja do meu pai ou quando ia lá pôr as cartas no correio. E por último o Helder -irmão do Rui ,do meu ano - e que eu estava farto de ver , por ir muitas vezes á loja do Ti Inocêncio cortar o cabelo - ali por baixo do café do Carreira - pois a máquina do meu pai "emperrava"d'amiúdo e arrepelava o cabelo. outras vezes era porque o Ti Manuel Paiva não tinha muito vagar...E agora vem a história da praxe . Resolveram aqueles "meninos" cavar um túnel com um braço de comprimento num pequeno relvoeiro que tem uma oliveira e fica em frente á casa do prof. Daniel e lá bem no fundo, coberto com uns punhados de terra ,meteram um monte de bosta de boi ainda fresca que foram antes apanhar ao tronco .
Como eu tinha sido a vítima escolhida e destinada a ser "praxada" pediram-me que ajudasse a tirar a terra do fundo do túnel ...Eu ajoelhei-me e acedi prontamente . Senti algo muito macio por entre os dedos e quando me perparava para interrogar o que seria, já só os vi bem longe a entrar os portões da escola a rirem que nem uns doidos.
No ano seguinte ainda pensei continuar com a quela praxe, com outro caloiro qualquer, mas lembrei-me que ainda tinha um irmãozito mais novo para entrar pá escola e desisti.
segunda-feira, outubro 15, 2007
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8 comentários:
corrigindo: tapávamos o vento; espantávamos os bois; me preparava.
Olá Gil,
Mais uma surpresa que encontrei no blog, uma partilha do teu percurso de vida abençoada por Deus. Que ao partilhá-la aqui, ajuda a recordar os tempos da nossa meninice que já lá vai longe!
A tua história tão engraçada, gerou em mim uma boa disposição, uma forma saudável de iniciar o dia a rir e ainda contagiando os que me rodeiam. Tinhas que ser tu a vítima daqueles malandros!!!
Virgílio, bem se pode dizer que foste a vítima "bostada"!!
Mesmo assim, podia-lhes de dar para pior...
Não só uma boa história da vida, que se recorda com emoçao e um sorriso, mas também uma lição...
Fica aqui um abraço e venham mais 'estórias' dessas
Miguel Geraldes
mina, a ideia é mesmo pôr a malta a rir com as recordações do n/ tempo de criança.
mariita, o que me valeu foi a grande levada d'água que corria uns metros abaixo , senão teria chegado mais atrasado á escola e a cheirar a "perfume" de caca de vaca .
Miguel, haja leitores que estórias não faltarão , mas só uma por mês para não saturar o blog...
Ah AH AH dessa não me lembrava!!! mas que "patifaria" mais merd_osa !!! um abraço Virgilio
Nem me falem em bosta de vaca...aqui pelos Açores tropeço nela a cada momento! Mas dizem que é saudável,que faz bem á tosse convulsa, entre outras.
Mais uma bela partilha, obrigada Virgilio!
Boa Serranita! E, para além disso tudo, ainda serve para "amortecer" quedas! Um dia destes, escrevo a "estória" que me aconteceu acerca disso. Ainda que não tenha sido no Sobral, nem na escola, suponho que não faz mal. Será também uma espécie de "solidariedade" com todos os que já se "borraram"... sem crer!
É que o Virgílio fez trazer ao de cima coisas que já estavam mais que esquecidas no fundo dos gavetões cerebrais.
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