quinta-feira, setembro 24, 2009

Homenageando...

Homenageando HOMENS como o Virgilio Ferreira estamos a homenagear também a nossa terra e as memórias do passado de outras gerações! Nunca são demais as palavras... A sua personalidade forte e a marca que deixou na nossa aldeia, fazem com que as palavras dedicadas a si nunca parem de chegar. Postamos hoje mais uma homenagem do seu amigo António Simão, que através do blogue decidiu deixar esta dedicatória:


"O Vergílio Ferreira partiu.
Vai e fica em paz, como mereces.
Simplesmente vais à frente a desbravar caminho.


Nada diria, não fosse a obrigação de dizer, de trazer ao papel, memórias.


1 – O Sobral na década de 60. Tu e outros, poucos, no Seminário.
Eu e outros, poucos, em colégios e em liceus ou Escolas Industriais e Comerciais.


2 – Nas férias escolares, vós na igreja, muito bem comportados, provavelmente. Nós nos passeios e actividades desportivas e, ao Domingo , na missa, nem sempre bem comportados, a ouvir o padre na sua prédica , a pregar às mães para terem cuidado com a filhas que nos acompanhavam; escândalo numa aldeia de montanha, isolada e quase sem estudantes, anteriormente.

3 – Depois, não me lembro, como nem porquê, encontrámo-nos. Nós e vós.
E foram peças de teatro, revisteiro embora, mas interventivo social e politicamente.
E foram canções do Zeca e doutros, e foram fados de Coimbra, e era a imprescindível poesia; Manuel Alegre, e o Fernando, o Pessoa. E aquela maneira excepcional e sentida de dizer o “ que morra Dantas”. E foram acções que só o isolamento do Sobral e a irreverência e “irresponsabilidade” da nossa juventude permitiu fazer sem que tivéssemos medo de ser incomodados pela PIDE.
Aquela festa do final das férias em 69, depois da peça de teatro, até às tantas na Eira, com muita gente e música, e os frangos, e os coelhos, e os pássaros e as cochas de rã que tínhamos apanhado durante o dia e, ... aquele animal que parece ter sido cozinhado junto; coisas tuas e do Tó “Galhetas”; melhor, coisas vossas com toda a certeza.


4 – Foi a minha ida para a faculdade, os almoços contigo, no Seminário dos Olivais ao Domingo e a edição e impressão do nosso jornal “ HEY JUVE “, lá, no equipamento do seminário, lembras-te? Os espaços verdes envolventes onde passeamos e conversámos; as instalações que eu entendia desperdiçadas dado o já diminuto número de candidatos à pastorícia, quando tanta falta faziam, à minha faculdade, medicina, por exemplo.
A tua vida, para além do teu curso, de apoio social ao degradado bairro de barracas que envolvia o seminário. A simplicidade e solidariedade que de ti emanavam.
O festival de música que organizaram; as músicas e especialmente as letras, que puseram o Cardeal Cerejeira e Salazar em fúria, lembras-te?


5 – A minha ida para a tropa, felizmente não para a guerra colonial, a constituição de família e
circunstâncias da vida, não permitiram proximidade suficiente para as conversas que nos faltou ter; contigo e restantes amigos. E agora partiste. Espero continuar a falar contigo. Que nos ouçamos.


6 – Resta-me dizer à tua família.
Parabéns pelo filho, marido, pai, irmão,.. que tiveram e vai continuar a estar entre nós.


7 – Finalmente, sugiro à Junta de Freguesia, para perpetuar a tua memória, pelo contributo que deste para o desenvolvimento sociocultural da nossa terra, (dado que a tua modéstia, simplicidade e honestidade, mesmo desse lado, não permitiriam exaltações individuais) que fosse colocada em qualquer rua, largo ou quelha, uma placa com a seguinte inscrição “ HOMENAGEM AOS JOVENS DA GERAÇÃO DE 60 QUE COM A SUA FORMA IRREVERENTE DE ESTAR, VIVER, CONVIVER E TRABALHAR TANTO CONTRIBUIRAM PARA A ABERTURA DE ESPÍRITO DESTA POPULAÇÃO. E AOS JOVENS DE TODAS AS GERAÇÕES QUE SE LHES SEGUIRAM E FAZEM DO SOBRAL UM LUGAR ÚNICO NA RUDEZA SINGELA E BELA DA SERRA DO AÇOR”.


PS - Dá aí um abraço a todos os conhecidos, e um especialmente forte à Guiomar que tão bem ajudou a preparar o referido e outros repastos.

Vila Chã de Ourique, 17 de Setembro de 2009
TÓ"

7 comentários:

Unknown disse...

Apesar do modo como o Virgílio se envolveu com o Sobral, anteriores posts revelam que muitos dos nossos conterrâneos não o conheciam.
Ora, estou certo que será difícil encontrar outra pessoa que tanto se tenha dedicado ao Sobral que visitava com frequência.
Sem falar sequer no dinamismo e entusiasmo com que ele encarava as visitas pascais, importa recordar que foi ele quem, nos anos 60, antes da televisão e em época de censura, procurou enriquecer culturalmente os sobralenses, quer através da publicação de uma irreverente revista Hey Juve, quer através de saraus de teatro e música que ocorriam no salão.
Foi fundamentalmente através dele que os grupos de jovens se mobilizaram.
Por isso e muito mais, acho inteiramente merecida uma homenagem que a Junta de Feguesia, como emanação dos sobralenses, pudesse prestar-lhe.

Anónimo disse...

A Geração de sessenta pode esperar. Parece-me presunção e oportunismo apropriar-se do momento para colher louros.
Concordo com a homenagem pública proposta, mas tão só ao Virgílio Ferreira, porque é a HORA DELE e na forma símples do nome de uma rua.
Outros actos,no entanto, podem ser levados a cabo particularmente ou associativamente.

sobralfilho disse...

Considerando ter sido publicada a sua fotografia, muitos Sobralenses o poderão agora reconhecer.

Concordo inteiramente com o preconizado no post e no comentário do Geraldes e apelo à Junta de Freguesia que considere urgente esta nossa pretensão.

sobralfilho disse...

Anónimo,
Obviamente isso basta.

Mariita disse...

Na verdade, por tudo o que o Virgílio simboliza, será uma injustiça que não ser perpetue a sua memória. Estou de pleno acordo com o nome dele dado a uma rua. Por que não aquela onde sempre viveu?

Anónimo disse...

A propósito da HORA DELE (Virgílio Ferreira), quadra livre e triste

A tua HORA chegou inesperada
Para nós que ficamos sem juventude
Porque tu lhe tinhas aberto a porta
E tu agora a começas a fechar.

Anónimo disse...

Ainda lhe ouço, de Adamo, com a sua voz timbrada e forte, «Tombe la neige...», enquanto as mãos hábeis dedidalhavam a guitarra e me alimentavam o sonho de um dia ter uma... "O Vergílio morreu", anunciou-me a minha Mãe que antes me disse que ia transmitir-me uma notícia muito triste. As voltas da vida, que por longos anos nos haviam feito trilhar caminhos desencontrados, tinham-nos, por momentos breves, cheios de emoção e de recordação, proporcionado reencontro breve, à Ponte, no Sobral, há dois anos, creio. Revi o meu ídolo da juventude e até recordámos o gato que, junto com os coelhos, «alimentou» bocas esfomeadas, noite dentro, fria por certo, no final de umas «cenas», como agora se diria, no Salão Paroquial. Foste, Vergílio, sem avisar! Malandro... isso não se fazia... Espero que onde estejas continues a ter uma guitarra, uma voz timbrada e forte e que aí não voltes a sentir a necessidade de cantar «Eles comem tudo, eles comem tudo, e não deixam nada».
A homenagem do Manuel Lopes da Silva