terça-feira, abril 03, 2007

Quaresma/Páscoa

Quaresma, era tempo de rezas, jejuns, via-sacra, lava-pés, de cantar os martírios, ladainhas, encomendar as almas, enterro do Senhor, penitentes, matracas em vez do sino...Depois o Domingo de Páscoa em que vinha o Compasso ou Boas Festas, com pároco, sacristão e acompanhantes de opas, com a Cruz que davam a beijar, a caldeirinha da água benta, a campainha, anunciando a Ressurreição...O sino voltava a tocar na torre da Igreja, as amêndoas lançadas da casa paroquial e a visita aos padrinhos pedindo a bênção e recebendo o folar...

Recordo várias destas celebrações, mas a que mais retenho na memória são os Penitentes (Ver Post de Abril 18,2006), que em vários anos seguidos me fizeram despertar do sono com os seus ruídos metálicos e clamores meio assustadores, num cortar arrepiante do silêncio da noite. Ainda hoje me trazem uma carga emocional muito forte, mas não resisto a espreitar para vê-los passar, arriscando levar com a cana :) Senhor tende misericórdia das almas E DE NÓS (e mais um susto para o observador mais distraído)!

Segundo me explicaram há anos, esta procissão dos Penitentes é a recriação das Celebrações Pascais de comunidades de pessoas doentes (leprosos) que viviam isolados das povoações e que a estas se deslocavam para durante a noite, sem serem vistos, fazerem também as suas celebrações .

O Post começa a alongar-se, mas deixo ainda uns versos cantados quando se fazia a “encomendação das almas” . Foram recolhidos há 14 anos com os meus avós, num daqueles serões de contar “estórias”, mas serão concerteza mais antigos.


“Ó almas que estais dormindo
nesse sono tão profundo
rezai, pedi a Deus,
pelas almas do outro mundo”


“Ó almas que estais dormindo
nesse sono tão altório
levantai-vos e pedi a Deus,
pelas almas do purgatório”


“ Ó meu Deus quem me fora homem
que eu andasse pelas estradas
eu subia ao calvário
a visitar as cinco chagas”


“ Ó meu Deus quem me fora homem
que eu andasse pelos caminhos
eu subia ao calvário
a tirar a coroa de espinhos”


E se não “falarmos” antes, uma Feliz Páscoa para todos!

10 comentários:

Serranita disse...

Já agora, que azulejos são estes?;-)

Anónimo disse...

julgo que existe um painel semelhante a este, na capelinha das almas, junto da fonte no cabecinho.

DiasBrancoBernardoCosta disse...

Encomendei-as algumas vezes!
Falta aquela cena macabra que metia medo, depois de se cantar, umas rezas que se murmuravam, que metiam medo ao susto!
Fazia-se cada coisas para se sair de casa à noite...!

Serranita disse...

Sim, Moka, existe, mas este é outro!

manjedoura, não me digas que participavas nas celebrações só para saires de casa à noite!Cada uma...lol

Anónimo disse...

SERRANITA ESSES AZULEJOS SÃO DAS ALMINHAS DA FONTE DA PONTE.
Aqueles a que se refere o moka têm uns tons mais amarelados e são da fábrica Aleluia- Aveiro.

Serranita disse...

Virgilio, é isso mesmo:-)

DiasBrancoBernardoCosta disse...

Naaa, como te passou pela cabeça? A minhã mãe até me obrigava a saír de casa, não gostava era que eu andasse de roda as beatas (achas mesmo?), pq depois poderia apanhar vicio e começar a cravar-lhe dinheiro para cigarros inteiros!
(...) p´las almas do purgatóó-óóó-ó-riôôô!

Anónimo disse...

Sobre a encomenda das almas, era de bom tom que se fizesse uma recolha, isto porque qualquer dia já não será vivo quem tenha participado destes actos. Eu por exemplo retive um que passo a transcrever: - À porta das Almas Santas
Bate Deus a toda a hora.
Almas Santas Lhe perguntam,
Que quereis, Senhor Agora.

Anónimo disse...

Por falar em recolha, descobri algum material que recolhi nos nossos famosos OTL`s (Ocupação de Tempos Livres) com testemunhos vivos dos anciãos da nossa aldeia q vou tentar reportar para o blog! De qq forma saliento q o tratamento da informação nessa altura foi muito escasso - ñ havia meios nem conhecimentos suficientes - o q foi pena! De qq forma deixo-Vos um excerto de uma estória lindissima contada em verso trancrita tal qual como contada:
Que tens soldadinho novo
que tão triste andas na guerra
ou te lembra pai e mãe
ou gente da tua terra

Não me lembra pai ou mãe
nem gente da minha terra
só me lembra uma menina
que é bonita e donzela

se a quiseres ir ver
sete meses te darei
ao fim dos sete meses
soldadinho serve o rei

chegou fora da cidade
seu cavalo se espantou
não te espantes meu cavalo
não te espantes agora aqui
eu vou ver a minha amada
que já tem tempo que não vi

A tua amada sou eu
sou eu que venho agora aqui
se és tu a minha amada
porque não me beijas a mim

Os beijos que te havia de dar
não os tenho agora aqui
já mos comeu a terra
a todo o seculo sem fim

Vou vender o meu cavalo
vou vender-me tambem a mim
para mandar dizer missas
por alma de ti

não vendas o teu cavalo
nem te vendas tambem a ti
quanto mais mandares dizer
mais pena me dás a mim

se algum dia te casares
vai-te casar ao balalim
que lá está uma menina
que se chama como a mim
para quando chamares por ela
te não esqueceres de mim

Se algum dia tiveres filhas
trá-los diante de ti
para que nunca se percam por homens
como eu me perdi por ti

Anónimo disse...

Relativamente aos azulejos são efectivamente da fonte das alminhas. E descobri tb que a 02 de Outubro de 1960, saiu no nº 742 do ano XV, do Jornal do Fundão uma referência a esta fonte como sendo " uma fonte com tradições e que está no coração de todos", tal como os azulejos!!!1