"Não há motivo para preocupações com o tarifário e os direitos dos trabalhadores estão assegurados. A garantia foi dada pelo presidente da Câmara da Covilhã, Carlos Pinto, na Assembleia Municipal de sexta-feira, 4, onde a venda de 49 por cento do capital da empresa municipal Águas da Covilhã (AdC) foi confirmada, com os votos contra do PS, PCP e BE. Bancadas que levantaram muitas preocupações sobre a concretização do negócio.
A oposição está convicta da gestão da empresa “tendo em conta a lógica privada do lucro, sem ter em conta preocupações sociais”. Mas o presidente do município assegura que serão tidos em conta os descontos sociais e que até ao final do mandato a água vai ter aumentos mais baixos que nos últimos anos.
Jorge Fael, do PCP, diz que se está a “entregar o coração da empresa”, a gestão executiva, ao sócio privado. E realça que o consócio AGS/Hidurbe, do grupo Somague, na prática, “tem poder de veto em decisões como os preços da água, investimentos ou nos planos e orçamentos”, na medida em que as decisões são aprovadas por unanimidade.
“A Câmara mantém-se como detentora da vontade da empresa. 51 vale mais que 49. É uma questão matemática”, acentua Carlos Pinto. O autarca chama ainda a atenção para no futuro a autarquia ter “um parceiro com capacidade de gestão e recursos da água que não estão à disposição de municípios ou fundos comunitários, para assegurar a tranquilidade no abastecimento e qualidade da água”.
“Covilhanenses vão pagar caro”
Para o comunista Jorge Fael é grave que “no caso de pressupostos como o número de clientes, tarifário ou consumos não se verificarem, haverá lugar a reposição do equilíbrio económico-financeiro”. “Ou seja, a novos aumentos de preços, ou a maiores injecções de dinheiro público”, contesta. Um aspecto que também inquieta os socialistas.
José Miguel Oliveira, do PS, entende que a operação revela a “ânsia de delapidar o património municipal para obras de carácter eleitoralista”. Para além disso, salienta que “a maioria não dá garantias que o tarifário não vai aumentar”.
A cisão da AdC na empresa ICOVI, que fica detentora das redes, é outro motivo de discórdia. Na opinião dos socialistas, é uma forma de passar os encargos da manutenção para o município, deixando o privado com a parte mais apetecível do negócio. Os comunistas dizem que vai servir para futuros “tachos”, para onde insinuam que membros do executivo poderão transitar no futuro. Carlos Pinto contesta o argumento do PS e esclarece que a ICOVI vai permitir a candidatura a fundos comunitários, por ser totalmente detida pelo município.
Na análise do PCP este pode ser um passo para a Somague “ficar com o monopólio das obras”, já que a AdC “pode subcontratar trabalhadores e obras”. “Depois do noivado, a Câmara quer casar com a Somague, e os covilhanenses pagarão bem caro o copo de água”, acentuam os comunistas, referindo-se ao que está previsto no contrato parassocial, de alargar o âmbito territorial da empresa.
Pedro Leitão, do PS, diz que “49 por cento da água que cai na serra já não é da Covilhã”. “Ainda bem que o oxigénio não é canalizado”, ironiza. O comunista Jorge Fael frisa que “para o senhor Carlos Pinto vender hoje a água, foi preciso que durante 70 anos gerações de covilhanenses não tivessem feito o mesmo”.
(in noticias da covilhã)